As alergias incomodam muita gente. Incluindo eu própria.
Incomodam até mais do que o criacionismo. No entanto investigadores têm tentado
descobrir uma possível vantagem evolutiva para as reacções alérgicas.
Relembrando as minhas aulas de imunologia, uma hipótese foi proposta com base
no envolvimento das IgE (sistema imunitário adaptativo) tanto na defesa contra
parasitas intestinais, como na reacção alérgica, a qual afirma que as IgE evoluíram
para nos proteger dos parasitas e as alergias eram um efeito colateral dessa
evolução. Mas há mais: num um artigo publicado em Abril de 2012 na revista
Nature, Medzhitov e os seus colegas argumentam que as alergias surgiram para
nos proteger de substâncias potencialmente tóxicas no meio ambiente ou em alimentos. Por outras
palavras, não são apenas uma desorientação do sistema imune. O investigador
explica: "Como é que alguém se defende contra algo que inala que não quer?
Faz muco. Faz o nariz escorrer, espirra, tosse. Ou se é na pele, induz a
sensação de comichão, para ser removido, arranhando". Da mesma forma, se
ingerir algo prejudicial, o corpo pode reagir com vómitos.
Entre as evidências Medzhitov cita um estudo de 2006 publicado
na revista Science, que relatou que as células-chave envolvidas em respostas
alérgicas degradam e desintoxicam o veneno de cobra e de abelha. E um estudo de
2010 publicadono Journal of Clinical Investigation sugere que reacções alérgicas
às secreções da carraça evitam as pragas de fixação e alimentação.
Esta pode coexistir sem problemas com a ressuscitada
hipótese higiénica, que sugere que as pessoas que se deparam com uma série de
bactérias e vírus no início da vida investem mais recursos do sistema
imunológico em respostas do tipo I.
Para quem é alérgico, isto são boas notícias: nem tudo é mau
nas alergias e não somos assim tão disfuncionais.
Mas como evoluíram as moléculas do sistema imunitário
adaptativo? O sistema imunitário adaptativo, em mamíferos, que está centrado
nos linfócitos receptores de antigénios que são gerados por recombinação
somática, surgiu há aproximadamente
500 milhões de anos em peixes da família Opistognathidae.
Acredita-se que tenham contribuído para a génese do sistema imunitário
adaptativo: o surgimento do gene (transposão) de activação da recombinação
(RAG), e duas fases de duplicação do genoma inteiro, numa época próxima da
altura da origem dos vertebrados. Foi recentemente descoberto que algo
semelhante, incluindo duas linhagens de células linfóides, surgiu em peixes sem
mandíbula por evolução convergente.
Em termos de pressões selectivas, uma hipótese que enfatiza
a importância do intestino sugere que, com o advento das maxilas, material
digerido poderia ferir o intestino e, portanto, resultar em infecções maciças.
O sistema imunitário surgiu então como sistema de defesa e tornou-se mais
importante e mais sofisticado, com o surgimento de predadores vertebrados
maiores com mandíbula que tinham poucos descendentes.
Refs.:
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