Alguns ateus poderiam dizer que o que os levou á descrença em deus foi o estudo da teoria da evolução (e/ou de outras relacionadas com as origens), Richard Dawkins incluído. Não foi isso que me levou a não acreditar em deus.
Primeiro que tudo, nunca houve um conflito entre o relato do génesis e a teoria da evolução porque desde pequena que me foi ensinado em casa que os seres humanos descendem de ancestrais parecidos com macacos, que a terra é muito antiga, que os primeiros seres vivos eram simples e que ainda não se sabia ao certo como começou a vida na terra. No entanto tive contacto com a religião e com a história do génesis na catequese, apesar dos meus pais serem agnósticos (no sentido de “não se pode saber”), prática que abandonei muito cedo – aos 8 anos, talvez. Acreditava num espírito que sobrevivia á morte (acho que não aguentava pensar que a minha avó, o meu gato e o meu cão tinham morrido definitivamente), acreditava em Maria e Jesus (e sabia que havia equivalentes noutras religiões) no sentido de “amar e perdoar o próximo”, mas não me lembro de dar importância a assuntos como a ressurreição física e a existência ou inexistência de deus até aos 11 anos, quando me apercebi que todos os meus amigos, não só acreditavam nele, como também falavam com ele, ou seja, rezavam. Isto pareceu-me muito estranho, porque eles não tinham maneira de saber se deus os ouvia. E todos os dias eu ia para a escola, voltava para casa, saía de casa, etc, tudo isto sem uma única manifestação divina na minha vida. Foi quando eu pensei porque é que as pessoas acreditavam numa coisa que nunca viam e que nunca fazia nada e pensei que isso era bastante parecido com uma coisa que não existia.
Mais tarde, já com 12 anos e no 7º ano de escolaridade apercebi-me dos conceitos de evidência, fonte histórica e “conhecimento vs fé”(o meu professor de história era arqueólogo) e foi então que cimentei a ideia de que uma coisa que nunca se manifesta, não deixa evidências e que é aceite apenas por fé provavelmente não existe. Aos poucos fui-me apercebendo de que muitos acreditavam no relato do génesis e que era por isso que acreditavam em deus, o que desencadeou a necessidade de procurar uma explicação científica para as origens. E então começou o meu interesse pela origem e evolução da vida, embora o que primeiro me chamou a atenção foi a teoria de Lamarck (e não a de Darwin) e a explicação para a origem da vida, incluindo a experiência de Miller – e felizmente tive um professor de biologia e geologia que me deu uma dicas para a pesquisa. O meu interesse na teoria proposta originalmente por Darwin surgiu quando assisti a um debate sobre o tema na escola.
Cheguei a ter alguns problemas na escola com os professores (e a minha família também) devido ao facto de não ter aulas de religião e moral e com os colegas porque dizia que não era católica e achava estranho que amigos meus e colegas rezassem. Os professores insistiam muito para que eu tivesse aulas de religião e moral e chegaram mesmo a tentar convencer-me de era obrigatório.
Resumindo: acho que posso dizer que nunca acreditei em deus, mas sim que este era uma vaga ideia e que até o Pai Natal foi mais importante para mim enquanto criança do que deus; simplesmente, até determinada idade nunca dei importância ao assunto da existência (ou inexistência) de deus e quando finalmente dei, apercebi-me de que deus não existia. Sem evidências não se pode aceitar uma hipótese como verdadeira e do mesmo modo que não existem evidências de que há duendes invisíveis no quintal, também não existem evidências de que deus exista. É simples.
Por muito tempo pensei que o termo ideal para mim seria agnóstica, mas penso que estava errada. Para ser ateia não é necessário ter certezas, mas sim não acreditar. Sempre fui ateia desde que tinha idade para decidir, apenas nunca do tipo que acredita que deus não existe (em vez de não acreditar que existe). Mas a minha história é basicamente o contrário da de Richard Dawkins, pois este tornou-se ateu devido ao seu interesse pelas explicações sobre as origens, enquanto que eu me tornei mais interessada no assunto por ser ateia, embora sempre tivesse gostado de ciências.
P.S.: Ainda bem que nunca tive religião e moral – uma vez entrei por engano na sala e a professora estava a dizer que a terra era jovem e a dar o exemplo de um mamute preservado para o ilustrar (holy shit…).