Voltando ao chiqueiro criação vs evolução.
Como eu no texto anterior referi, Stephen Meyer
está de volta (com um livro intitulado "Darwin's Doubt" ou, como o
biólogo Nick Matzke gosta de lhe
chamar, "Meyer's hopeless monster, parte II"). Stephen Meyer deixou
clara a sua posição num dos capítulos do seu livro: «é possível que os genes
semelhantes possam ter sido criados separadamente para satisfazer necessidades
funcionais semelhantes em contextos orgânicos diferentes», que pouco difere do
tradicional "porque deus quis". Será que Meyer realmente acha que o
designer (o deus judaico-cristão, deixem-se de tretas) brincou, por exemplo,
com o genoma de uma espécie Drosophila entre milhares, produziu o sdic,
colocou-o entre os dois genes que parecem ser os pedaços dos genes ancestrais,
imitou o processo de mutação típico e, em seguida, fez uma redução direccionada
da diversidade genética imitar a acção recente da selecção natural (1, 2)?
Mesmo que se aceitasse que é possível que deus tivesse feito os genes
semelhantes por causa da sua função, não explica o contexto. Além disso
normalmente os genes duplicados divergem em função. Porque não fazer 2 genes
que não pareçam duplicados (que não pareçam homólogos, neste caso parálogos),
cada um com sua função e nada para enganar os cientistas? A resposta mais óbvia
é porque não foi obra de nenhum deus, foram os processos naturais que já se
sabe que produzem o efeito em questão.
A homologia (entre genes, proteínas ou estruturas anatómicas de organismos de espécies diferentes) é uma previsão da teoria da evolução. Esta foi cumprida. Mas agora os criacionistas estão todos histéricos a dizer que é devida a um criador comum. Pois... E isto: «Curiosamente, embora AIM2 seja importante na defesa contra algumas bactérias e vírus em ratos, AIM2 é um pseudogene na vaca, ovelha, lama, golfinho, cão e elefante. Os outros 13 genes de rato surgiram por duplicação e rearranjo dentro da linhagem, o que permitiu alguma diversificação nos padrões de expressão» (3). É claro que se pode dizer que os pseudogenes foram lá postos porque "deus quis" e não indicam ancestralidade comum, o que não explica rigorosamente nada e não encaixa sequer na noção de semelhança sequencial devido à semelhança funcional. Mais ainda: A mioglobina do molusco da califórnia Sulculus diversicolor tem uma estrutura diferente de mioglobina normal,
As 2 cadeias alfa e as 2 beta da hemoglobina (originadas por duplicação), cada uma ligada a um grupo heme . |
Referências:
1. http://www.oeb.harvard.edu/faculty/hartl/lab/PDFs/Ponce-06-Gene.pdf
2. http://www.sciencemag.org/content/291/5501/128.short
3. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3458909/
4. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8765749
5. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2922537/
6. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6639644
7. http://todd.jackman.villanova.edu/HumanEvol/WilsonKing1975.pdf
Notas:
1. Mais informações sobre o assunto nos arquivos do "Talkorigins" (disponível aqui: http://www.talkorigins.org/faqs/comdesc/)
2. Relativamente ao conteúdo do livro de Stephen Meyer, foi consultada a revisão pelo biólogo Nick Matzke no "Panda's Thumb" ("Meyer's hopeless monster, parte II"); as referências 1 e 2 foram encontradas através de um texto do mesmo autor no "Panda's Thumb" ("Random responses to Luskin on evolution of creationism, quotes, and information")
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