quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A Rainha Negra: Esta carta eu não quero.

Parte da complexidade dos genomas e o aumento bruto do seu tamanho podem ser explicados por uma combinação de fatores não-adaptativos - como a dominância da deriva genética associada a perda de eficiência da selecção natural em populações pequenas, e adaptativos indirectos como os associados aos simbiontes, comensais e parasitas genómicos que povoam os genomas dos seus hospedeiros. O genoma pode ganhar genes, mas também pode perdê-los. Isso pode ser através da dispensabilidade dos mesmos ou pode mesmo haver vantagem selectiva na sua perda. Esta é a hipótese da rainha negra (1): A hipótese foi assim designada em função da Dama de Espadas no jogo de copas, onde a estratégia habitual é evitar ficar com esta carta. 
A hipótese da rainha negra propõem-se a explicar a evolução através da redução que acontece em microrganismos de vida livre habitantes de comunidades complexas que, muitas vezes, perdem genes fundamentais. Como já foi mencionado, a perda na evolução de espécies de vida livre parece envolver selecção, ou seja, parecem haver vantagens reprodutivas devido a tal perda. Essas vantagens podem levar a que os micróbios, ao perderem certos genes, se tornem dependentes do metabolismo de outras espécies, quer para a produção de certos compostos essenciais, quer para a destoxificação de outros.
Esta hipótese faz uma previsão: a perda de uma função metabolicamente custosa, mas que seja a origem de bens comuns (na comunidade de micróbios) seria selectivamente favorável ao nível dos indivíduos, pois estes organismos poderiam contar com a produção desses bens, pelo menos, enquanto estes puderem sustentar a comunidade. Este tipo de evolução daria origem a beneficiários que iriam adquirir a vantagem do seu conteúdo genómico reduzido e benevolentes dos quais dependeriam os primeiros tipos de microrganismos que seriam dependentes da produção/degradação de certas moléculas realizada por outros. Quem se debruçou sobre o assunto foi Richard Lenski (et al), cuja pesquisa foi publicada na revista “mBio” (American Society for Microbiology) com o título “The Black Queen Hypothesis: Evolution of Dependencies through Adaptive Gene Loss”

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