quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O blog vai continuar... mas noutro blog.

O "Corvo" fez uma sugestão: mudar o modelo do blog para que as letras fiquem em preto com fundo branco. Mas se eu mudar o modelo, este tem que ser aplicado ao blog todo e isso implicaria ter que alterar a formatação de vários textos, pelo que não é possível. No entanto tive uma ideia: passar a escrever noutro blog (com outro modelo), mas dando continuação a este. 

O blog a partir de agora vai funcionar neste endereço: http://allthatmattersmaddy32b.blogspot.pt/ (a única diferença no endereço é um "b" após o título (que é o mesmo).

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Etologia

A etologia é o ramo da zoologia que se ocupa do estudo do comportamento animal em condições naturais de um modo geral e em especial do estudo deste á luz da teoria da evolução e o pai da etologia foi Charles Darwin.
Para terem um exemplo do que é estudado em etologia, podem ler o gene egoísta de Richard Dawkins. Dawkins dá vários exemplos de comportamentos vantajosos quando animais vivem em grupo, tal como acontece nos humanos. Um dos que eu mais gostei foi o que abordava a questão de fazermos favores uns aos outros á luz das vantagens evolutivas que isso pode trazer: é que esses favores podem sempre ser recompensados no futuro.

Estou a falar neste assunto porque vai haver um congresso de etologia em Lisboa no Centro Champalimaud nos dias 24 e 25 de Outubro. Eu já me inscrevi (preciso para os créditos de opção) e quem quiser ir ainda se pode inscrever aqui: www.spe2013congresso.com (depois escrevo qualquer coisa sobre o assunto).

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Tretas dos cristãos (parte II)

Vejamos qual é o melhor argumento que os cristãos têm para a ressurreição e como ele é destruído facilmente.



O William Lane Craig acha que a melhor explicação para uma série de factos, como o túmulo encontrado vazio, as “aparições” de Jesus e as dimensões do movimento cristão na época é que alguém ressuscitou, tendo estado morto durante os 2 ou 3 dias anteriores (e se foi crucificado estava bem morto). Fantástico. E depois os cristãos admiram-se de serem gozados (eu acho que até os judeus gozam com eles). Acho que o Craig andou a ver muitos filmes de mortos-vivos. Também gosto de filmes de mortos-vivos, mas tenho a noção de que essas coisas não são reais.
Alguém roubar um corpo, pessoas terem problemas psiquiátricos e a propaganda cristã dar resultado é menos razoável do que o morto ressuscitar para o William Lane Craig. Eu acho que quem precisa de um psiquiatra é o Craig. Urgentemente. Antes que seja tarde.

Reparem que todas as alternativas à ressurreição são mais plausíveis do que esta hipótese porque acontecem regularmente ao longo da nossa vida: alguém vandaliza um cemitério, alguém tem alucinações, alguém compra alguma coisa só porque a propaganda ao produto deu resultado. É claro que há ainda mais uma alternativa: isto é um conto em que se adaptaram mitos mais antigos (o que também não é nada de invulgar).  

domingo, 29 de setembro de 2013

A fuga desesperada do criacionista Francisco Tourinho

Quem acompanha este blog deve lembrar-se da confusão que um certo criacionista - o tal Francisco Tourinho fez relativamente ás características do genoma humano (ver Confusão sobre o genoma humano).
Eu tentei corrigi-lo sobre o assunto e mais tarde chegou à discussão um dos leitores deste blog (que assina "Corvo"). Acho que o criacionista não gostou muito da aula de genética que eu lhe dei ou talvez se tenha apercebido que tínhamos razão ou então não conseguiu responder à letra ao que lhe foi dito. Eu digo isto porque este fugiu a sete pés, acabando com o blog. Acho que teve vergonha. É pena eu não ter guardado a conversa toda para colocar aqui no blog. E pelo que tenho lido sobre discussões com criacionistas na internet, estes tendem a apagá-las quando é demasiado vergonhoso para eles.  


sábado, 28 de setembro de 2013

Como debater evolução com um criacionista

O Dr. Michael Shermer fez um óptimo trabalho no debate em 2004 (Universidade da Califórnia – Irvine) com o criacionista da Terra jovem Kent Hovind. Com humor negro, factos e uma certa dose de condescendência, este conseguiu passar um bom bocado enquanto os criacionistas enfiavam os dedos nos ouvidos.
O Dr. Shermer, por exemplo, apontou para o facto de a baleia nadar com barbatanas semelhantes aos membros dos mamíferos e não ás dos peixes, o que é consistente com a evolução e não com a noção de criacionismo progressivo, ou mesmo qualquer outro tipo de criacionismo, a menos que deus fizesse as baleias e os golfinhos assim para testar a fé dos humanos ao enganá-los – o que significa que os criacionistas teriam que fugir com o rabiosque á seringa e ficariam desacreditados, pois se uma hipótese precisa que a defendam dos testes dessa maneira para não ser falseada é porque deve ser desprezada, não servindo para nada. Na realidade esse facto acerca das barbatanas das baleias e dos golfinhos apoia a hipótese evolutiva, pois faz sentido que a evolução “trabalhasse” com aquilo que já lá está, isto é, com os membros dos mamíferos ancestrais através das mutações que iriam modificá-lo, mas não substitui-lo por uma barbatana de peixe.
O papel do criacionista Kent Hovind no debate foi insultar o seu oponente e todos os cientistas que citava. É nisso que os criacionistas são bons – nisso e em serem desonestos, mas não em ciência. E já agora: por uma estrutura qualquer ter alguma função para os indivíduos da espécie em questão, não significa que não possa servir de evidência para a evolução.
Acho que ambos os participantes estão de parabéns: um pela melhor explicação e o outro pelos melhores insultos.

Aqui fica o vídeo: 



sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Lixo genético e deus no lixo

Lembro-me de ter esclarecido a diferença entre “Junk DNA”, ou seja, DNA lixo e “Garbage DNA”. O primeiro é alguma coisa que não é necessária, embora vá sendo guardada. Tal como o DNA lixo, deus também não é necessário para explicar nada. O que tornou deus desnecessário foi uma combinação explosiva de química, biologia e física: a teoria da evolução e a percepção de que a vida pode muito bem ter surgido naturalmente em conjunto com as teorias e descobertas recentes da física quântica, como a teoria das cordas com as suas previsões e a descoberta de que o espaço vazio está cheio de partículas virtuais. Isto não demonstra que deus não existe, pois há sempre a possibilidade de ele nos enganar para pensarmos que o universo veio do nada e que a teoria da evolução corresponde à realidade de modo a testar a fé dos humanos, visto as pessoas religiosas poderem inventar tudo e mais alguma coisa para fugirem aos testes da ciência. Isto simplesmente torna-o desnecessário como explicação para as nossas origens.
O problema para a hipótese de deus é que em ciência não guardamos lixo, mesmo que este não cheire mal. Deitamos fora.
Uma possível resposta seria que deus é necessário como explicação para a inspiração humana, para os relatos da ressurreição, a qual teria ocorrido na realidade, etc. Mas a primeira sabemos que vem das reacções químicas do nosso cérebro e a segunda muito provavelmente não ocorreu e foi baseada noutros mitos mais antigos.
Além de tudo isto, já devia estar no lixo logo na primeira fuga aos testes.

O lugar do lixo é no lixo. Obrigada. 



terça-feira, 24 de setembro de 2013

Duplicação de genes, transferência horizontal e evolução experimental

Em 2010, Michael Behe elaborou um artigo de revisão entitulado «Experimental evolution, loss-of-function mutations, and “the first rule of adaptive evolution”» (1) Acho que desta vez o Michael Behe fez um bom trabalho e mereceu a publicação do artigo e as observações positivas de um dos autores a quem este fez uma revisão do trabalho publicado. Jim Bull é autor de uma data de estudos no campo da evolução experimental. Este escreveu um comentário (*) sobre a revisão de Michael Behe, pois este tinha incluído material da sua autoria. O Dr. Bull achou também que Behe se portou bem desta vez, mas acrescenta que não seria de esperar a evolução de mais novidades do modo como os estudos eram realizados. Por exemplo, sabemos que trocas de genes entre várias espécies de bactérias são uma óptima maneira para o genoma adquirir novos genes e funções (por exemplo, multi-resistência aos antibióticos), sendo que um dos melhores meios para isso são os bacteriófagos (vírus que atacam bactérias), no entanto não houve oportunidade para isso durante as experiências que foram realizadas.
O Dr. Bull focou que um dos seus estudos no campo da evolução experimental apoia a hipótese de que uma duplicação genética pode dar origem a 2 genes diferentes devido a mutações, embora as condições que favorecem a manutenção de duas cópias submetidas a divergência evolutiva sejam delicadas. Um dos genes mantém normalmente a sua função original e o outro transforma-se num novo gene.
É claro que o campo da evolução experimental e molecular precisa de ser desenvolvido, e o artigo de revisão do Michael Behe veio alertar para isso mesmo.



Ref.:


1. «Experimental evolution, loss-of-function mutations, and “the first rule of adaptive evolution”», M. J. Behe, The Quarterly Review of Biology, December 2010, Vol. 85, No. 4 (disponível aqui: http://www.lehigh.edu/~inbios/pdf/Behe/QRB_paper.pdf)

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Rótulos

Não gosto de rótulos, sobretudo se estes nada significam por não fazerem sentido. E, para mim pessoalmente, rotular uma criança é das piores coisas que podem ser feitas. E é tão errado rotular uma criança de burra porque tirou negativa num trabalho como rotular uma criança de cristã porque os pais ou alguém próximo – como uma madrinha ou padrinho são cristãos e levam a criança á igreja. Não faz sentido. Eu acho que pode ser até prejudicial para o desenvolvimento da identidade social da criança, reflectindo-se no futuro. Enquanto pré-adolescente, por exemplo, a criança pode sentir que não pode mudar de ideias (ex.: não pode entrar num templo budista nem explorar o budismo ou qualquer outra religião, nem identificar-se com mais nenhuma) porque é um menino ou uma menina cristã. Situações semelhantes e que podem ter consequências semelhantes é rotular uma criança como adepta de um certo clube desportivo, ou de um certo partido político só porque o pai é (e isto eu já observei várias vezes).
Muitas vezes nem já adolescentes as pessoas se conseguem libertar desses rótulos que lhes colam quando são crianças. Isso aconteceu com um colega meu quando eu ainda estava no secundário. Ele nem sabia no que acreditar, mas não conseguia largar o rótulo de “católico”, por isso acrescentou mais duas palavras ao rótulo e ficou “católico não praticante”. Isso é horrível.
É por estas coisas que detesto quando leio coisas destas: «A década de 1990, para uma criança brasileira, evangélica, de criação pentecostal e pais cristãos era bem diferente dessa década de 2000-2011 retirando-se as variáveis anteriores.» (1) Uma criança (de 7, 8, 9 ou mesmo 10 anos) não percebe o suficiente para adoptar uma religião conscientemente. Dizer que uma criança é cristã evangélica ou católica ou muçulmana não faz sentido. Uma criança vai à igreja porque os adultos (pai, mãe, madrinha ou outros) querem que elas vão. Muitas vezes as crianças nem querem ir e vão na mesma. Por exemplo: a minha madrinha convenceu a minha mãe a baptizar-me e a levar-me durante algum tempo (pouco) à catequese. Será que eu com 7 e 8 anos adoptei a religião católica conscientemente? É claro que não. Aliás, eu era mais convicta até na existência do Pai Natal (e nessa altura já nem era muito) do que na existência de deus, ou pelo menos daquilo que eu entendia por deus nessa altura (algo como um homem no céu que ouvia – ou era suposto ouvir orações). Para ser franca, nem sequer pensava nisso praticamente (como a maioria das crianças não pensa).
Ainda como exemplo: o meu primo de 10 anos vai á mesquita e ao equivalente á catequese católica (mas para filhos de muçulmanos) porque o pai é muçulmano (pelo menos em termos culturais, se não em termos de crenças) e quer que ele vá – e não porque é um crente fervoroso em Alá e Maomé nem por ter feito a escolha consciente de seguir aquela religião.


É feio rotular crianças. A sério. 

Ref.:

William Lane Craig: Um tiro no pé

Querem ver um tiro certeiro no pé? Leiam o que aconteceu ao filósofo cristão William Lane Craig (1). Ao tentar desesperadamente salvar o argumento cosmológico de Kalam, o William Lane Craig dá um tiro no próprio pé (deve ter doído!), pois destrói o completamente o cenário que montou relativamente à necessidade da existência de uma causa sobrenatural (deus), pois a causa do universo, se de facto (como ele defende) existiu uma, pode ser uma causa natural do mesmo tipo que ele sugere que são as causas dos eventos quânticos que, pelo menos aparentemente, não têm causa - uma causa que não é pré-determinada, que aumenta a probabilidade do acontecimento e que pode muito bem ser uma causa natural, como em todos os casos que temos observado até hoje. É o próprio Craig que chama a atenção para isto na sua ânsia de salvar o estúpido argumento cosmológico.
Não me parece que existam evidências daquilo que o Craig sugere, mas de qualquer modo é um tiro no pé. E, de qualquer modo, a segunda premissa é falsa, pelos motivos anteriormente referidos (noutro texto sobre o argumento cosmológico).



Ref.:

1. «William Lane Craig - Why the Kalam Cosmological argument fails» (RationalWiki) 

domingo, 22 de setembro de 2013

Para os criacionistas não há limite de estupidez

Descobri mais um argumento criacionista muuuito estúpido. Tipicamente, o criacionista acredita que a evolução teve o objectivo de produzir algo como uma obra completa de Shakespeare e ignora completamente a selecção natural e o número de tentativas (simultâneas) ao construir um estúpido argumento de cariz probabilístico, que era exactamente isto: «(...) if evolution were true, then we are to believe a whole series of complex sequences managed to get everything right – repeatedly. To use a clichéd example: It would be like a monkey typing at random and coming out with the complete works of Shakespeare without any errors.» (1).

Ref.:

1. "EXPLAINING 'DARWIN'S DOUBT", Jerry Newcombe, 07/23/2013 (disponível aqui: http://www.wnd.com/2013/07/explaining-darwins-doubt/)

Nota: Para quem quiser rir-se um pouco, aqui fica um texto que fala desse estúpido argumento e de outras parvoíces do mesmo criacionista: "WND Offers Supremely Dumb Creationist Argument" (http://freethoughtblogs.com/dispatches/2013/07/26/wnd-offers-supremely-dumb-creatinist-argument/)

«Encyclopedia of American Loons» e mais um pouquinho de teoria da informação

Alguém decidiu escrever um blog que é uma autentica enciclopédia de lunáticos americanos (como o próprio título indica). Nesta lista estão muitos criacionistas, incluindo:

- Ann Gauger: foram muito brandos com ela.

- Douglas Axe: caracterizado como desonesto (é justo).

- Michael Behe: também caracterizado como desonesto e dissimulado (também é justo)

- William Dembski: completamente iludido e incapaz de admitir que cometeu erros. No texto aparecem hiperligações para críticas aos seus artigos e aos seus disparates. Um deles é escrito por um especialista na área das ciências informáticas, Mark C. Chu-Carroll, o qual foca que Dembski teve que retirar tudo o que tinha a ver com maluquices criacionistas de um artigo que publicou para este passar por revisão de pares e ser publicado (lá se vão as aspirações dos criacionistas de verem a sua fé aceite como teoria pela comunidade científica) e que o seu método (a abordagem logarítmica) para medir a informação num algoritmo evolutivo não tem qualquer significado (apenas nos dá o número de bits do programa). No texto, o autor expõe também a falta de compreensão de Dembski relativamente a um programa muito básico (Weasel) - um algoritmo evolutivo que o Dawkins fez há uma data de anos. Apenas discordo de uma coisa relativamente ao texto do «Encyclopedia of American Loons»: o William Dembski não é inteligente. De maneira nenhuma. 

Nota: O endereço do «Encyclopedia of American Loons»: http://americanloons.blogspot.pt/ 

Redundância e evolução de sistemas irredutivelmente complexos


Encontrei um artigo (já velhinho) que fala da evolução de sistemas irredutivelmente complexos através da redundância e perda de partes funcionais (1). Um exemplo de redundância é a proteína p 53, proteína que pode iniciar a apoptose, evitando assim o aparecimento de um cancro, a qual foi “retirada” em ratinhos e isso não causou a ruptura do sistema que ela integrava. Outro exemplo que pode ser mencionado é a própria cascata de coagulação (que afinal de irredutivelmente complexa nada tem), que tem partes que são redundantes – coagular lentamente não é o mesmo que não coagular. É dessa maneira que um sistema complexo pode evoluir para se tornar irredutivelmente complexo.
Duplicações de genes podem fazer com que apareçam novas peças (que ao princípio podem ser redundantes) que depois são co-optadas para desempenharem novas funções, como já foi referido anteriormente. 
A complexidade redundante é uma característica dos processos evolutivos que pode ajudar a explicar a evolução de vários sistemas complexos. E é preciso ver que não há apenas uma via evolutiva possível, mas sim várias possíveis capazes de explicar o surgimento de certos sistemas. A distinção de qual é a correcta está nos pormenores que devem ser (e já estão a ser) investigados. A capacidade dos processos naturais de explicarem o que observamos torna desnecessária a invocação de qualquer divindade como explicação; de qualquer modo “deus fez” não explica nada de nada.

É verdade que evolução molecular não é fácil para toda a gente compreender, mas penso que facilitaria bastante se as pessoas deixassem a religião de lado de vez em quando.

Ref.:

1. Behe, Biochemistry, and the Invisible Hand (2001), Niall Shanks and Karl Joplin, Philo Vol. 4 No. 1 (disponível aqui: http://www.philoonline.org/library/shanks_4_1.htm)


Evolução vs “Deus Fez” – Prefiro a primeira hipótese


O filme “Evolution vs God” do Ray Comfort é das piores coisas que qualquer criacionista fez até hoje. E estou a contar com toda a javardice que os criacionistas do design inteligente têm feito, o que inclui o famoso “Meyer’s hopeless monster” (R.I.P.).
Vejam por vocês mesmos:



E agora vejam a burrice do criacionista Ray Comfort exposta:



Só um criacionista para achar que não se pode descobrir o que aconteceu no passado, analisando as evidências que temos no presente. Isso é das coisas mais estúpidas que eu já ouvi – e eu já tenho ouvido muita estupidez. Darwin escreveu (e isso é focado no segundo vídeo): «(…) no que respeita a grupos muito distintos, tais como repteis e peixes, parece que, sendo distinguidos actualmente por uma dúzia de caracteres, os antigos membros dos mesmos  dois grupos poder-se-iam distinguir por um menor número de caracteres, de modo que os dois grupos (…) teriam alguma proximidade nessa altura» - isto foi verificado através do registo fóssil. As semelhanças (entre 2 grupos distintos de animais) vão sendo cada vez maiores, à medida que “andamos para trás” no tempo. A hipótese evolutiva de que eles estão relacionados, tendo divergido de um ancestral comum mais uma vez é a que mais se enquadra nas evidências disponíveis - e é por isso que esta continua a ser a preferida dos cientistas e das pessoas que são pelo menos minimamente esclarecidas. 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Programa de filogenética

É um programa bastante básico que faz alinhamentos, pesquisa de sequências nas bases de dados do pubmed e faz árvores filogenéticas. Já experimentei e é muito fácil. Aqui fica um tutorial: http://www.esa.ipb.pt/medchem/filo.html.
Deve-se obter um resultado semelhante a este:

Nota: Foram utilizadas poucas sequências por era só para praticar.  


Confusão sobre a radiação do Câmbrico (ou Chacinando o “monstrinho” do Stephen C. Meyer)

O paleobiólogo Charles R. Marshall, especialista naquilo a que vulgarmente chamam explosão do Câmbrico, chacinou o “Darwin’s Doubt” do criacionista Stephen C. Meyer. A revisão (1) foi publicada na revista “science”. Esta focou que o argumento de meyer era outra vez falacioso (o deus das lacunas do costume) e que a origem de novos filos tinha a ver com a evolução da regulação dos genes e não com a evolução de proteínas. Esses sistemas de regulação, que hoje são bastante complicados no que se refere a sofrer modificações, há milhões de anos não eram tão sofisticados, de acordo com os organismos nos quais se encontravam, daí não serem tão complicados de modificar quando se deu a radiação adaptativa no Câmbrico. o autor da revisão refere-se (logo no título) ao facto do Stephen C. meyer querer a todo o custo que o tal designer tenha sido o responsável pela explosão do Câmbrico.

Refs.:


1. Marshall, C.R. 2013.  When prior belief trumps scholarship.  Science 341:1344. DOI: 10.1126/science.1244515 (Via “Why Evolution is True”)


E agora podemos passar ao funeral do “Darwin’s Doubt”, mais conhecido por Meyer’s Hopeless Monster:




1% de diferença e confusão sobre o genoma humano (outra vez)

O criacionista (Francisco Tourinho) que fez uma grande confusão sobre o genoma humano (ver aqui e aqui) leu o meu texto (já actualizado) sobre o ENCODE e deixou uma data de comentários a bater na mesma tecla - o engano dos 80% funcionais e de quase não existir lixo no DNA. É claro que eu fiz-lhe ver que estava exactamente a a bater na mesma tecla como se não tivesse percebido nada. E talvez ele tenha ficado elucidado quanto ás figuras que fez depois de ler as últimas palavras da minha resposta: «Fail. Epic.» Ou não. 

Entretanto na caixa de comentários do blog dele, este indicou-me um texto de um blog "evolucionista" que focava que a diferença de 1% entre humanos e chimpanzés é relativa à sequência de DNA e não significa muito por si só em termos fenotípicos, se a considerarmos relativa a todo o DNA. Nada de novo para mim. Mais alguma coisa? Bem me parecia que não. 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

“Suck it Creationists!”




Usando as suas barbatanas para andar, em vez de nadar, ao longo do fundo do oceano, o peixe com mãos cor-de-rosa é uma das nove espécies recém-nomeadas e descritas numa recente revisão científica. Isto torna, na minha opinião, a transição de peixes para tetrápodes ainda mais plausível, e pode dar algumas pistas sobre o uso das primeiras patas pelos peixes.  

Ref.:

- New, Pink, and Rare, Carolyn Barry, May 24, 2010 (disponível aqui: http://news.nationalgeographic.com/news/2010/05/photogalleries/100524-new-species-handfish-walk-science-pictures/



Confusão sobre o genoma humano

Hoje vi isto. Santa ignorância – só mesmo um criacionista para citar o artigo “Dissecting Darwinism” e dizer que o humano e o rato têm 90% do genoma igual.

Essa percentagem supostamente está num artigo publicado na Nature (1).
Esses 90% de semelhança entre o rato e o humano nada têm a ver com semelhança sequencial do genoma, mas sim com a sintenia conservada, isto é com a localização dos genes (ex.: gene A, gene B, gene C, etc). Tive acesso ao artigo completo e não encontrei nada que dissesse que existe 90% de semelhança, nem nada próximo disso (relativamente ao genoma) entre o rato e o humano.

Um conselho para os criacionistas: Não falem daquilo que não sabem/ não compreendem.

Relativamente ao artigo “Dissecting Darwinism”, este foi mencionado há uns tempos num anexo de um texto que tratava da lista de artigos que, na opinião de uns quantos criacionistas, apoiavam o design inteligente. É péssimo.
É necessário referir que (ao contrário do que está nesse artigo) as partes não codificantes são na sua maioria constituídas por lixo, embora uma pequena parte seja funcional.
O artigo não é nada imparcial e recebeu críticas negativas de vários cientistas, apontando que a afirmação de que existe apenas 75% de semelhanças entre o genoma do chimpanzé e do humano não está de acordo com os dados (2). Pude também verificar que a referência (33) não é nada de fiar (Wells J. The Myth of Junk DNA. Seattle, WA: Discovery Institute Press; 2011.).
Um facto sobre a semelhança entre o genoma do humano e do chimpanzé: em vez de serem 98% do genoma são 95% (é menos, mas não é muito menos do que se pensava ao princípio). 

Acrescentando que o que está no fim é quote mining, é tudo.

Refs.:


  1. http://www.nature.com/nature/journal/v420/n6915/pdf/nature01262.pdf
  2. http://www.baylorhealth.edu/Documents/BUMC%20Proceedings/2012%20Vol%2025/No.%202/25_2_Reader_comment.pdf

De volta ao Tiktaalik

O Tiktaalik (descoberto em 2004 no Canadá) é um fóssil de transição (peixes-tetrápodes) e só existe uma espécie desse género: Tiktaalik roseae. Embora possa não ser ancestral directo, demonstra que uma vez existiram intermediários entre tipos muito diferentes de vertebrados. A mistura de características de paixes e tetrápodes encontrada no Tiktaalik inclui as seguintes características:

- brânquias dos peixes
- escamas de peixe
- barbatanas dos peixes
- ossos dos membros meio de tetrápodes e articulações, incluindo a articulação do punho e radiantes e barbatanas, como nos peixes
- a região da orelha meia-tetrápode, meio-peixe
- costelas como nos tetrápodes
- pescoço móvel
- pulmões como nos tetrápodes

Pegadas de tetrápodes foram encontradas na Polónia e a descoberta relatada na revista Nature em Janeiro de 2010. Estas foram "seguramente datadas", tendo sido confirmado que são mais antigas que Tiktaalik. Se este é um registo verdadeiro de tetrápode, Tiktaalik é uma "relíquia que sobreviveu até tarde" em vez da forma de transição original. Uma interpretação alternativa é que as pegadas foram feitas por peixes que andavam.
Ainda que as pegadas sejam feitas por tetrápodes (o que não pode ser tido como facto), o Tiktaalik continua a poder ser considerado um fóssil de transição, sendo um animal com características intermediárias, que demonstra que de facto houve uma transição. (1)

Os criacionistas têm andado pela internet a pregar mentiras a respeito do status do Tiktaalik, tentando apoiar-se nessas tais pegadas, mas a realidade é que este continua a ser uma evidência da evolução, enquanto fóssil de transição, berrem eles o que berrarem, chorem eles o que chorarem. O Mats é um desses criacionistas (2). Ele (e outros criacionistas) tem que aprender de vez o que é um fóssil de transição, pois assim talvez deixe de fazer figuras de urso – e eu já lho disse, só que ele optou por ignorar os meus conselhos e críticas. Provavelmente sente-se rebaixado. Coitado do Mats. Além disso é possível que tenha lido o que eu tenho escrito sobre ele aqui no blog e deve estar mesmo furioso. E deve de facto sentir-se um tanto rebaixado. Eu percebo que às vezes pode ser difícil aceitar a realidade sobre si mesmo, as suas acções e atitudes e as ideias que defende, mas essas coisas precisam de ser ultrapassadas… Bem daqui a pouco mudo a minha licenciatura em curso para psicologia e abro um consultório. Talvez assim os criacionistas procurem os meus conselhos e me façam rica – até porque para criacionistas cada consulta seria mais cara, pela paciência redobrada que seria necessária.  
O conceito de fóssil de transição é fácil, tanto que se aprende no secundário e em qualquer site de divulgação científica dirigido ao público leigo (como o do NCSE) ou até mesmo na Wikipédia. Não é assim tão difícil estar informado sobre o assunto; só para os idiotas dos criacionistas é que parece ser inatingível.


Refs.:

1. «Tiktaalik», Wikipédia (http://en.wikipedia.org/wiki/Tiktaalik)


Testando (quantitativamente) previsões evolutivas


HOMOLOGIA E CONVERGÊNCIA REVERSA

Em Agosto deste ano (2013) foi publicado na revista “ Plos One” um estudo em que se testava mais uma previsão da teoria da evolução.

Na introdução lê-se o seguinte: «No caso da evolução, uma forte previsão da  "descendência com modificação" é que, à medida que avançamos mais e mais para trás no tempo, as sequências de uma determinada proteína devem tornar-se cada vez mais semelhantes - chamamos isso convergência ancestral ou convergência reversa. A previsão da teoria da evolução é que sequências de DNA ou proteínas que realizam as mesmas funções básicas em diferentes organismos são geralmente herdados de um ancestral comum - neste sentido, eles são verdadeiramente proteínas homólogas (ou ortólogas). Temos de ser capazes de medir essa convergência e testá-la quantitativamente. Na prática, embora a informação venha principalmente a partir de sequências de DNA, podemos convertê-las em sequências de proteínas para os testes. Como veremos mais tarde, de momento não podemos ainda encontrar qualquer outra hipótese que conduz inevitavelmente á mesma previsão sem um aumento explosivo no número de parâmetros.» Sobre o método científico, os autores continuam: «É básico para a ciência que nunca testámos todas as hipóteses possíveis e, consequentemente, nunca obtemos o conhecimento supremo e absoluto sobre qualquer aspecto do universo. No entanto, o método científico fornece a melhor forma de conhecimento que os seres humanos podem atingir, e assegura que usamos aquilo que foi mais exaustivamente testado (…)»

O que me parece é que isto é mais uma abordagem para testar quantitativamente se certas proteínas são homólogas (no sentido de partilharem um ancestral comum).

Mais ainda: «Como controlo, mostramos que as proteínas não relacionadas não mostram convergência. ... Isso claramente não "prova" que os modelos ainda desconhecidas são impossíveis, mas a teoria da evolução leva a previsões extremamente fortes, e por isso a responsabilidade recai agora sobre os outros para propor alternativas testáveis​​.» (1)

Agora quem não concorda vai ter que deitar mãos á obra e propor algo de concreto, que faça previsões testáveis, tal como os cientistas já propuseram: propuseram que podemos relacionar espécies em termos de ancestralidade comum, recorrendo ao DNA (genes homólogos – mais propriamente ortólogos). E de facto podemos. Existem proteínas verdadeiramente homólogas. E até podemos testar isso quantitativamente. Quanto ao mecanismo proposto, que se tem mostrado bastante bom para explicar as observações, esse só precisa que haja replicação/reprodução e interacção dos organismos de uma população com o ambiente e uns com os outros.

Os criacionistas do Discovery Institute já começaram a queixar-se. E de que é que eles se queixam? Do tom desrespeitoso dos autores do artigo (2). Um link para o artigo encontra-se nas referências, para que possam ler e confirmar que isso é mania da perseguição do criacionista que fez tal afirmação. Mas a verdade é que os criacionistas estão-se nas tintas para isso. Como não conseguem criticar em termos técnicos o artigo, têm que inventar alguma coisa para dizer. É o costume: mesmo quando não sabem o suficiente para comentar, têm sempre que ter a última palavra. Isso é bom para quem está na oposição, pois assim eles espalham-se á frente de toda a gente. Coitados.

Refs.:


  1. White WTJ, Zhong B, Penny D (2013) “Beyond Reasonable Doubt: Evolution from DNA Sequences.” PLoS ONE 8(8): e69924. doi:10.1371/journal.pone.0069924 (disponível aqui: http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0069924)
  2. Science with a Sneer: A New Model for Scientific Papers?” (via «The Sensuous Curmudgeon»)

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

E as "portas" respondem...

O mesmo criacionista que andou a encher de lixo a minha caixa de entrada da outra vez, desta vez resolveu encher a caixa de comentários de merda. Fica aqui um segundo comunicado (para os criacionistas): é favor não encher a caixa de comentários de merda. A merda que aparecer será varrida para onde diz "Spam". Obrigada.

Falar com um criacionista é falar com uma porta


Eu mandei um e-mail para os criacionistas deixarem de encher o meu e-mail de lixo (e deixei o mesmo recado na minha introdução do perfil do blogger). Não deu resultado. Um criacionista (tersiog@petrobras.com.br) voltou a encher mais um pouco da minha caixa de entrada com o lixo (desta vez insultuoso) proveniente da sua diarreia mental e verbal.
Sendo sincera nunca pensei que resultasse. É que falar com um criacionista é a mesma coisa que falar com uma porta.

Mantendo a diversidade

Alelos benéficos numa população podem nunca chegar a fixar-se, mantendo-se a variabilidade genética (nenhum dos 2 alelos se fixa). Além disso, as frequências alélicas são determinantes para que o alelo seja “benéfico” ou “prejudicial”. Quem descobriu isto foi uma equipa de cientistas portugueses que resolveram testar a teoria de Haldane, que tem sido utilizada em genética de populações, usando uma população de C. elegans onde foi introduzido um novo alelo. 
Descobriram que quando os invasores se saíam melhor do que os outros, a introdução de mais indivíduos iria baixar a probabilidade de extinção. Também confirmaram que a probabilidade de extinção é maior para alelos prejudiciais do que para alelos benéficos, ainda que durante gerações se pudessem manter indivíduos menos bem adaptados em frequências elevadas (sobretudo em populações pequenas), ou seja Haldane estava certo no que se refere á fase inicial de invasão.
Quando a equipa estudou a probabilidade de fixação de um alelo benéfico (frequência = 100%), usando uma população inicial com mais indivíduos com o novo alelo (frequência mais elevada), os cientistas repararam na influência da frequência do alelo no seu valor selectivo/ adaptativo.
O resultado desta dinâmica é que a diversidade pode ser mantida por tempo indefinido, sem que nenhum dos 2 alelos se fixe na população.
A segunda parte do estudo sugere que para prever o destino de novos alelos a longo prazo, devem ser desenvolvidos novos modelos teóricos, embora aqueles que possuímos sejam óptimos para previsões a curto prazo

Nota (para os criacionistas): Isto não implica uma mudança de paradigma, apenas uma expansão do conhecimento acerca do modo como as populações evoluem. Esta nota vem a propósito deste disparate: http://darwinismo.wordpress.com/2013/08/15/9853/#comment-22029

Ref.:

“Fate of new genes cannot be predicted” (Disponível aqui:


Insectos robóticos e a evolução das aves

Ao testar uma barata robótica, os cientistas envolvidos no projecto lançaram alguma luz sobre a evolução das asas e a origem do voo das aves.
Devo lembrar que a teoria actualmente aceite afirma que as aves são descendentes directas dos dinossauros e que as evidências fósseis são imensas a favor desta, tais como as várias espécies de dinossauros com penas e de pássaros ainda bastante parecidos com dinossauros.
Uma das questões que tem moído a cabeça dos biólogos é: Qual seria a função inicial das asas, uma vez que, no início, o animal não iria usá-las para voar, visto que não eram suficientes boas para isso?
Uma boa resposta pode ser a seguinte: ajudá-los a manter o equilíbrio e a mexerem-se de uma maneira mais eficiente.
Esta é a conclusão de Kevin Peterson e Ron Fearing, da Universidade de Berkeley (E.U.A.).
Estes cientistas estavam a estudar um pequeno robô com uma mobilidade semelhante à de um insecto. o robô em questão, isto é, o Dynamic Autonomous Sprawled Hexapod (DASH), foi inspirado numa barata.
Como o andar do robô deixava a desejar, eles resolver instalar asas para ver se isso o tornava mais capaz.
Embora as asas tenham melhorado significativamente o desempenho do DASH na corrida (passando de 0,68 metros por segundo (m/s) para 1,29 m/s) - isso não seria suficiente para que ele levantasse voo.
Além de permitir que o voo planado, as asas permitem que o robô suba em superfícies bem mais íngremes, passando de uma inclinação máxima de 5,6 graus para 16,9 graus, condizente com o comportamento de um animal que precise chegar muito alto para saltar, pelo que os cientistas pensam que isso é um reforço para a hipótese de que o voo começou com animais que saltavam de árvores e abriam suas proto-asas para planar.
O biólogo Robert Dudley, também de Berkeley, afirmou que a barata robótica não é o melhor modelo para estudar o voo dos pássaros porque esta tem seis pernas, e não duas, e as suas asas são de plástico inteiriço, muito diferente de penas.
Por tudo isto, este experimento não é suficientemente preciso. Mas este gostou da ideia do uso de robôs para estudar a evolução e afirmou que o que esta experiência demonstrou foi a viabilidade de usar modelos robóticos para testar a hipótese das origens do voo.
Então, agora devem ser construídos modelos mais semelhantes aos dinossauros, cujos fósseis preservaram as primeiras penas.

Referências

- Experimental Dynamics of Wing Assisted Running for a Bipedal Ornithopter
Kevin C. Peterson, Ronald S. Fearing
IEEE Int. Conf. Intelligent Robots and Systems
Sept. 2011


- «Inseto robótico esclarece elo perdido entre dinossauros e aves», Moisés de Freitas, 20/10/2011 – Inovação tecnológica (disponível aqui: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=inseto-robotico-elo-perdido-dinossauros-aves&id=010180111020)

Evolução guiada? Ou um deus imitador de partículas?

Alguns criacionistas acreditam que a evolução (aqui, apenas significa mudança ao longo do tempo) dos seres vivos tem sido guiada por deus (directamente), embora actuem também os mecanismos evolutivos conhecidos pela ciência – isto é o que se pode designar por criacionismo progressivo. Um exemplo de alguém que defende este ponto de vista é o filósofo cristão William Lane Craig.
Um dos problemas com a posição acima referida é o facto do termo “evolução” aqui empregue não ir de encontro àquilo que os cientistas entendem como evolução. Outro problema (muito mais grave) é que, tanto quanto sabemos, os mecanismos conhecidos a nível populacional e molecular são suficientes para explicar o que observamos nos seres vivos e no registo fóssil. Se os mecanismos naturais chegam para explicar as observações, deve-se escolher a hipótese sem deus, pois este é desnecessário. Se a ideia é dizer que deus imita os processos naturais, mas quer que acreditemos nele – ou então vamos para o inferno, isso é uma contradição e essa posição não deve ser levada a sério, também porque foge a qualquer tipo de teste a que possam querer submeter a hipótese proposta. É a mesma coisa que dizer que é deus que faz com que pareça que existem partículas virtuais, porque imita muito bem o efeito de Casimir* (só para ilustrar o ridículo de tudo isto). Talvez seja um teste de fé - estranho para quem deseja com muita, muita força que acreditem nele. Os seres humanos têm que ter fé num deus imitador de partículas e não nas partículas em si, ou então vai tudo para o inferno servir de ventoinha ao diabo. Agora substituam partículas por mecanismos evolutivos (que são observados a ocorrer actualmente) e, então, têm uma breve descrição daquilo em que muitos criacionistas acreditam. 


*Nota: Duas placas carregadas afectam fotões virtuais e geraram uma força – ou uma atracção ou uma repulsão, dependendo do arranjo específico das duas placas (The Force of Empty Space, Physical Review Focus, December 3, 1998).  

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A espiritualidade de um ateu

O sentimento de admiração, de humildade perante um universo tão vasto, que tem muito por conhecer, de onde surgiu a vida naquela pequena porção que não é constituída por matéria e energia negra, e de unidade com esse Universo é algo que se pode identificar como espiritualidade (num sentido não religioso). Também para isso, deus não é necessário (e acreditar nele também não), nem para fazer meditação (que pode ter realmente efeitos positivos na mente humana (1)).



(Este vídeo também é interessante: Sam Harris - Atheist Spirituality - http://www.youtube.com/watch?v=Q_1l90CovBk)


Ref.:

1. “Killing the Buddha” (Killing The Buddha, Sam Harris, Shambhala Sun, March 2006 – disponível em: http://www.samharris.org/site/full_text/killing-the-buddha/ )

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Destruindo o argumento cosmológico

O argumento cosmológico é algo como isto:

Premissa 1. Tudo o que começou a existir tem uma causa
Premissa 2. O Universo começou a existir
Conclusão: logo o Universo tem uma causa. 

Daqui os crentes partem para a afirmação de que a causa é o seu deus particular (o deus judaico-cristão normalmente), o que não pode ser inferido pelas premissas acima, como referiu o Ludwig Krippahl na penúltima entrada do "Que treta!" ("O argumento cosmológico"). Nesse texto, o argumento usado por filósofos (pregadores?) cristãos como William Lane Craig é corrido à vassourada para fora de debate pelo autor do blog.  
O Ludwig Krippahl chama a atenção para o facto da física moderna demonstrar que há coisas que começam a existir e que não têm causa, pelo que a primeira premissa é falsa. E o pior (para os crentes, claro) é que a segunda premissa também é falsa - é preciso que o Universo tenha tido um começo no sentido de haver um instante antes do Universo surgir, depois o instante em que o Universo surge e por aí fora, que é aquilo a que se refere a segunda premissa (só assim é que podemos falar de causalidade porque a causa tem de preceder o seu efeito), mas não houve um “antes do Universo" e nem houve um começo propriamente dito (no tempo), segundo Hawking e Hartle.
Recomendo aos leitores que sigam o link acima e acedam ao texto. Vale a pena ler. 

Para terminar quero dizer uma coisa: o vácuo quântico de onde podem surgir universos encaixa-se perfeitamente nas teorias da física, empiricamente fundamentadas, pelo que qualquer pessoa com o mínimo de discernimento devia fiar-se nessa hipótese e não num deus que aparece num conto para crianças da Idade do Bronze, sobre o qual se foram inventando mais umas quantas coisas.

Errata*: A causa pode não preceder o efeito, mas é de notar notar que nada está garantido, quanto ao argumento, a respeito do facto do universo ter tido uma causa, uma vez que o universo não começou a existir no sentido de que foi um evento no tempo e no espaço, mesmo se considerássemos que a primeira premissa é verdadeira, pois esta refere-se a observações relativas a ocorrências no espaço e no tempo, aqui no nosso universo.
Existem evidências de que o universo surgiu espontaneamente do nada, sem precisar de deus. (para mais, ler a parte II)

*Actualizado em 18/3/2014  

domingo, 1 de setembro de 2013

Hitler era cristão?

Há evidências de que este era um ocultista e uma espécie de pagão disfarçado, o que não implica a descrença num deus pessoal (1, 2, 3) e provavelmente essa crença estaria presente, pelo menos numa certa fase da sua vida (quando escreveu "Mein Kampf") (1), não sendo muito diferente daquilo que os católicos acreditam actualmente. No entanto, ainda que Hitler não fosse cristão, isso realmente importa? Não. Se ele fingiu ser cristão por motivos políticos, isto é, para conseguir que o povo o seguisse, isso significa que a religião cristã sempre ajudou Hitler. Parafraseando: « Só consigo convencer pessoas a lançar bombas e matar pessoas se fingir ser cristãos como eles». Continua a não ser nada favorável ao cristianismo. Além das atrocidades terem sido cometidas maioritariamente por cristãos, o seu líder, teve que fingir ser cristão para conseguir que eles o ajudassem a concretizar actos atrozes que ficaram na história da humanidade - «Se és cristão, então deves estar certo.» Isto ilustra bem o pensamento religioso, baseado na autoridade. É como o velho argumento do "Cientista X" dos criacionistas e companhia, só que desta vez é o "Cristão X".
Aqui fica um vídeo cómico sobre o assunto, para descontrair um bocadinho (o sotaque alemão fingido é hilariante):



Refs.:

2. http://en.wikipedia.org/wiki/Nazism_and_occultism
3. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ocultismo 

A desonestidade dos criacionistas

O Mats no seu blog continua a censurar comentários sem outros motivos que não o de fazer com que os criacionistas tenham a última palavra. O que eles dizem é só disparates, portanto também não ganham muito com isso perante leitores minimamente informados, pelo que pouco me importa esse aspecto da questão. O que eu não suporto é a desonestidade dessa atitude e das suas afirmações. Um exemplo é a afirmação do Mats e de outros criacionistas de que o blog dele (Darwinismo) apresenta evidências da criação divina e desfavoráveis á teoria da evolução (aqui, nos comentários), o que é uma mentira descarada. Tudo o que está no blog do Mats, incluindo textos e comentários dos criacionistas, pode ser resumido assim: erros científicos (muitos erros), quote mining, interpretações erradas de coisas que os criacionistas leram aqui e ali, afirmações de fé na criação divina e no cristianismo em geral, algumas descrições de certos sistemas/mecanismos complexos acompanhadas da afirmação de que estas foram criadas – sem qualquer tipo justificação para dizer tal coisa. E são estas as evidências do Mats. E depois os criacionistas querem ser levados a sério e ficam muito escandalizados quando os proíbem de ensinar às crianças os disparates que eles normalmente dizem e quando gozam com eles publicamente. Se querem ser respeitados dêem-se ao respeito - e não é com desonestidade que se consegue isso. 

sábado, 31 de agosto de 2013

Mais sobre o novo “monstrinho”* do Stephen C. Meyer

O novo livro do Stephen C. Meyer (criacionista do design inteligente) tem mais uma coisa que deve ser referida: a arte de “quote mine” está presente na forma de uma colagem de frases de um artigo de um cientista sobre o registo fóssil da radiação (“explosão”) do Câmbrico, tendo a última frase da citação uma distância de 15 páginas das frases anteriores às reticências. É impressionante.
Para mais detalhes consultem esta entrada do Panda’s Thumb: “Stephen Meyer: workin’ in the quote mines” (disponível aqui: http://pandasthumb.org/archives/2013/08/stephen-meyer-w.html#more).


* O novo livro de propaganda criacionista do Stephen Meyer - “Darwin’s Doubt”. 

Homologia, homoplasia e evidências da evolução

A homologia é testada, não se pressupondo que as semelhanças entre certas estruturas anatómicas, genes ou proteínas indicam por si só que estes são homólogos (isto é, que estes partilham um ancestral comum). Uma abordagem interessante para distinguir entre múltiplas origens e ancestralidade comum, é a apresentado por Douglas Theobald num artigo intitulado “A formal test of the theory of universal common ancestry” (1). Outra abordagem (2) é que, apesar de que talvez o que Theobald pretendia fazer seja inalcançável, há várias linhas de evidência que levam os cientistas a poder afirmar que a origem independente (o que incluiu evolução convergente por selecção devido á função da proteína) é muito menos provável do que a ancestralidade comum: várias vias estão disponíveis para a evolução proteica, os casos registados de evolução convergente não incluem sequências muito semelhantes, enzimas diferentes têm a mesma função.
Muitas vezes ao analisar dados moleculares (que são usados na elaboração de hipóteses filogenéticas) descobrem-se casos de homoplasia anatómica (morfológicas), como aconteceu com certas espécies de plantas da família Malvaceae (malvas) (3). Mais ainda, um bom exemplo de homologia genética, mas não anatómica é o do gene regulador Pax6, que existe em animais tão distintos como moscas do género Drosophila e ratos, o qual funciona como um interruptor para diferentes programas de desenvolvimento em diferentes tipos de organismos, sendo tido como homólogo não só apenas pela sua semelhança bioquímica (sequencial), mas pela sua distribuição taxonómica (4).
Em termos de desenvolvimento anatómico temos o exemplo dos arcos branquiais, cuja distribuição taxonómica das vias de desenvolvimento através destes é evidência para ancestralidade comum entre peixes e tetrápodes (4).
Há ainda que distinguir dois tipos de homologia molecular: um par de genes pode incluir parálogos, que partilham um gene ancestral em comum que se duplicou, ou ortólogos, cujo ancestral comum estava presente numa espécie que deu origem a outras, suas descendentes, cada uma com a sua versão do mesmo gene. Os últimos são usados para construir árvores filogenéticas de uma espécie e os primeiros são usados para construir árvores de genes. E, como já foi referido algures aqui no blog, em filogenética não se assume ancestralidade comum.
As evidências da evolução não estão apenas nas semelhanças observadas entre genes, proteínas e estruturas anatómicas, mas no padrão que elas formam – Já foram dados vários exemplos anteriormente (ao longo dos textos deste blog) e, de um modo geral, é o padrão de uma árvore genealógica.
Apesar de tudo o que eu já expliquei ser assim desde que se estudam estas coisas os criacionistas não conseguem acertar uma relativamente ao assunto, o que ficou bastante explicito no livro de Wells, "Icons of Evolution" (2000).

Nota: Uma extensa crítica ao livro de Wells, “Icons of Evolution” (2000), elaborada pelo Dr. Alan D. Gishlick do NCSE (geólogo), pode ser encontrada aqui: http://ncse.com/creationism/analysis/icons-evolution.

Referências:

1. “A formal test of the theory of universal common ancestry”, Nature – Maio, 2010. Ver o artigo completo aqui.





quarta-feira, 14 de agosto de 2013

NÃO sou criacionista

Relativamente a um pequeno texto que coloquei aqui no blog com o título "Sou criacionista", tenho que informar os leitores de que isso era uma ironia e que eu não sou de facto criacionista. Sou ateia. O texto foi removido.

P.S.: Isto vem a propósito da reacção de pessoas que me conhecem pessoalmente ao texto referido.  

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Evidências da evolução no corpo humano


A cauda é partilhada por todos os mamíferos a certo ponto do desenvolvimento.
Os humanos também têm uma cauda vestigial ou verdadeira, em contraste com a pseudo-cauda e ambas aparecem por vezes nos recém-nascidos, o que, no primeiro caso, é designado por atavismo. Mesmo os humanos adultos têm uma cauda (óssea) vestigial, que é o cóccix – as vértebras terminais que por vezes nos dão dores de costas. Estes factos reflectem a herança em comum, não só com os outros primatas, mas com os outros mamíferos.
É importante distinguir a cauda vestigial, ou seja, o atavismo nos recém-nascidos da pseudo-cauda que também aparece nos bebés pelo exame clínico e patológico. Vários estudos indicaram a natureza benigna da verdadeira cauda. A verdadeira cauda surge a partir do remanescente mais distal da cauda embrionária, contém tecido adiposo, conjuntivo, músculo e tecido nervoso, e é coberto por pele. As pseudo-caudas representam uma variedade de lesões que têm uma semelhança superficial com as caudas vestigiais ou caudas verdadeiras. A análise dos relatos de casos indica que a espinha bífida é a anomalia mais frequente que convive com ambas as caudas.
A cauda vestigial surge pela retenção das estruturas encontradas normalmente no desenvolvimento fetal. A embriogénese associada á cauda humana é observada pela primeira vez na quarta semana de gestação.
Esta pode ter até 13 centímetros, pode mover-se e contrair-se, e ocorre duas vezes mais em homens do que em mulheres. Uma verdadeira cauda é facilmente removida cirurgicamente, sem efeitos residuais. Raramente é familiar. Pseudo-caudas são lesões variadas que têm em comum uma saliência na região lombossacral. A causa mais frequente de uma pseudo-cauda é um prolongamento anormal das vértebras do cóccix ou, entre outras lesões, um fina e alongado feto parasitário.
Aquilo a que normalmente chamamos “pele de galinha”, ou seja, o reflexo pilomotor pode também ser considerado um vestígio. Quando uma pessoa tem frio ou está assustada, pequenos músculos na base de cada pêlo contraem, fazendo com que os pêlos do corpo fiquem em pé. Em animais com mais pêlo, isso é um reflexo útil: os pêlos erectos fazem uma armadilha de ar para criar uma camada de isolamento, e eles também fazem o animal parecer maior. No entanto isso no ser humano é inútil. Isto seria de esperar se animais mais peludos (como os chimpanzés) tivessem sido ancestrais do Homo Sapiens.
Todas estas evidências apontam para uma coisa: evolução. Para quem não gosta: proponha ou cale-se.

Refs.:





Eva mitocôndrial

"Eva mitocôndrial" é o termo que é normalmente usado em divulgação científica (por ser fácil de memorizar) para designar a nossa ancestral comum matrilínear mais recente. Esta viveu em África há 99.000-148.000 anos.
Esta mulher não foi a primeira das mulheres modernas (em termos de anatomia) no planeta, mas sim apenas uma de milhares de mulheres suas contemporâneas, com uma linhagem materna contínua até aos dias de hoje. É, então, de notar que não existe qualquer relação entre esta mulher e a Eva bíblica. 
Como existe uma "Eva mitocôndrial", existe um "Adão do cromossoma Y", ou seja, o ancestral comum mais recente dos humanos actuais por via patrilínear, designação que não se encontra fixada num só indivíduo. É de notar que não existem evidências de que este tenha vivido próximo da "Eva mitocôndrial", quanto mais se que tenham alguma vez acasalado. Além disso, as estimativas da época em que viveu, apesar de variarem, na sua maioria apontam para que seja muito antes da "Eva mitocôndrial". À semelhança desta, foi penas um dos muitos homens seus contemporâneos, com uma linhagem paterna contínua até aos dias de hoje. Mais uma vez: não há qualquer relação com o conto bíblico.
Muitas vezes as designações "Eva mitocôndrial" e "Adão do cromossoma Y" são utilizadas sem qualquer explicação ou contexto, podendo fazer com que as pessoas percebam que se tratam das mesmas pessoas de que fala o mito da criação judaico-cristão, o que, como já expliquei em cima está totalmente errado. Só pela cronologia estaria errado, além de não terem sido as primeiras pessoas, únicas no seu tempo. Não existem quaisquer evidências de que o Adão e Eva bíblicos tenham existido, apenas de que o "Adão e Eva" genéticos existiram há dezenas ou centenas de milhares de anos (e não há 6 a 10 mil anos). 


Refs.:


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Mais evidências moleculares da evolução

O apoio para a ancestralidade comum devido a estudos de sequências moleculares passa pelos genes que estão presentes em todos os organismos vivos actualmente e depende da semelhança desses num contexto específico: redundância funcional proteica.
Há certos genes que todos os organismos vivos têm, porque desempenham as funções mais básicas de vida, estes genes são chamados de genes ubíquos ou omnipresentes. Os genes ubíquos não são correlacionados com fenótipos específicos de uma espécie: não têm nenhuma relação com as funções específicas de diferentes espécies. Por exemplo, não importa se é uma bactéria, um ser humano, um peixe, uma baleia, um golfinho, um tentilhão, um cogumelo, uma minhoca ou uma estrela do mar - esses genes estão lá, e todos eles desempenham a mesma função biológica básica. As sequências moleculares de genes ubíquos são funcionalmente redundantes: Qualquer proteína ubíqua tem um número extremamente grande de diferentes formas funcionalmente equivalentes (ou seja, sequências de proteínas que podem executar a mesma função bioquímica).
Obviamente, não há nenhuma razão á priori para que cada organismo tenha que ter a mesma sequência ou sequências semelhantes. Nenhuma sequência específica é funcionalmente necessária em qualquer organismo - tudo o que é necessário é um de um grande número de formas funcionalmente equivalentes de um determinado gene ou proteína ubíqua.
Hereditariedade correlaciona sequências, mesmo na ausência de necessidade funcional: existe um, e somente um, mecanismo observado que faz com que dois organismos diferentes tenham proteínas ubíquas com sequências semelhantes (além da improbabilidade extrema de puro acaso, é claro). Esse mecanismo é a hereditariedade.
Estudos com genes funcionais têm-se centrado em genes de proteínas (ou RNAs) que são comuns (ou seja, estão presentes em todos os organismos). Isto é feito para assegurar que as comparações são independentes do fenótipo específico.
Por exemplo, o O citocromo c é uma proteína essencial e encontrada em todos os organismos, incluindo bactérias e eucariontes. As mitocôndrias de células contêm o citocromo c, onde este transporta electrões num processo metabólico fundamental: a fosforilação oxidativa.
Utilizando para um estudo um gene ubíquo como o do citocromo c, não há razão para supor que dois organismos diferentes devem ter a mesma sequência proteica ou sequências proteicas parecidas, a menos que os dois organismos sejam geneticamente relacionados. Isto é devido, em parte, à redundância funcional das sequências de proteínas e das estruturas. Aqui, a "redundância funcional" indica que muitas sequências de proteínas diferentes formam a mesma estrutura geral e desempenham o mesmo papel biológico. O Citocromo c é uma proteína redundante em termos funcionais, pois muitas sequências diferentes podem desempenhar a mesma função. A maioria dos aminoácidos no citocromo c é muito variável, sendo difícil destruir a sua função modificando os resíduos (1). O citocromo c até um exemplo normalmente utilizado no ensino da biologia evolutiva, mais propriamente da filogenética.
É claro que eu não estaria a ter este trabalho todo se não se confirmasse que existem de facto semelhanças indicativas de relação de ancestralidade. Um exemplo são os humanos e os chimpanzés, outro são os humanos e os morcegos (que, como exemplo, têm muito mais semelhanças entre eles do que entre morcegos e colibris.
Mais uma coisa gira sobre o citocromo c: uma outra proteína, a plastocianina, evoluiu convergentemente para desempenhar a mesma função do citocromo c 6. Tratam-se de duas pequenas proteínas solúveis que contém cobre e um grupo heme, respectivamente, que estão localizadas no lúmen dos tilacóides e fazem a transferência de electrões do citocromo b 6-f para o fotossistema I em muitos dos organismos fotossintéticos. Em cianobactérias, as duas metaloproteínas de facto desempenham um papel respiratório extra como doadores de elétrons para a enzima citocromo c oxidase. Não há nenhuma relação filogenética nem estrutural entre estes, embora partilhem um certo número de parâmetros físico-químicos e semelhanças estruturais que lhes permitem substituir-se mutuamente dependendo da disponibilidade do cobre. Este é um excelente exemplo de evolução convergente, a nível molecular, o qual é interpretado como uma consequência da adaptação microbiana às condições ambientais, segundo a disponibilidade de ferro e cobre. Um estudo sobre o assunto foi publicado em 2011 (Bioenergetic Processes of Cyanobacteria) (2).
Por falar em evolução convergente e homologia, é de notar que os biólogos já em 1970 se preocupavam em arranjar métodos para distinguir homoplasia de homologia verdadeira por métodos estatísticos, ao contrário do que muitos podem pensar, como ilustrado no estudo intitulado “Distinguishing homologous from analogous  proteins” (Systematic Zoology) (3). Devo também lembrar que não se pode usar ortólogos para construir árvores filogenéticas referentes a espécies.


Refs.:


O que se pode observar


As evidências que apontam para a evolução são observadas pelos cientistas tanto em laboratório como no campo – por exemplo, o registo fóssil.
Quando sequenciamos uma porção de DNA estamos a observar a realidade dessa sequência no laboratório, quando comparamos duas sequências de DNA, estamos a mesma coisa, quando se analisa um fóssil, o mesmo. Todas as evidências científicas são constituídas por observações como estas. Podemos reconstruir a história evolutiva das aves, mas não temos que ver a transição de dinossauros para aves com os nossos próprios olhos. Temos os fósseis e o DNA e isso chega. Nem sequer somos obrigados a ver eventos de especiação ou partes do processo em campo ou no laboratório (embora isso já tenha acontecido), porque mais uma vez temos algo como o DNA – os padrões genéticos das várias espécies de Plasmodium, por exemplo. Em ciência, seja em que área for, o método base é sempre o mesmo: o método científico. Servimo-nos sempre das evidências - daquilo que observamos, para ver qual das hipóteses se encontra mais em concordância com estas. Por exemplo, podemos decidir se um E.T. concebeu uma pedra com inteligência ou se esta é apenas o produto de processos naturais como a sedimentação, compactação, erosão, entre outros, baseando-nos na recolha de dados da rocha e testar as previsões de cada uma das hipóteses. No entanto, não precisamos de assistir ao processo de formação da rocha para sabermos isso. É claro que quando uma hipótese não se distingue das outras, essa não interessa: por exemplo, uma hipótese que afirme que o E.T. criou a rocha como se ela tivesse surgido naturalmente.

Os cientistas aceitam a teoria da evolução, não por serem anti-religião, não porque simplesmente lhes apeteceu chatear a Igreja de Inglaterra no tempo de Darwin, mas porque as evidências apontam para essa hipótese e para nenhuma outra desde que Darwin e Wallace começaram a trabalhar nessa questão. A teoria da evolução é o melhor que temos até agora para explicar a diversidade de espécies que nos rodeia e a existência da nossa própria espécie. Isto é ponto assente. É claro que isso chateia muita gente, mas a ciência não existe para agradar a gregos nem a troianos. Não gostar do que se descobre através do método científico, em nada afecta a sua prosperidade. Desde que funcione – e sabemos que funciona (basta comparar os resultados da medicina baseada na ciência com os da homeopatia, só como exemplo) – vamos continuar assim.   

domingo, 11 de agosto de 2013

Evolução do genoma humano: genes Hox e companhia


Os cromossomas humanos 2q, 7, 12q e 17q demonstram homologia intra-genómica, regiões parálogas em duplicado, triplicado e quadruplicado, centradas nos grupos de genes HOX. O fato de que dois ou mais representantes de diferentes famílias de genes estão ligados a grupos HOX é tomado como evidência de que esses conjuntos de genes parálogos podem ter surgido a partir de um único segmento cromossómico através de eventos de duplicação de cromossomas inteiros ou de um bloco. Isto implicaria que os genes constituintes, incluindo os clusters HOX reflectissem a arquitectura de um bloco único ancestral (antes da origem dos vertebrados), onde todos esses genes estariam ligados numa única cópia.
Num estudo intitulado “An insight into the phylogenetic history of HOX linked gene families in vertebrates”, publicado em 2007 (BMC Evolutionary Biology), investigadores do Institute of Human Genetics, Philipps-University (Alemanha) usaram um conjunto de dados de uma grande variedade de genomas de vertebrados e invertebrados para analisar a história filogenética de 11 famílias multigénicas com três ou mais dos seus representantes ligados aos grupos HOX humanos. Os autores usaram uma abordagem de comparação de topologia – a topologia da árvore filogenética de cada família de genes foi comparada com outras famílias e também com a filogenia dos grupos HOX para testar consistências em eventos de duplicação. Esta abordagem revelou quatro grupos de co-duplicados discretos: um grupo envolve os genes GLI, HH, INHB, IGFBP (cluster-1), e as famílias SLC4A, o grupo 2 envolve os genes ERBB, ZNFN1A, e as famílias genicas IGFBP (cluster-2), o grupo 3 envolve os clusters HOX e da família de genes SP; o grupo 4 envolve a cadeia da integrina beta e famílias da cadeia leve da miosina. Os genes distintos dentro de cada grupo co-duplicado partilham a mesma história evolutiva e são duplicadas em conjunto, enquanto os genes constitutivos de dois grupos co-duplicados diferentes podem não compartilhar a sua história evolutiva e podem não se ter duplicado em simultâneo.
Os autores do estudo concluíram que as regiões de paralogia no genoma humano foram moldadas directamente por duas rondas de quadruplicação dos blocos ancestrais individuais. As famílias de genes constituintes do conjunto de parálogos HOX surgiram em grande parte por eventos distintos de duplicação, e seus membros foram juntos em três ou quatro regiões colineares em diferentes cromossomas, como resultado de rearranjos de segmentos do genoma, no máximo antes da divergência dos peixes ósseos e dos tetrápodes.

Os dados sugerem que as relações de ligação vistas nos cromossomas humanos onde se encontram os genes HOX não são o resultado de duplicações de um cromossoma inteiro ou de antigo bloco e, assim, não deve ser tomado como evidência para duas fases de duplicação de todo o genoma.

Ref.: