terça-feira, 26 de junho de 2012

Criação vs Evolução

Voltando ao tema que me levou a começar este Blog...
Um dos argumentos (comum a criacionistas "clássicos" e adeptos do design inteligente) é a probabilidade insignificante do surgimento aleatório da complexidade da vida. A grande falha deste argumento é o facto verificável de que os processos evolutivos não são de todo aleatórios. Outro dos seus argumentos preferidos é que a terra tem as condições exatas, necessárias ao aparecimento e manutenção da vida como a conhecemos, o que por si só não significa mais do que uma explicação óbvia para o facto da terra ser o único planeta do sistema solar (actualmente) que tem vida. Agarrando-se ás ideologias e concepções de cientistas de outros séculos que argumentavam a favor de uma entidade criadora inteligente (Abraham Cressy Morrison - 1884-195, Isaac Newton - 1643-1727) não têm em conta a discrepancia histórica/temporal que nos separa dessas conjecturas e ideologias. Ainda outra ideia é a de que, ainda que haja provas da evolução e teorias aceites pela ciencia para explicar o aparecimento da vida na terra, não há provas de que tudo isso não foi desencadeado (ou controlado) por um criador inteligente (Deus, dependendo de quem argumenta). Não é necessário que se prove que o criador não existe, mas sim que as pessoas se apercebam de que não há provas da sua existencia e que o criador teria que ser mais complexo do que a criação e do que os processos que desencadeou ou controlou. Por este motivo, seguindo a regra de Ockham (do lógico inglês William de Ockham) - "Se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenómeno, a mais simples é a mais provavel", a explicação mais simples é a que não inclui a existencia de um criador supercomplexo, pois os processos de génese da vida como a conhecemos não variam muito nas várias explicações, atendendo a que o argumento da complexidade irredutivel é completamente refutado até pelo simples senso comum, pois um ser vivo não se "constrói" todo de uma só vez, sendo que os seres vivos que conhecemos tiveram que ser concebido ou evoluir passo a passo, molécula a molécula, célula a célula... A grande diferença é: Selecção natural ou criador supercomplexo?
Ainda sobre o debate Criação vs evolução, aqui deixo um link de um artigo que achei interessante e bastante informativo sobre este tema:
 http://www.biblia-ciencia.com/criacao-vs-evolucao-links.htm
Deixo também o esclarecimento de alguns erros comuns que tenho observado:

1. A igreja não se opõe á teoria da evolução e aceita uma evolução teísta/guiada: estamos perante uma contradição pois segundo a Teoria Sintética da Evolução esta é orientada pela selecção natural relativamente á predominancia de determinados genes no "fundo".

2. A evolução é apenas uma teoria e não um facto: este é um erro muito frequente existe uma Teoria (Sintetica) da Evoluçao e existe também o facto comprovado e observável "evolução".

3. A Biologia ficaria melhor sem a evolução: Na realidade a biologia moderna e pos-moderna nunca poderia existir sem considerar o facto da evolução.

4. A evolução é rejeitada por muitos cientistas, que acreditam no criacionismo: é um dos argumentos mais utilizados pelos proponentes do criacionismo pelo que me tem sido dado a observar, as autoridades cientificas citadas normalmente não viveram além da década de 60 e é do conhecimento geral que na actualidade a Teoria Sintética da Evolução é a mais aceite entre os membros da comunidade cientifica (mesmo entre cientistas que têm alguma crença no sobrenatural ou em alguma religião), embora possam verificar-se algumas excepções á regra - por convicção ou conveniencia? 

5. A bioquimica não apoia a Teoria da Evolução, não sendo conhecidos os seu mecanismos: (ler os posts mais antigos sobre este tema).

6 (e ultimo). Os criacionistas gostam de levar os filhos ao zoo...



Os criacionistas odeiam ser seguidos por macacos...


Esta é a verdadeira evolução do Homo Sapiens criacionista (há o Homo Sapiens sapiens e o Homo Sapiens criacionista...)


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Michael Behe: anti-evolucionista por convicção?

Michael Behe é uma personagem controversa...
Corre pelos meios de comunicação virtuais que este não se apresentou como cristão (ou proponente de qualquer outra relligião), pelo menos publicamente e algumas das suas expressões parecem apoiar esta ideia. Numa entrevista concedida a Michelson Borges, o autor afirma: "Eles também não vêem que há uma distinção entre chegar a uma conclusão simplesmente pela observação do mundo físico, como se espera que um cientista faça, e chegar a uma conclusão baseado na Bíblia ou em convicções religiosas." e ainda "O senhor vislumbra algum tipo de mudança de paradigma no futuro? Quem deverá mudar mais: a igreja ou a ciência? A ciência muda à medida que mudam os dados, embora leve tempo. Acredito que a ciência acabará se voltando ao Design Inteligente, pois é nessa direção que os dados apontam. Ao contrário da ciência, a essência da religião não muda.

Este discurso não se encaixa no perfil dos criacionistas, pelo menos dos criacionistas religiosos, nem isso, nem o facto deste continuar a leccionar assuntos relacionados com a teoria da evolução, apresentando os prós e contras da mesma e nem lhe passa pela cabeça que a mesma deixe de ser leccionada ou passe para 2º plano, pelo menos enquanto não for totalmente refutada. No entanto, na mesma entrevista: " Vários cientistas, como o zoólogo adventista Dr. Ariel Roth, defendem uma integração entre fé e ciência. Como cientista cristão, o senhor acha possível conciliar a visão científica com a religiosa? Acredito que por fim a ciência e a religião convergirão para a mesma verdade, pois só existe uma verdade."

Esta ultima afirmação é uma "frase feita", utilizada por vários Cientistas que se dizem religiosos e por leigos que "defendem uma integração entre fé e ciência". No entanto não se encaixa nas restantes afirmações da entrevista.
Tenho assistido a várias entrevistas e debates nos quais participam membros da comunidade científica que se dizem crentes numa religião (sendo, de um modo geral, cristãos). Já assisti ao uso de argumentos morais, criacionistas ou ambos, sendo os exemplos que melhor ilustram estes ultimos as entrevistas e debates, entre os quais o debate (1 para1) entre Richard Dawkins e Francis collins (um dos responsáveis pelo Projecto genoma Humano), o qual traduz o seu profissionalismo como cientista e a sua fé inabalável no deus cristão na moral cristã e na criação do mundo pelo mesmo, características raras numa personagem tão controversa. Aqui fica o link que mostra (em video) uma entrevista com este cientista: http://www.youtube.com/watch?v=IfbPZd2DXlE. Francis Collins é coerente consigo próprio durante as entrevistas a que assisti relativamente á sua fé religiosa e ao impacto que esta tem nele como profissional, o qual consegue aparentemente gerir. No entanto este nega a fiabilidade científica da teoria do DI.
O autor d' "A caixa preta de Darwin" não é coerente consigo próprio nas entrevistas que concede, inclusivamente, tal como as afirmações acima transcritas  o demonstram.

Quando divulgaram a obra de Michael Behe apresentaram o autor como participante numa espécie de grupo de trabalho de membros da comunidade científica que não concordavam totalmente com a Teoria Sintética da Evolução, dos quais nem todos se afirmavam religiosos. Deste grupo, foi então o bioquímico Michael Behe que se destacou pela sua obra "A caixa preta de Darwin".

A Igreja  Católica é uma instituição religiosa muito rica e poderosa. Atrevo-me a dizer que é talvez a instituição religiosa mais abastada e que mais influências tem na sociedade em geral e nos países. desenvolvidos. Há apenas um senão na regalada existência da Igreja católica: a perda iminente de adeptos (a nível internacional). A motivação para que uma ideologia tenha aderentes é actualmente baseada em algo que siga uma lógica, pois as ameaças "tens que acreditar em deus e na Bíblia se não vais para o inferno" já não resulta nem com uma criança de 7 anos. O fiasco do "Julgamento da criação" em Dover reflete o estado de credibilidade das ideologias da religião cristã.

As afirmações que se seguem não têm fundamentos conclusivos nem têm o objectivo de difamar qualquer instituição; têm apenas por base as minhas opiniões e conjecturas acerca dos factos relatados neste post.

A Igreja católica necessita de alguem que seja científicamente credivel e predisposto para a contestação dos factos e teorias científicas existentes. Então, reune um grupo de cientistas (nem todos cristãos) num local relativamente isolado, entre eles Michael Behe. Algum tempo depois é publicado o livro "A caixa preta de Darwin". Esta é a minha reconstituição resumida dos factos, a qual também inclui que a igreja católica não só reuniu pessoas que poderia usar para divulgar a ideologia criacionista num meio "mais científico", mas também teve muita influencia nas hipóteses defendidas / elaboradas pelo autor da obra que se opõe á Teoria Sintética da Evolução, enquanto instituição de poder socio-económico e político.

Nota: A Entrevista mencionada no início do post foi originalmente publicada na obra "Por que creio" de  Michelson Borges.

Richard Dawkins: O gene egoista e As evidencias da Evolução

No verão de 2011 (mesmo antes de iniciar o ano académico) comecei a ler a obra de Richard Dawkins "O gene egoista" e de seguida "O maior espectáculo da Terra - As evidencias da Evolução", que terminei já na faculdade. Para mim que ainda sou estudante do ensino superior é uma obra de cariz científico mas acessível á compreensão geral, (como era objectivo do autor quando a redigiu). A tese central de todo o argumento é a de que o gene (e não a espécie ou mesmo o individuo) é a unidade básica da da selecção natural, tendo esta como base a selecção de genes a partir de determinado fundo genético de acordo com as capacidades que proporcionam aos organismos em que se encontram. Ao longo do texto, Dawkins explica alguns comportamentos aparentemente altruistas de certos individuos (animais e humanos) de acordo com esta tese e apresentando argumentos válidos apoiados por uma breve e simnples análise estatística de certas situações, como por exemplo no caso de um grupo de leões, estes caçam uns para os outros (as femeas caçam umas para as outras e para os machos), correndo alguns riscos, no entanto, ao avaliar a probabilidade de partilha de genes entre individuos, é verificável que entre si têm uma probabilidade de partilhar genes superior á probabilidade entre primos e inferior á probabilidade entre irmãos, sendo então vantajoso para os genes (e não para o individuo) correr alguns riscos para o bem da comunidade. Dawkins vê-nos como máquinas génicas, mas no entanto admite que (devido á nossa complexidade de pensamento) temos livre arbitrio e não são apenas, mas maioritáriamente, os genes que contam. Concordo com esta ideia apenas até certo ponto, pois são os genes que nos fazem aptos a usar esse pensamento, esse livre arbítrio, sendo este um factor preponderante na evolução e no nosso dia a dia. Sendo que depende dos genes, mais uma vez são estes que fazem as nossas características psicológicas e comportamentais porque "ditam" o modo como reagimos a estimulos exteriores e como este nos pode modificar.
Na 2ª obra que li o autor explica as bases dos argumentos da Teoria Sintética da Evolução que muitos de nós aprendemos no ensino secundário, relatando, inclusivamente experiecias (bem sucedidas) que visavam apoiar experimentalmente, com factos observaveis em laboratório, esta teoria que está a um passo de se tornar um facto cintífico. Foi realizada uma experiencia utilizando uma cultura bacteriana que foi evoluindo gradualmente, á medida que ia sendo submetidaa a alterações do meio (divergentes), pdendo no final distinguir-se grupos com características diferentes que podiam não ser já consideradas da mesma especie. Este é um dos momentos mais importantes desta obra, pois uma das  principais críticas á Teoria Sintética da Evolução é o "facto" de não se poder verificar/observar a evolução inter-especifica, quanto muito e apenas a evolução intra-especifica. Ler (por completo) estas 2 obras elucidou-me (ainda mais) sobre este assunto. Ambas são de leitura recomendável, mesmo a leigos.