A informação no DNA e a origem
deste:
“ (…) um graminha de DNA, que
armazena 2,2 biliões de gigabytes, que precisa de várias peças funcionando ao
mesmo tempo –Esse não! Surgiu por acaso, sem a necessidade de um projeto…",
é o que se pode ler no blog “Considere a possibilidade”. O texto seguinte é
baseado numa conversa que realmente ocorreu no original (1).
Nenhum cientista disse que era
por acaso (que eu saiba). Certamente seria um misto de aleatoriedade e não aleatoriedade.
O primeiro teria sido o RNA e depois o DNA que teria sofrido alguma pressão
selectiva por ser melhor armazenamento do que o RNA, embora haja a possibilidade de
este se formar também espontâneamente a partir de químicos que se supõe terem
estado presentes na Terra primitiva, e isso indicaria que este pode ter
precedido a vida propriamente dita. Os
proto-organismos teriam utilizado os nucleótidos de DNA de modo vantajoso,
quando os mantimentos naturais começaram a escassear (2). Das primeiras sequências
de RNA provavelmente só muito poucas teriam alguma funcionalidade (ex.:
capacidade catalítica) e essas teriam sido as percursoras daquelas que seriam
as moléculas de uma proto-célula. Em
principio o código genético emergiu de sequências aleatórias e pelas
propriedades das moleculas (ex.: afinidade directa para peptidos) e depois foi
sofrendo modificações (e selecção natural) e evoluiu para ser o que é hoje.
Mas
temos o velho mito do ovo-galinha ressuscitado: “O RNA precisa de proteínas
para ser fabricado, mas é fabricado por proteínas. Quem veio primeiro? O ovo ou
a galinha? Que processos naturais são conhecidos como plausíveis, capazes de
ligar dois nucleotídeos simples de RNA, sem ação enzimática?” – Mas tudo se resume a uma coisa: “Não sei, portanto,
deus fez.” Os
oligonucleótidos, cadeias curtas de RNA ou DNA, são sintetizados quimicamente utilizando
fosforamidites de nucleósidos naturais
ou quimicamente modificados, ou até compostos não-nucleosídicos
(3). Sem enzimas. Não quer dizer que foi este o processo na natureza (não sei),
mas demonstra que não é obrigatório ser pelos processos que ocorrem nas células
com recurso a enzimas e consciencializa-nos para o facto do argumento anterior
ser um argumento por falta de imaginação e por ignorância – “não sei” ou “não
consigo pensar em como poderá ter sido”, logo “deus fez”.
Mas: “Afinal, que tipo de processo faz um DNA?” – Para
os nucleótidos de RNA:
Os materiais de partida para a síntese são: cianamida, cyanoacetylene, glicolaldeído, gliceraldeído-fosfato inorgânico, que são plausíveis em condições pré-bióticas. Existiriam intermediários de arabinose, amino-oxazolina e anhydronucleoside. O fosfato inorgânico é incorporado nos nucleótidos apenas numa fase tardia da sequência, mas a sua presença desde o início é essencial, uma vez que controla a três reacções nas fases anteriores, actuando como um catalisador de ácido / base de modo geral, um catalisador nucleofílico e um tampão de pH (4). Para os de DNA, já há investigações sobre o assunto e até agora conseguiram descobrir como se pode ter sintetizado um composto semelhante (2).
Os materiais de partida para a síntese são: cianamida, cyanoacetylene, glicolaldeído, gliceraldeído-fosfato inorgânico, que são plausíveis em condições pré-bióticas. Existiriam intermediários de arabinose, amino-oxazolina e anhydronucleoside. O fosfato inorgânico é incorporado nos nucleótidos apenas numa fase tardia da sequência, mas a sua presença desde o início é essencial, uma vez que controla a três reacções nas fases anteriores, actuando como um catalisador de ácido / base de modo geral, um catalisador nucleofílico e um tampão de pH (4). Para os de DNA, já há investigações sobre o assunto e até agora conseguiram descobrir como se pode ter sintetizado um composto semelhante (2).
Relativamente á informação, o DNA
tem informação, os cubos de gelo têm informação e os flocos de neve também (qualquer
programador dirá o mesmo).
O código (not again!)
“Com certeza, Maria. Os cubos de gelo, quando reunidos, funcionam com base em um código de 4 bases, o qual possui um código semântico, uma linguagem, capaz de formar uma cadeia polipeptídica com vários aminoácidos.” E ainda: “Mas, quando você admite que o DNA surge por aleatoriedade você está me dizendo que uma sopa de letrinhas, dado tempo necessário, produz Os Lusíadas…” – Eu estava a comparar bits de informação e fala-me em códigos e semântica. E Moléculas são moléculas, letras são letras. Moléculas reagem, até se auto-replicam e letras não. O DNA é uma molécula que reage com outras.
E
continua com a comparação do DNA a textos e línguas: "O fato de você não enxergar linguagem no DNA revela
o quanto você está entendendo tudo errado… Os nomes das fases de síntese proteica:
“transcrição” e “tradução”." – Isso é por analogia e nada significa. Tudo
bem, podem chamar-lhe código, podem chamar-lhe linguagem á vontade. Continuam a
ser moléculas que reagem com outras.
Mas
não há como afirmar que não se trata de moléculas que reagem com outras: "Proteases e proteínas são moléculas que reagem umas
com as outras; ferro (Fe2) e oxigénio (O2) são moléculas que reagem umas com as
outras; mas não DNA E RNA. Elas regulam (regem, estabelecem, controlam…" –
Ou seja, reagem (com as helicases, com os factores de transcrição, etc); isso
tudo é através de reacções químicas.
E acabou assim: “Se para você um mapa metabólico é essencialmente igual à oxidação do ferro, realmente você não tem imaginação, Maria. Você olha, mas não vê. Curioso…” – Igual não é, mas continuam a ser moleculas a reagirem com outras.
E agora pasmem: a pessoa que afirmou que o DNA não é
uma molécula que reage com outras é um professor de biologia. Das duas uma: ou
esteve a dormir nas aulas de bioquímica e de genética molecular ou então é
desonesto.
*Nota:
muitas expressões/frases foram transcritas tal e qual como estavam no original.
Referências:
2.
“DNA could have existed long before life itself” (http://www.newscientist.com/article/mg21528795.500-dna-could-have-existed-long-before-life-itself.html)
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