HOMOLOGIA E CONVERGÊNCIA REVERSA
Em Agosto deste ano (2013) foi publicado na revista “ Plos
One” um estudo em que se testava mais uma previsão da teoria da evolução.
Na introdução lê-se o seguinte: «No caso da evolução, uma
forte previsão da "descendência com
modificação" é que, à medida que avançamos mais e mais para trás no tempo,
as sequências de uma determinada proteína devem tornar-se cada vez mais
semelhantes - chamamos isso convergência ancestral ou convergência reversa. A
previsão da teoria da evolução é que sequências de DNA ou proteínas que
realizam as mesmas funções básicas em diferentes organismos são geralmente
herdados de um ancestral comum - neste sentido, eles são verdadeiramente
proteínas homólogas (ou ortólogas). Temos de ser capazes de medir essa
convergência e testá-la quantitativamente. Na prática, embora a informação
venha principalmente a partir de sequências de DNA, podemos convertê-las em
sequências de proteínas para os testes. Como veremos mais tarde, de momento não
podemos ainda encontrar qualquer outra hipótese que conduz inevitavelmente á
mesma previsão sem um aumento explosivo no número de parâmetros.» Sobre o
método científico, os autores continuam: «É básico para a ciência que nunca
testámos todas as hipóteses possíveis e, consequentemente, nunca obtemos o
conhecimento supremo e absoluto sobre qualquer aspecto do universo. No entanto,
o método científico fornece a melhor forma de conhecimento que os seres humanos
podem atingir, e assegura que usamos aquilo que foi mais exaustivamente testado
(…)»
O que me parece é que isto é mais uma abordagem para testar
quantitativamente se certas proteínas são homólogas (no sentido de partilharem
um ancestral comum).
Mais ainda: «Como controlo, mostramos que as proteínas não
relacionadas não mostram convergência. ... Isso claramente não "prova"
que os modelos ainda desconhecidas são impossíveis, mas a teoria da evolução
leva a previsões extremamente fortes, e por isso a responsabilidade recai agora
sobre os outros para propor alternativas testáveis.» (1)
Agora quem não concorda vai ter que deitar mãos á obra e propor
algo de concreto, que faça previsões testáveis, tal como os cientistas já
propuseram: propuseram que podemos relacionar espécies em termos de
ancestralidade comum, recorrendo ao DNA (genes homólogos – mais propriamente
ortólogos). E de facto podemos. Existem proteínas verdadeiramente homólogas. E até
podemos testar isso quantitativamente. Quanto ao mecanismo proposto, que se tem
mostrado bastante bom para explicar as observações, esse só precisa que haja
replicação/reprodução e interacção dos organismos de uma população com o
ambiente e uns com os outros.
Os criacionistas do Discovery Institute já começaram a
queixar-se. E de que é que eles se queixam? Do tom desrespeitoso dos autores do
artigo (2). Um link para o artigo encontra-se nas referências, para que possam
ler e confirmar que isso é mania da perseguição do criacionista que fez tal
afirmação. Mas a verdade é que os criacionistas estão-se nas tintas para isso.
Como não conseguem criticar em termos técnicos o artigo, têm que inventar
alguma coisa para dizer. É o costume: mesmo quando não sabem o suficiente para
comentar, têm sempre que ter a última palavra. Isso é bom para quem está na
oposição, pois assim eles espalham-se á frente de toda a gente. Coitados.
Refs.:
- White WTJ, Zhong B, Penny D (2013) “Beyond Reasonable Doubt: Evolution from DNA Sequences.” PLoS ONE 8(8): e69924. doi:10.1371/journal.pone.0069924 (disponível aqui: http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0069924)
- “Science with a Sneer: A New
Model for Scientific Papers?” (via «The Sensuous Curmudgeon»)
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