terça-feira, 17 de setembro de 2013

Testando (quantitativamente) previsões evolutivas


HOMOLOGIA E CONVERGÊNCIA REVERSA

Em Agosto deste ano (2013) foi publicado na revista “ Plos One” um estudo em que se testava mais uma previsão da teoria da evolução.

Na introdução lê-se o seguinte: «No caso da evolução, uma forte previsão da  "descendência com modificação" é que, à medida que avançamos mais e mais para trás no tempo, as sequências de uma determinada proteína devem tornar-se cada vez mais semelhantes - chamamos isso convergência ancestral ou convergência reversa. A previsão da teoria da evolução é que sequências de DNA ou proteínas que realizam as mesmas funções básicas em diferentes organismos são geralmente herdados de um ancestral comum - neste sentido, eles são verdadeiramente proteínas homólogas (ou ortólogas). Temos de ser capazes de medir essa convergência e testá-la quantitativamente. Na prática, embora a informação venha principalmente a partir de sequências de DNA, podemos convertê-las em sequências de proteínas para os testes. Como veremos mais tarde, de momento não podemos ainda encontrar qualquer outra hipótese que conduz inevitavelmente á mesma previsão sem um aumento explosivo no número de parâmetros.» Sobre o método científico, os autores continuam: «É básico para a ciência que nunca testámos todas as hipóteses possíveis e, consequentemente, nunca obtemos o conhecimento supremo e absoluto sobre qualquer aspecto do universo. No entanto, o método científico fornece a melhor forma de conhecimento que os seres humanos podem atingir, e assegura que usamos aquilo que foi mais exaustivamente testado (…)»

O que me parece é que isto é mais uma abordagem para testar quantitativamente se certas proteínas são homólogas (no sentido de partilharem um ancestral comum).

Mais ainda: «Como controlo, mostramos que as proteínas não relacionadas não mostram convergência. ... Isso claramente não "prova" que os modelos ainda desconhecidas são impossíveis, mas a teoria da evolução leva a previsões extremamente fortes, e por isso a responsabilidade recai agora sobre os outros para propor alternativas testáveis​​.» (1)

Agora quem não concorda vai ter que deitar mãos á obra e propor algo de concreto, que faça previsões testáveis, tal como os cientistas já propuseram: propuseram que podemos relacionar espécies em termos de ancestralidade comum, recorrendo ao DNA (genes homólogos – mais propriamente ortólogos). E de facto podemos. Existem proteínas verdadeiramente homólogas. E até podemos testar isso quantitativamente. Quanto ao mecanismo proposto, que se tem mostrado bastante bom para explicar as observações, esse só precisa que haja replicação/reprodução e interacção dos organismos de uma população com o ambiente e uns com os outros.

Os criacionistas do Discovery Institute já começaram a queixar-se. E de que é que eles se queixam? Do tom desrespeitoso dos autores do artigo (2). Um link para o artigo encontra-se nas referências, para que possam ler e confirmar que isso é mania da perseguição do criacionista que fez tal afirmação. Mas a verdade é que os criacionistas estão-se nas tintas para isso. Como não conseguem criticar em termos técnicos o artigo, têm que inventar alguma coisa para dizer. É o costume: mesmo quando não sabem o suficiente para comentar, têm sempre que ter a última palavra. Isso é bom para quem está na oposição, pois assim eles espalham-se á frente de toda a gente. Coitados.

Refs.:


  1. White WTJ, Zhong B, Penny D (2013) “Beyond Reasonable Doubt: Evolution from DNA Sequences.” PLoS ONE 8(8): e69924. doi:10.1371/journal.pone.0069924 (disponível aqui: http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0069924)
  2. Science with a Sneer: A New Model for Scientific Papers?” (via «The Sensuous Curmudgeon»)

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