quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A teoria da evolução e a genética de populações



Os criacionistas várias vezes afirmam que aceitam a variação genética ao longo do tempo, sem se aperceberem que isso é evolução. Cheguei mesmo a ver comentários do Jónatas Machado no Que treta a afirmar que a especiação não é evolução. Isso está errado. É claro que especiação é evolução. Pode mesmo incluir-se na categoria “macro-evolução”, ou seja, modificações que não ocorrem apenas “dentro” da mesma espécie. Ocorre mudança na frequência alélica e incompatibilidade genética entre indivíduos das diferentes populações. É evolução.

A evolução é definida por alguns geneticistas como alteração da frequência alélica numa população ao longo das gerações. O caso da resistência á malária, associada a uma frequência mais elevada no alelo mutante nas regiões endémicas (polimorfismo equilibrado – “balanced polimorfism”) é um exemplo de evolução.

Em certos países endémicos da malária cerca de 45% da população possui o alelo mutante associado á anemia falciforme. Foi realizada uma análise epidemiológica em que se estudou a frequência alélica nas regiões endémicas para a confirmação da hipótese malária.

Foi também desenvolvido um estudo que sugeriu um mecanismo de resistência á malária cerebral, complicação mais grave da infecção por plasmodium falciparum.

Os indivíduos heterozigóticos acumulam níveis reduzidos (não patológicos) de heme livre no plasma. Uma vez libertado da Hb (fenómeno favorecido no caso da HbS) pode tornar-se citotóxico.

Em grandes quantidades, o grupo heme livre, sendo citotóxico para as células endoteliais provoca a destruição desta camada, expondo a camada subendotelial á cascata de coagulação sanguínea, levando á formação de trombos, provocando vaso-oclusão, isquémia e hipoxia cerebral, ocorrência típica da malária cerebral.

O efeito atenuador é mediado pelo CO, que se liga á Hb livre, inibindo a sua oxidação, prevenindo a libertação do grupo heme e por sua vez a patologia designada por malária cerebral.

Dado que a expressão da HO-1 e a produção de CO é induzida em indivíduos com a cadeia beta da Hb modificada, este mecanismo poderá ser parte da explicação do mecanismo que atenua os casos mais graves de malária em indivíduos portadores da mutação.

 
Referências

The American Heritage® Medical Dictionary, 2004 - Houghton Mifflin Company. Publicado por:  Houghton Mifflin Company. (http://medical-dictionary.thefreedictionary.com/balanced+polymorphism)

“Global distribution of the sickle cell gene and geographical confirmation of the malaria hypothesis” - Frédéric B. Piel, Anand P. Patil et al, Nature comunications, 2010

“Sickle Hemoglobin Confers Tolerance to Plasmodium Infection” - Ana Ferreira, Cell 145, 398–409, April 29, 2011

 

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