segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Ateísmo, ciência e o ónus da prova (reeditado)

Quem faz uma afirmação (ex.: deus existe ou existem unicórnios em Marte) deve evidenciar a veracidade da sua afirmação. Se me disserem que existe um unicórnio em Marte e eu simplesmente disser que não acredito que isso seja verdade, será que tenho que ser eu a provar que não é verdade? Não. Nem posso provar tal coisa. Até podem enviar sondas, mas então alegariam que estava escondido, que estava a dormir numa gruta, etc. É exactamente a mesma coisa que se passa entre ateus e religiosos teístas: os teístas afirmam que existe um ser omnipotente, omnipresente, omnisciente, imaterial, inteligente, fora do espaço e do tempo (fora do Universo), mas que intervém na natureza e o ateu apenas diz: “não acredito no teu deus, mostra-me evidências da sua existência.” E á aqui que o teísta diz para o ateu provar que não existe. Mas na realidade não são os ateus que têm que provar que não existe.
Se não há provas da existência de deus ou de unicórnios, então porque é que estes hão-de ser tidos em conta como uma explicação para a existência do que observamos? Não há razões para isso. Mas assumindo que deus é uma possível explicação para a origem da vida e das espécies, temos a hipótese do criacionismo e podemos testá-la; ao testar essa hipótese verificou-se que esta era falsa e que afinal a vida muito provavelmente surgiu naturalmente (embora as teorias sobre a origem da vida não sejam capazes de uma explicação satisfatória existem evidências da sua origem natural) e que as espécies se foram modificando ao longo do tempo, ao longo das gerações através de epimutações, mutações, selecção natural, simbiose, recombinação e transferências horizontais até atingirem o seu estado actual. E pronto. Deus não criou nenhum ser vivo. Á medida que a ciência progride, cada vez mais hipóteses com deuses vão sendo descartadas. Esta é uma delas, outra é de que as doenças eram provocadas pela ira de deuses, demónios ou espíritos malignos. Actualmente sabe-se que a elas estão associados factores genéticos, comportamentais, microrganismos, parasitas animais, etc.
Se não há evidências da existência de algo e, mais ainda, se as hipóteses que incluem esse algo são refutadas pela ciência, então porque é que devemos acreditar que existe e viver a nossa vida de acordo com essa crença? Não devemos. O máximo que se pode afirmar é “não sei se existe ou não, mas acredito por fé/ porque gosto de acreditar que é possível que exista”, mantendo uma posição agnóstica. Mas afirmar que se sabe que existe e ainda que se deve viver a vida com base nessa pressuposição (que é o que normalmente os cristãos fazem, pelo menos de acordo com a minha experiência) não é racional. Para mim o melhor é mesmo afirmar: “não acredito, pois não há evidências e, assim, assumo que não existe até prova em contrário.”

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