Parte da complexidade dos
genomas e o aumento bruto do seu tamanho podem ser explicados por uma
combinação de fatores não-adaptativos - como a dominância da deriva
genética associada a perda de eficiência da selecção natural em populações
pequenas, e adaptativos indirectos como os associados aos simbiontes, comensais
e parasitas genómicos que povoam os genomas dos seus hospedeiros. O genoma pode
ganhar genes, mas também pode perdê-los. Isso pode ser através da
dispensabilidade dos mesmos ou pode mesmo haver vantagem selectiva na sua
perda. Esta é a hipótese da rainha negra (1): A hipótese foi assim designada em
função da Dama de Espadas no jogo de copas, onde a estratégia habitual é evitar
ficar com esta carta.
A hipótese da rainha negra
propõem-se a explicar a evolução através da redução que acontece em
microrganismos de vida livre habitantes de comunidades complexas que, muitas
vezes, perdem genes fundamentais. Como já foi mencionado, a perda na evolução
de espécies de vida livre parece envolver selecção, ou seja, parecem haver
vantagens reprodutivas devido a tal perda. Essas vantagens podem levar a que os
micróbios, ao perderem certos genes, se tornem dependentes do metabolismo de
outras espécies, quer para a produção de certos compostos essenciais, quer para
a destoxificação de outros.
Esta hipótese faz uma
previsão: a perda de uma função metabolicamente custosa, mas que seja a origem
de bens comuns (na comunidade de micróbios) seria selectivamente favorável ao
nível dos indivíduos, pois estes organismos poderiam contar com a produção
desses bens, pelo menos, enquanto estes puderem sustentar a comunidade. Este
tipo de evolução daria origem a beneficiários que iriam adquirir a vantagem do
seu conteúdo genómico reduzido e benevolentes dos quais dependeriam os
primeiros tipos de microrganismos que seriam dependentes da produção/degradação
de certas moléculas realizada por outros. Quem se debruçou sobre o assunto foi Richard
Lenski (et al), cuja pesquisa foi publicada na revista “mBio” (American Society
for Microbiology) com o título “The Black Queen Hypothesis: Evolution of
Dependencies through Adaptive Gene Loss”
Refs.:
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