Os criacionistas várias vezes afirmam que aceitam a variação
genética ao longo do tempo, sem se aperceberem que isso é evolução. Cheguei mesmo a ver
comentários do Jónatas Machado no Que treta a afirmar que a especiação não é
evolução. Isso está errado. É claro que especiação é evolução. Pode mesmo
incluir-se na categoria “macro-evolução”, ou seja, modificações que não ocorrem
apenas “dentro” da mesma espécie. Ocorre mudança na frequência alélica e
incompatibilidade genética entre indivíduos das diferentes populações. É evolução.
A evolução é definida por alguns geneticistas como alteração
da frequência alélica numa população ao longo das gerações. O caso da
resistência á malária, associada a uma frequência mais elevada no alelo mutante
nas regiões endémicas (polimorfismo equilibrado – “balanced polimorfism”) é um
exemplo de evolução.
Em certos países endémicos da malária cerca de 45% da
população possui o alelo mutante associado á anemia falciforme. Foi realizada
uma análise epidemiológica em que se estudou a frequência alélica nas regiões
endémicas para a confirmação da hipótese malária.
Foi também desenvolvido um estudo que sugeriu um mecanismo
de resistência á malária cerebral, complicação mais grave da infecção por
plasmodium falciparum.
Os indivíduos heterozigóticos acumulam níveis reduzidos (não
patológicos) de heme livre no plasma. Uma vez libertado da Hb (fenómeno
favorecido no caso da HbS) pode tornar-se citotóxico.
Em grandes quantidades, o grupo heme livre, sendo citotóxico
para as células endoteliais provoca a destruição desta camada, expondo a camada
subendotelial á cascata de coagulação sanguínea, levando á formação de trombos,
provocando vaso-oclusão, isquémia e hipoxia cerebral, ocorrência típica da
malária cerebral.
O efeito atenuador é mediado pelo CO, que se liga á Hb
livre, inibindo a sua oxidação, prevenindo a libertação do grupo heme e por sua
vez a patologia designada por malária cerebral.
Dado que a expressão da HO-1 e a produção de CO é induzida
em indivíduos com a cadeia beta da Hb modificada, este mecanismo poderá ser
parte da explicação do mecanismo que atenua os casos mais graves de malária em
indivíduos portadores da mutação.
Referências
The
American Heritage® Medical Dictionary, 2004 - Houghton Mifflin Company.
Publicado por: Houghton Mifflin Company.
(http://medical-dictionary.thefreedictionary.com/balanced+polymorphism)
“Global
distribution of the sickle cell gene and geographical confirmation of the
malaria hypothesis” - Frédéric B. Piel, Anand P. Patil et al, Nature
comunications, 2010
“Sickle
Hemoglobin Confers Tolerance to Plasmodium Infection” - Ana Ferreira, Cell 145,
398–409, April 29, 2011
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