segunda-feira, 18 de junho de 2012

Michael Behe: anti-evolucionista por convicção?

Michael Behe é uma personagem controversa...
Corre pelos meios de comunicação virtuais que este não se apresentou como cristão (ou proponente de qualquer outra relligião), pelo menos publicamente e algumas das suas expressões parecem apoiar esta ideia. Numa entrevista concedida a Michelson Borges, o autor afirma: "Eles também não vêem que há uma distinção entre chegar a uma conclusão simplesmente pela observação do mundo físico, como se espera que um cientista faça, e chegar a uma conclusão baseado na Bíblia ou em convicções religiosas." e ainda "O senhor vislumbra algum tipo de mudança de paradigma no futuro? Quem deverá mudar mais: a igreja ou a ciência? A ciência muda à medida que mudam os dados, embora leve tempo. Acredito que a ciência acabará se voltando ao Design Inteligente, pois é nessa direção que os dados apontam. Ao contrário da ciência, a essência da religião não muda.

Este discurso não se encaixa no perfil dos criacionistas, pelo menos dos criacionistas religiosos, nem isso, nem o facto deste continuar a leccionar assuntos relacionados com a teoria da evolução, apresentando os prós e contras da mesma e nem lhe passa pela cabeça que a mesma deixe de ser leccionada ou passe para 2º plano, pelo menos enquanto não for totalmente refutada. No entanto, na mesma entrevista: " Vários cientistas, como o zoólogo adventista Dr. Ariel Roth, defendem uma integração entre fé e ciência. Como cientista cristão, o senhor acha possível conciliar a visão científica com a religiosa? Acredito que por fim a ciência e a religião convergirão para a mesma verdade, pois só existe uma verdade."

Esta ultima afirmação é uma "frase feita", utilizada por vários Cientistas que se dizem religiosos e por leigos que "defendem uma integração entre fé e ciência". No entanto não se encaixa nas restantes afirmações da entrevista.
Tenho assistido a várias entrevistas e debates nos quais participam membros da comunidade científica que se dizem crentes numa religião (sendo, de um modo geral, cristãos). Já assisti ao uso de argumentos morais, criacionistas ou ambos, sendo os exemplos que melhor ilustram estes ultimos as entrevistas e debates, entre os quais o debate (1 para1) entre Richard Dawkins e Francis collins (um dos responsáveis pelo Projecto genoma Humano), o qual traduz o seu profissionalismo como cientista e a sua fé inabalável no deus cristão na moral cristã e na criação do mundo pelo mesmo, características raras numa personagem tão controversa. Aqui fica o link que mostra (em video) uma entrevista com este cientista: http://www.youtube.com/watch?v=IfbPZd2DXlE. Francis Collins é coerente consigo próprio durante as entrevistas a que assisti relativamente á sua fé religiosa e ao impacto que esta tem nele como profissional, o qual consegue aparentemente gerir. No entanto este nega a fiabilidade científica da teoria do DI.
O autor d' "A caixa preta de Darwin" não é coerente consigo próprio nas entrevistas que concede, inclusivamente, tal como as afirmações acima transcritas  o demonstram.

Quando divulgaram a obra de Michael Behe apresentaram o autor como participante numa espécie de grupo de trabalho de membros da comunidade científica que não concordavam totalmente com a Teoria Sintética da Evolução, dos quais nem todos se afirmavam religiosos. Deste grupo, foi então o bioquímico Michael Behe que se destacou pela sua obra "A caixa preta de Darwin".

A Igreja  Católica é uma instituição religiosa muito rica e poderosa. Atrevo-me a dizer que é talvez a instituição religiosa mais abastada e que mais influências tem na sociedade em geral e nos países. desenvolvidos. Há apenas um senão na regalada existência da Igreja católica: a perda iminente de adeptos (a nível internacional). A motivação para que uma ideologia tenha aderentes é actualmente baseada em algo que siga uma lógica, pois as ameaças "tens que acreditar em deus e na Bíblia se não vais para o inferno" já não resulta nem com uma criança de 7 anos. O fiasco do "Julgamento da criação" em Dover reflete o estado de credibilidade das ideologias da religião cristã.

As afirmações que se seguem não têm fundamentos conclusivos nem têm o objectivo de difamar qualquer instituição; têm apenas por base as minhas opiniões e conjecturas acerca dos factos relatados neste post.

A Igreja católica necessita de alguem que seja científicamente credivel e predisposto para a contestação dos factos e teorias científicas existentes. Então, reune um grupo de cientistas (nem todos cristãos) num local relativamente isolado, entre eles Michael Behe. Algum tempo depois é publicado o livro "A caixa preta de Darwin". Esta é a minha reconstituição resumida dos factos, a qual também inclui que a igreja católica não só reuniu pessoas que poderia usar para divulgar a ideologia criacionista num meio "mais científico", mas também teve muita influencia nas hipóteses defendidas / elaboradas pelo autor da obra que se opõe á Teoria Sintética da Evolução, enquanto instituição de poder socio-económico e político.

Nota: A Entrevista mencionada no início do post foi originalmente publicada na obra "Por que creio" de  Michelson Borges.

2 comentários:

  1. Olá Maria Madalena,
    Verifiquei seu comentário no meu blog "anjobarro" e resolvi entrar no seu blog para ler um pouco, pois é um tema que me atrai bastante o diálogo entre a ciência e a fé. Quando puder tentarei ler mais pois o tempo é algo que escapa por entre nossos dedos com tantas atividades diárias...

    Não tenho conhecimento tão profundo de todas as teorias científicas citadas em seu blog, mas o que tento verificar é a possibilidade de diálogo (e não unificação) entre ciência e fé.

    Realmente, a fé se baseia em fundamentos muitas vezes não comprováveis, pois quando passam a ser comprováveis cientificamente deixam de ser um tema de fé, já que fé é crer em algo que não vemos (ou que são sensíveis experimentalmente). Mas ao deixar de ser um tema de fé, podem passar a ser suporte para a mesma ou uma busca para uma nova síntese.

    Embora a fé tenha algumas bases imutáveis, a sua compreensão evolui sim e muitas vezes graças às ciências. Prova disso é que hoje questionar a literalidade da palavra do Gênesis sobre a criação não é uma blasfêmia - pelo contrário, é quase consenso, inclusive em documentos oficiais da Igreja.

    Porém, também concordo que uma crença não tem o mesmo valor para a ciência que um fato experimentalmente comprovado. Entretanto, como fazem a eterna busca do homem pela verdade, tanto fé como ciência a buscam por formas diferentes.

    Em suma, afirmo que a ciência jamais conseguirá comprovar a existência de um criador por métodos puramente científicos e isso não é uma falha, já que não faz parte de seu objetivo. Da mesma forma jamais conseguirá comprovar a sua inexistência.
    Por outro lado, a fé também não tem como discordar de algo que seja comprovado cientificamente por meios sérios pois essa também "não é sua praia". Pode apenas questionar moralmente a aplicação das descobertas.

    Bom, acho que acabei falando de coisas óbvias, mas achei interessante colocar o porquê de meu interesse pelo tema.

    Um abraço!
    Antônio José
    http:\\anjobarro.blogspot.com

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    1. tem razão quando diz que falou de coisas óbvias, sem no entanto deixarem de ser interessantes.
      Concordo com a legitimidade da "fé" de questionar as descobertas cientificas a nivel moral e ético, no entanto nem todos pensam assim... ainda hoje há quem interprete o genesis literalmente e fala-se mesmo em ensinar o criacionismo como teoria cientifica nas escolas publicas de portugal e E.U.A....

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