segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Rótulos

Não gosto de rótulos, sobretudo se estes nada significam por não fazerem sentido. E, para mim pessoalmente, rotular uma criança é das piores coisas que podem ser feitas. E é tão errado rotular uma criança de burra porque tirou negativa num trabalho como rotular uma criança de cristã porque os pais ou alguém próximo – como uma madrinha ou padrinho são cristãos e levam a criança á igreja. Não faz sentido. Eu acho que pode ser até prejudicial para o desenvolvimento da identidade social da criança, reflectindo-se no futuro. Enquanto pré-adolescente, por exemplo, a criança pode sentir que não pode mudar de ideias (ex.: não pode entrar num templo budista nem explorar o budismo ou qualquer outra religião, nem identificar-se com mais nenhuma) porque é um menino ou uma menina cristã. Situações semelhantes e que podem ter consequências semelhantes é rotular uma criança como adepta de um certo clube desportivo, ou de um certo partido político só porque o pai é (e isto eu já observei várias vezes).
Muitas vezes nem já adolescentes as pessoas se conseguem libertar desses rótulos que lhes colam quando são crianças. Isso aconteceu com um colega meu quando eu ainda estava no secundário. Ele nem sabia no que acreditar, mas não conseguia largar o rótulo de “católico”, por isso acrescentou mais duas palavras ao rótulo e ficou “católico não praticante”. Isso é horrível.
É por estas coisas que detesto quando leio coisas destas: «A década de 1990, para uma criança brasileira, evangélica, de criação pentecostal e pais cristãos era bem diferente dessa década de 2000-2011 retirando-se as variáveis anteriores.» (1) Uma criança (de 7, 8, 9 ou mesmo 10 anos) não percebe o suficiente para adoptar uma religião conscientemente. Dizer que uma criança é cristã evangélica ou católica ou muçulmana não faz sentido. Uma criança vai à igreja porque os adultos (pai, mãe, madrinha ou outros) querem que elas vão. Muitas vezes as crianças nem querem ir e vão na mesma. Por exemplo: a minha madrinha convenceu a minha mãe a baptizar-me e a levar-me durante algum tempo (pouco) à catequese. Será que eu com 7 e 8 anos adoptei a religião católica conscientemente? É claro que não. Aliás, eu era mais convicta até na existência do Pai Natal (e nessa altura já nem era muito) do que na existência de deus, ou pelo menos daquilo que eu entendia por deus nessa altura (algo como um homem no céu que ouvia – ou era suposto ouvir orações). Para ser franca, nem sequer pensava nisso praticamente (como a maioria das crianças não pensa).
Ainda como exemplo: o meu primo de 10 anos vai á mesquita e ao equivalente á catequese católica (mas para filhos de muçulmanos) porque o pai é muçulmano (pelo menos em termos culturais, se não em termos de crenças) e quer que ele vá – e não porque é um crente fervoroso em Alá e Maomé nem por ter feito a escolha consciente de seguir aquela religião.


É feio rotular crianças. A sério. 

Ref.:

2 comentários:

  1. Maria,

    É o Daniel. Do Considere a Possibilidade.

    Você tem razão. Eu revisei o texto, com base nessa reflexão sua. E posso dizer que você me convenceu desse aspecto. De fato, pensando no que escrevi, até comecei a relembrar da minha infância e posso dizer, com certeza: Eu não havia ainda escolhido em que acreditar, nem tinha como, pois não tinha nem conhecimento e nem reflexão suficientes para tomar a decisão de professar um credo religioso.

    O novo texto ficou assim:

    "A década de 1990, para uma criança brasileira, que frequentava uma igreja evangélica, de doutrina pentecostal e pais cristãos era bem diferente dessa década de 2000-2011 retirando-se as variáveis anteriores."

    Ou seja, essas eram as condições a que eu estava exposto, embora ainda não pudesse definir qualquer delas (exceto a fé de meus pais e minha nacionalidade), com base em reflexão e conversão.

    Foi interessante ler a experiência do seu colega, pois me identifiquei com o seguinte: uma hora, já adulto, percebi que eu não era mais cristão ou pentecostal. Foi um dilema, que acabou levando à minha conversão de fato. Para um cristão de fé reformada.

    Concordo com você: é feio rotular crianças. E concordo mesmo.

    Abraço,

    Daniel.

    Ps: Colei esse meu comentário no meu blog também.

    ResponderEliminar