sábado, 31 de agosto de 2013

Homologia, homoplasia e evidências da evolução

A homologia é testada, não se pressupondo que as semelhanças entre certas estruturas anatómicas, genes ou proteínas indicam por si só que estes são homólogos (isto é, que estes partilham um ancestral comum). Uma abordagem interessante para distinguir entre múltiplas origens e ancestralidade comum, é a apresentado por Douglas Theobald num artigo intitulado “A formal test of the theory of universal common ancestry” (1). Outra abordagem (2) é que, apesar de que talvez o que Theobald pretendia fazer seja inalcançável, há várias linhas de evidência que levam os cientistas a poder afirmar que a origem independente (o que incluiu evolução convergente por selecção devido á função da proteína) é muito menos provável do que a ancestralidade comum: várias vias estão disponíveis para a evolução proteica, os casos registados de evolução convergente não incluem sequências muito semelhantes, enzimas diferentes têm a mesma função.
Muitas vezes ao analisar dados moleculares (que são usados na elaboração de hipóteses filogenéticas) descobrem-se casos de homoplasia anatómica (morfológicas), como aconteceu com certas espécies de plantas da família Malvaceae (malvas) (3). Mais ainda, um bom exemplo de homologia genética, mas não anatómica é o do gene regulador Pax6, que existe em animais tão distintos como moscas do género Drosophila e ratos, o qual funciona como um interruptor para diferentes programas de desenvolvimento em diferentes tipos de organismos, sendo tido como homólogo não só apenas pela sua semelhança bioquímica (sequencial), mas pela sua distribuição taxonómica (4).
Em termos de desenvolvimento anatómico temos o exemplo dos arcos branquiais, cuja distribuição taxonómica das vias de desenvolvimento através destes é evidência para ancestralidade comum entre peixes e tetrápodes (4).
Há ainda que distinguir dois tipos de homologia molecular: um par de genes pode incluir parálogos, que partilham um gene ancestral em comum que se duplicou, ou ortólogos, cujo ancestral comum estava presente numa espécie que deu origem a outras, suas descendentes, cada uma com a sua versão do mesmo gene. Os últimos são usados para construir árvores filogenéticas de uma espécie e os primeiros são usados para construir árvores de genes. E, como já foi referido algures aqui no blog, em filogenética não se assume ancestralidade comum.
As evidências da evolução não estão apenas nas semelhanças observadas entre genes, proteínas e estruturas anatómicas, mas no padrão que elas formam – Já foram dados vários exemplos anteriormente (ao longo dos textos deste blog) e, de um modo geral, é o padrão de uma árvore genealógica.
Apesar de tudo o que eu já expliquei ser assim desde que se estudam estas coisas os criacionistas não conseguem acertar uma relativamente ao assunto, o que ficou bastante explicito no livro de Wells, "Icons of Evolution" (2000).

Nota: Uma extensa crítica ao livro de Wells, “Icons of Evolution” (2000), elaborada pelo Dr. Alan D. Gishlick do NCSE (geólogo), pode ser encontrada aqui: http://ncse.com/creationism/analysis/icons-evolution.

Referências:

1. “A formal test of the theory of universal common ancestry”, Nature – Maio, 2010. Ver o artigo completo aqui.





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