segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Aborto: Sim ou não?


A legalização do aborto induzido é um assunto controverso.

É um procedimento seguro para a mulher, quando realizado por profissionais (1).

Um embrião pode ser considerado humano pelo conteúdo genómico, mas, como exemplo, uma mórula não é certamente um organismo humano – é um aglomerado de células; um embrião com 6 semanas de gestação não é um organismo humano totalmente formado e muito provavelmente não tem nem a capacidade de sentir dor com o processo abortivo. O sofrimento do embrião (ou do feto) tem sido posto em causa e ainda não há consenso sobre a altura em que um embrião pode sentir dor, mas segundo estudos, a idade mínima é entre as 7 e as 8 semanas e a máxima é ás 23 semanas de gestação (2). Há que considerar ainda qual seria a vida de uma criança indesejada – bastante diferente de uma criança desejada, com pais que não teriam propensão para o abandono á nascença, e cujas condições monetárias lhe podem propiciar uma vida com cuidados de saúde e a educação necessária.

Poder-se-ia argumentar que os direitos da mulher acabam onde começam os do embrião. Mas isso está fora de questão quando comparamos um ser consciente com capacidade de sofrimento físico e psicológico com algo que não é consciente e não tem nem a capacidade de sentir dor.  

O que pensar disto tudo: sim, por esta perspectiva (sem considerar outros factores associados á prática do aborto) o aborto deve ser permitido, desde que não provoque sofrimento.

É claro que o caso de uma mulher que seja violada ou que seja demasiado nova para levar a cabo uma gravidez com segurança nem vale a pena discutir (é um grande “Sim”).

 

Referências (*):





(*) Em ambos os casos devem ser consultadas as referências do artigo

Evolução: Vírus e Retrovírus Endógenos (reeditado)


A origem evolutiva dos vírus é difícil de determinar.

As hipóteses de origem dos vírus são:

(i) teriam sido originalmente pedaços de RNA que adquiriram capacidade replicativa e que teriam antecedido a célula;

(ii) ter-se-iam originado da alteração de estruturas celulares normais (material genético) / como subprodutos celulares, que adquiriram a capacidade de entrar e sair de células hospedeiras

(III) teriam sido formados no mesmo período em que se formaram as células.

Na minha opinião estes teriam sido formados não muito depois das primeiras células se terem formado, talvez a partir destas.

No entanto, alguns vírus de RNA aparentam ter uma origem diferente, devido ao facto do seu genoma ser constituído por RNA (apoiado pelas evidências da teoria do RNA World), o que deixa a questão em aberto relativamente a estes.

Todas as famílias de vírus apresentam adaptação ao parasitismo (intra-celular), o que leva a inferir que perderam alguns dos seus componentes (ou que estes deixaram de desempenhar determinadas funções), passando a depender de células hospedeiras. – quer tenham perdido estes componentes aquando da separação da célula quer tenham sido auto-suficientes como organismos diferentes de células.

Os retrovírus endógenos (ERV), encontrados em chimpanzés, humanos e outros animais, são provavelmente de origem viral. A maioria dos HERVs infectaram os humanos há 25 milhões de anos, embora outros sejam mais recentes e alguns tenham infectado os nossos ancestrais já depois da divergência dos chimpanzés (há 6 milhões de anos). Os elementos retrovirais podem ter contribuido para os rearranjos cromossómicos ao longo da linhagem (deleções, duplicações).

Os retrovírus endógenos são também responsáveis por alguma da diversidade fenotípica, por exemplo, em ratos, devido á sua mobilidade.

Os retrovírus são mais uma peça no puzzle da evolução.

 

Referências:

 

"Virologia Básica"





domingo, 30 de dezembro de 2012

Algumas concepções (erradas) sobre espécies e especiação:

Há alguns dias recebi um comentário com uma questão que demonstrava uma concepção errada sobre espécies e especiação. Eu não sou perita no assunto, mas respondi o melhor que consegui.

A pergunta: «Pergunto, vc tem algum artigo científico que mostre alguma pesquisa em que foram observados, através da seleção natural, a mudança de uma espécie para outra? Sempre vejo o pessoal falar que os artigos apenas demonstram microevolução, variação dentro de uma mesma espécie, mas não a macroevolução, mudança de espécie!

Eu não tenho muito conhecimento na área e acho que vc seria alguém imparcial para me falar sobre isso. No aguardo da resposta, obrigado.

Só para esclarecer, mudar para uma espécie diferente, por exemplo um réptil que se transformou em ave, ou um anfíbio e que passou a ser réptil, só como exemplo.»

A resposta:

«"por exemplo um réptil que se transformou em ave, ou um anfíbio e que passou a ser réptil, só como exemplo."

Não. O facto de não conseguirmos observar uma transição de reptil para ave é devido ao facto da evolução ser gradual (problemático para a teoria da evolução seria se conseguíssemos). Também tenho que relembrar que repteis não deram origem a aves, mas sim um ancestral comum. As evidências que existem são baseadas na homologia (sobretudo a que se observa a nível genético). São calculadas (estatísticamente) árvores filogenéticas com base nisso. Mas isto não é apenas mudar para uma espécie diferente, mas sim para uma classe diferente. Partes do processo de especiação têm sido observadas, até mesmo com muita dificuldade nos cruzamentos (fungos, em laboratório). Existem ainda os exemplos (ainda em estudo) das espécies em anel que apontam para especiação parapátrica ou alopátrica com formação de híbridos numa fase anterior do processo de divergência - de um modo simplista (http://allthatmattersmaddy32.blogspot.com/2012/12/especies-em-anel-revisitadas.html).
Para ver um estudo sobre especiação de fungos: http://www.biomedcentral.com/1471-2148/8/35»  

Evolução & Saúde (a teoria da evolução não é inútil!)


Foi referido anteriormente um exemplo em que a Teoria da evolução e a medicina se encontram: o exemplo dos estudos sobre resistência á malária conferida pelo traço falciforme em populações de zonas afectadas. A teoria da evolução é importante para perceber a dinâmica da genética de populações também relativamente a doenças (por isso mesmo tenho uma cadeira de genética que inclui genética de populações).

Mas as aplicações da teoria da evolução á área da saúde não ficam por aqui. Tal como podemos calcular árvores filogenéticas para, por exemplo, espécies diferentes de parasitas, podemos também calculá-las para anticorpos, o que auxilia na compreensão da sua maturação e podemos ainda inferir precursores. Por exemplo: os anticorpos contra o HIV (de reacção cruzada) de vários pacientes foram analisados numa perspectiva de procurar vias comuns de maturação, através do estudo da sua “história evolutiva” (uma vez que a maturação dos anticorpos resulta de um processo semelhante á evolução das espécies).

Ainda há por aí alguém que questione a utilidade da teoria da evolução?
 

Referências:

Focused Evolution of HIV-1 Neutralizing Antibodies Revealed by Structures and Deep Sequencing” - Science 333, 1593 (2011);

 

O código de Stephen C. Meyer (reeditado)

A propósito do design inteligente, há ainda a propaganda de Stephen C. Meyer que diz que as sequências de DNA e aminoácidos funcionam como mensagens escritas e que o código genético funciona como os caracteres numa linguagem escrita. Isso é um absurdo. Tem sido discutido ad nauseam que se tratam apenas de moléculas a reagirem com moléculas e que existem evidências da origem natural do código genético e da vida em si. Mas os criacionistas dão mais crédito a um geólogo do que a vários biólogos e bioquímicos que dizem todos a mesma coisa: a vida é uma ocorrência natural.

Segundo o próprio, quando Meyer descobriu que os cientistas não tinham ainda uma teoria estabelecida sobre a origem da vida, mas sim vários tipos de evidências dispersos, ficou muito admirado. Uau. O Dr. Meyer descobriu a realidade da ciência moderna não aguentou.


Referências:

1.Centre for Intelligent Design Lecture (2011) by Stephen Meyer on 'Signature in the Cell' (https://www.youtube.com/watch?v=NbluTDb1Nfs)

sábado, 29 de dezembro de 2012

Complexidade especificada: impossível de aplicar


Como eu referi anteriormente, a complexidade especificada é um valor probabilístico. Os cálculos probabilísticos neste contexto quando aplicados a estruturas biológicas não têm significado real (demasiadas variáveis). Dembski tentou realizar cálculos com base na pressuposição de que Michael Behe estava certo relativamente ao conceito de complexidade irredutível – de que as estruturas irredutivelmente complexas não podem ter evoluído. O que está errado. E fez perder tempo a toda a gente, porque se o Michael Behe estava errado, o William Dembski também. Se não, os cálculos eram inúteis. E ainda hoje eu estou a perder tempo estupidamente. 

O “conceito” é tão útil como a falsa analogia do Boeing 747 numa sucata (Sir Fred Hoyle). 

 

Referências:

Teoria da evolução aproximadamente neutra


A teoria da evolução "quase neutra" molecular propõe que muitas características do genoma surgem a partir da interacção de três forças evolutivas fracas: mutação, deriva genética e selecção natural no seu limite de eficácia. Tais forças geralmente têm pouco impacto sobre as frequências alélicas dentro de populações de geração para geração, mas pode ter efeitos significativos na evolução a longo prazo. A dinâmica evolutiva de mutações fracamente selecionadas são muito sensíveis ao tamanho da população, e esta teoria foi inicialmente proposto como um ajustamento da teoria neutra para explicar padrões proteicos gerais disponíveis e os dados de variação de DNA.

 
Referências:

Evolução molecular: aplicações


Os princípios da evolução são fundamentais para a compreensão organização biológica ao nível das populações de organismos e para explicar o desenvolvimento de genomas e função macromolecular. A evolução adaptativa também se tornou uma ferramenta química para descobrir e optimizar macromoléculas funcionais no tubo de ensaio.

Num estudo publicado em 2008 foi descrito um sistema que se baseia em controlo por computador e tecnologia de chips microfluídicos para automatizar a evolução dirigida de moléculas funcionais, sujeitos a parâmetros definidos com precisão. Foi usada uma população de biliões de enzimas de RNA (com actividade de RNA-joining), que foram desafiados a reagir na presença de concentrações progressivamente mais baixas de substrato. As enzimas que reagiram foram amplificadas e as resultantes foram desafiadas de forma semelhante. Sempre que o tamanho da população atingia um limiar predeterminado, operações baseadas no chip foram executadas para isolar uma fracção da população, e misturá-la com reagentes. Observou-se a evolução em tempo real, ao modo como a população se adaptou às limitações impostas e alcançou taxas de crescimento progressivamente mais rápidos ao longo do tempo.

O enzima final possuía 11 mutações que conferem uma melhoria de 90 vezes na utilização do substrato, coincidindo com a pressão aplicada selectiva.
 
Referências:
 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

“The edge of evolution”: revisão


Anteriormente mencionei um estudo por Richard Lenski onde se demonstrava a acumulação de várias mutações benéficas, cujo conjunto no total teria uma probabilidade bastante baixa – inferior a 1:10^20, a qual Behe considerou um limite para a evolução. No entanto pode-se afirmar que não é significativo, uma vez que Behe assume que as mutações em separado são prejudiciais, tendo por isso que acontecer ao mesmo tempo ou são eliminadas por selecção. Mas isso não é verdade. De acordo com a teoria da neutralidade aproximada, tem-se que mutações ligeiramente prejudiciais podem persistir e até fixar-se (não falando nas neutras).
 
Relembrando "A caixa Preta de Darwin": Michael Behe admite (nesta obra) que os sistemas irredutivelmente complexos podem evoluir por "vias indirectas", mas que na sua opinião não são uma boa explicação.


Referências:

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A evolução, as probabilidades e os criacionistas


Um dos argumentos típicos dos criacionistas é que quando sai uma mão de bridge, esta tem que ter sido inteligentemente escolhida (e não ao acaso) devido á sua improbabilidade (1: 635 biliões). Pode parecer ridículo, mas para dizer que certo acontecimento não ocorre sem intervenção divina porque demoraria demasiado tempo (Gauger e Axe), os criacionistas utilizam argumentos probabilísticos, sendo isso o equivalente ao caso do bridge (1). Este tipo de argumentação é semelhante á do William Dembski (uma vez que CSI apenas significa improbabilidade) e do Michael Behe (2). Quando se aplica este raciocínio a uma situação trivial, o argumento parece ainda mais ridículo. As coisas simplesmente acontecem não são necessários deuses e unicórnios na explicação.

Uma curiosidade: uma mulher ganhou 2 lotarias em 3 meses e outra ganhou 2 lotarias no mesmo dia (3). Segundo os criacionistas isto é impossível sem intervenção divina.

E sim, muitas mutações neutras (aproximadamente) acumulam-se por deriva genética (aleatória) e podem contribuir para o desenvolvimento de novas funções moleculares.   

 

Referências:


Evolução molecular e mutações neutras


Muitas das mutações acumuladas naturalmente em proteínas são neutras no
sentido de que não alteram significativamente a capacidade de uma proteína para desempenhar a sua função biológica primária.
No entanto, novas funções de proteínas evoluem quando a selecção começa a favorecer outras funções “promíscuas”. Se as mutações que são neutras em relação a mudanças nas funções biológicas primárias causam mudanças substanciais nas funções promíscuas, estas podem permitir a evolução funcional no futuro.
Foi investigada esta possibilidade experimentalmente, examinando como enzimas que se desenvolveram de forma neutra com respeito à actividade sobre um único substrato (o citocromo P450), foram alteradas nas suas habilidades para catalisar reacções em cinco outros substratos.
A partir da diversidade de sequências dos P450s foi elaborada uma árvore filogenética.
Acumularam uma média de quatro mutações não-sinónimas cada. A maior parte das mutações nas variantes P450 são únicas – de um total de 105 diferentes substituições de aminoácidos, apenas 12 ocorrem em mais do que uma variante.
Foi sugerido que a deriva genética com mutações inicialmente neutras pode levar a mudanças substanciais nas funções de proteínas que não estão actualmente em fase de selecção, sendo favorecida a evolução de novas funções num futuro. (1)

A engenharia de proteínas (com métodos baseados na teoria da evolução) tem também fornecido dados que ajudam a compreender a evolução natural das proteínas: podem ocorrer mutações benéficas em sequência ou as mutações podem ser neutras (ou próximas disso) e acumularem-se sem selecção, podendo contribuir para o desenvolvimento de novas funções. (2) 


Referências:


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Fósseis: Tiktaalik e Panderichthys

O Tiktaalik foi proposto como sendo o fóssil que melhor demonstrava a transição entre peixes e tetrapodes. Mais recentemente foi encontrado um fóssil,  Panderichthys, que mais provavelmente demonstra a transição entre estes. Estes teriam uma relação mais distante com os primeiros tetrapodes e teriam provavelmente evoluído convergentemente algumas estruturas.
Uma das características de identificação de tetrápodes (vertebrados com membros) é a presença de dedos das mãos e pés. Considerando que a parte proximal do esqueleto dos membros dos tetrápodes podem ser facilmente como homólogos dos esqueletos  de nadadeiras pareadas de peixes sarcopterígeos, tem havido muito sobre a origem dos dedos. Desde 1990, a idéia de que os dígitos são novidades evolutivas sem equivalentes diretos em esqueletos  de barbatana ganhou aceitação. Isto foi em parte baseado em dados genéticos, do desenvolvimento. Foi realizado um estudo tomográfico de uma barbatana peitoral do Panderichthys demonstrando que a placa 'ulnare "de reconstruções anteriores é um artefato e que os radiais distais estão de fato presentes. Esta porção distal é mais  como a dos tetrápodes do que a encontrada no Tiktaalik, e está de acordo com novos dados sobre o desenvolvimento da barbatana em vários tipos de peixe, o constitui um forte argumento para os dedos não serem uma novidade dos tetrápodes, mas derivado de radiais distais pré-existentes, presentes em todos os peixes sarcopterígeos.
Esta situação ilustra uma diferença significativa entre ciência e religião: enquanto que na ciência se corrigem os erros e imprecisões na religião impera o pensamento dogmático, com a ideia de que se algo tem que ser corrigido é sinal de que uma teoria está a ser destruída e tem que ser reposta por uma outra (mesmo que não existam razões para tal), que passa a ser uma verdade absoluta e incontestável. Por isto (e por outras razões) não se deve misturar ciência com religião (e eu nem estaria a escrever sobre isso se não existissem pessoas que pretendem que o pensamento dogmático impere no meio científico)
Referências:





domingo, 23 de dezembro de 2012

Os criacionistas, as letrinhas do DNA e os erros gramaticais

Os bioquimicos, biólogos moleculares e afins são bastante comodistas. Normalmente representamos as sequências de DNA com as letras ACTG (e U em vez de T no caso do RNA). O problema com isto é que há criacionistas que acham que isto é uma boa representação da realidade, pois na sua opinião dá fundamento á sua ideia de que o código genético é um código convencionado (como 1 corresponde a um). Não podiam estar mais enganados. Há uns tempos insisti com o criacionista (como de costume, o Jónatas Machado) para que representasse uma molécula de DNA (ou RNA, á escolha) com sequência ao critério e um péptido. Este referênciou em resposta vários esquemas que usam essa representação cómoda e simplista com letrinhas e disse que era escusado, pois essa sim, era uma óptima representação. Então eu especifiquei o tipo de representação (com a composição quimica, as ligações, tudo como deve ser). O Jónatas Machado continuou a insistir. Mas não há mesmo nada nem ninguém que meta juízo na cabeça de um criacionista? Acho que não.
Outra situação "traumatizante" é os erros gramaticais perpetuados pelos criacionistas e, pior ainda, o facto destes quererem que outras pessoas façam o mesmo. Voltei a fazer uma visita ao blog criacionista "Darwinismo" e lá estava o mesmo aviso numa resposta a um comentário: "Deus" (sic)  deveria ser escrito escrito com letra maiúscula. Não resisti a enviar um comentário a dizer que era errado. Provavelmente este não será publicado, mas ainda assim não resisti.
Ás vezes os criacionistas dizem (e fazem) tanto disparate que de certo conseguem fazer perder a cabeça ao menino Jesus. Acho que tenho que passar a ser mais "Zen" e não atribuir tanta importância a estas parvoíces.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Espécies em anel (revisitadas)


Uma espécie em anel é uma série de populações vizinhas, cada uma das quais pode cruzar com outras nas proximidades, mas para os quais existem, populações do extremo oposto da série, que são muito distantemente relacionadas e com as quais não se cruzam. Populações do “fim” podem coexistir na mesma região, fechando assim o "anel".

Um exemplo deste tipo de registo é o das salamandras do género Ensatina nas montanhas de Central Valley, Califórnia.

Existem 2 explicações possíveis para a sua origem que se podem traduzir no seguinte (de um modo simplista):

Especiação parapátrica: com zonas híbridas primárias a mostrarem os intermediários.
 
Especiação alopátrica ou geográfica: com zonas híbridas secundárias. Esta é a que mais se encontra de acordo com os dados actuais.   

De qualquer modo, é um bom exemplo de divergência (durante a qual podem ter ocorrido fases intermédias com hibridação) e da importância da situação geográfica para a mesma.

 

Referências:




Wake, D. (1997) Incipient species formation in salamanders of the Ensatina complex Proceedings of the National Academy of Science USA 94:7761-7767 (http://www.pnas.org/content/94/15/7761.full)


deus ou "Deus" ?

No blog "Darwinismo" (blog criacionista), reparei num pormenor: o autor aplica moderação (o que é perfeitamente normal) e um dos motivos que invocou para não publicar comentários foi escrever deus em vez de "Deus". (1) Escrever deus com letra maiúscula é um erro gramatical (embora existam professores que o encorageme até obriguem). Não se trata de um nome próprio. Javé, Jeová, Jesus, Zeus, Apolo e Branca de Neve são nomes próprios e por isso são escritos com letra maiúscula. É claro que num determinado contexto sabemos a que deus se refere, mas continua a não ser um nome próprio. A palavra deus tanto serve para os árabes designarem Alá como para os cristãos designarem Javé (ou Jeová). Nenhum deles se chama deus. E a palavra deus não é usada para distinguir um deus em particular dos outros deuses; o contexto é que distingue um certo deus de outros, assim como o contexto é que distingue um certo copo dos outro todos que existem - e quando alguém escreve "passa-me o copo", apenas o contexto nos diz que copo é ou se pode ser qualquer um de um pequeno conjunto de copos ou se estamos a falar do objecto "copo" em geral. Quando nos referimos a um determinado copo também não o escrevemos com letra maiúscula. O mesmo se aplica, por exemplo, á palavra protagonista.    

Insistir em cometer erros gramaticais para enaltecer o amigo imaginário de alguém é ridículo (embora existam ateus e agnósticos que o façam). Mais ridículo ainda é querer "forçar" outros a perpetuar o erro para enaltecer o próprio amigo imaginário. É degradante.    

1.    http://darwinismo.wordpress.com/2012/12/20/tsunami-do-japao-revela-o-poder-destrutivo-da-agua/#respond

Ensino do criacionismo: manter as crianças na ignorância


O problema do ensino do criacionismo abrange o domínio do "conforto". É mais confortável se o que se aprende na escola não esteja contra aquilo em que se acredita. É claro que os criacionistas também recorreriam logo á falácia do apelo á autoridade ("o professor X disse...").

O criacionismo, pode ser ensinado nas aulas de religião e moral, mas têm que ensinar o mito da criação cristão em conjunto com outros mitos da criação, como o mito que é. Como cá em Portugal o ensino da religião e moral é restrito ao catolicismo, não se deve ensinar o criacionismo como uma opção válida, privilegiando este sobre os outros mitos e tendo em conta que a primeira menção á evolução humana aparece no 7º ano (bem como a primeira menção á origem da vida), enquanto que as aulas de religião e moral são leccionadas desde o 5º ano, mantendo as crianças cujos pais são criacionistas (ou simplesmente não se importam) no engano e na ignorância.   

Conclusão e moral da história: o criacionismo não é apropriado para crianças. É mais importante o conhecimento do que o conforto, no que respeita a este tópico. Os filhos de criacionistas devem poder escolher por eles mesmos em vez de serem endoutrinados quer em casa, quer na Igreja ou na escola. As crianças podem e devem aprender sobre religião (conhecer é sempre bom), no entanto não devem ser manipulados mentalmente para acreditarem nos mesmos mitos em que os pais acreditam ou em que a maioria acredita (como o criacionismo, mesmo o criacionismo “leve”, versão católica), só porque sim.

A inteligência e a sua improbabilidade


A inteligência emerge sempre de um suporte físico – que se saiba, o cérebro. O cérebro complexo em conjunto com a inteligência e a capacidade de produzir design aparecem tarde na história da Terra, na evolução. E um cérebro é uma estrutura bastante improvável.

Normalmente teóricos do design extra-terrestre e criacionistas usam o argumento da improbabilidade (Dembski e Behe incluídos) para defender uma intervenção inteligente/divina. Mas esquecem-se de um pormenor: improvável seria a emergência desse ser inteligente, que teria que ter surgido e evoluído ou então ter sido criado por outro designer também muito improvável. É claro que, para um criacionista á boa moda antiga, isto não aquece nem arrefece – deus sempre existiu, é imaterial, etc. Mas para os criacionistas que afirmam (e reafirmam) propósitos científicos já não passa ao lado (ou não devia passar). Se a única objecção que têm contra uma origem natural de certas estruturas e organismos é a improbabilidade, o mesmo poderia ser dito do designer – e então teriam que defender um número infinito de designers, mas sabe-se que algum teria que ser o primeiro.   

Para os tradicionais criacionistas, fica um problema: a inteligência não é algo que vagueia por aí “sem corpo”. É necessário uma estrutura orgânica.    

Concluindo: o argumento da improbabilidade refuta-se a ele próprio.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A desonestidade ilimitada dos criacionistas

Relativamente á desonestidade dos criacionistas, ao que parece o arsenal atingiu proporções superiores ás esperadas (chamem o guiness).

O pessoal do Discovery Institute usou uma imagem de um laboratório "stock" para mostrar o "seu laboratório" e dar mais credibilidade aos seus "cientistas". Eu achava os criacionistas desonestos, mas nunca pensei que pudessem ir tão longe. Mas é claro que para os efeitos desejados (endoutrinação religiosa) não é necessário um laboratório, basta um enorme reportório de mentiras, argumentos da ignorância e outros argumentos enganosos  para iludir o público.

Como se isto não bastasse, o membro do discovery que apareceu na montagem (Ann Gauger) afirmou que "O maior problema da genética de populações é assumir a ancestralidade comum". Uau. Acabou de deitar por terra o fundamental da genética de populações. Parabéns. (Agora é que os criacionistas enlouqueceram. E de vez.)

Vendo as coisas pelo lado positivo: pelo menos tornou-se mais claro que os propósitos dos proponentes do DI nada têm a ver com ciência.

Referências:

http://arstechnica.com/science/2012/12/inteliigent-design-think-tanks-institute-is-a-shutterstock-image/#p3n


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Teoria da Evolução vs Criacionismo: o “Cientista X” (reeditado)


O argumento do cientista X já deu o que tinha a dar (zero). Não é isso que faz com que o design inteligente seja plausível ou que tem capacidade para competir com a teoria da evolução (e muito menos invalida a mesma. No entanto, os membros do Discovery Institute parecem não se aperceber disso. Além disso, muitos cientistas não interpretaram a famosa lista do Discovery Institute (“Scientific Dissent from Darwinism”) como os membros do Discovery desejam que ela seja interpretada pelo público. E isso foi demonstrado quando, após as respostas dos signatários terem sido maioritariamente dirigidas ao facto da teoria de Darwin ser insuficiente na explicação sobre a origem da vida, os responsáveis deixaram de aceitar respostas. Outro exemplo que demonstra isso é que da lista já pelo menos um signatário retirou a sua assinatura, afirmando que as controvérsias são“internas” á teoria (Robert C. Davidson). Continuando: os criacionistas que usam o argumento do cientista X adoram o exemplo do Dr. Stanley Salthe (talvez por ser ateu, talvez por ser “evolucionista”), mas nem sabem qual é a origem do desacordo relativamente á sua posição. Esta pode ser representada por: a Teoria Sintética da Evolução necessita de ser completada com outras teorias sobre a evolução da vida – ex.: aplicação da teoria dos sistemas (funcionamento integrado dos sistemas biológicos, emergência de propriedades biológicas, hierarquia, teoria geral dos sistemas) (1; 2). Como se isso não bastasse, o cientista afirma que não sabia a que se dedicava o Discovery Institute e declara sobre o design inteligente: “From my point of view, it's a plague on both your houses” (3). Até fiquei bastante admirada por esse nome ainda estar na lista dos "cientstas X" (5).
Como se não bastasse toda esta confusão, exageram nas credenciais dos signatários. Richard von Sternberg é um deles (5). Dado como membro do Smithsonian, este nunca o foi e foi repreendido por incompetência quando trabalhava no Biological Society of Washington (4).
Resumindo e concluindo: a lista é mais um epic fail criacionista.
Referências:
 
 
Leitura adicional:
 
 

sábado, 15 de dezembro de 2012

Por que não acredito em deus (reeditado)


Alguns ateus poderiam dizer que o que os levou á descrença em deus foi o estudo da teoria da evolução (e/ou de outras relacionadas com as origens), Richard Dawkins incluído. Não foi isso que me levou a não acreditar em deus.
Primeiro que tudo, nunca houve um conflito entre o relato do génesis e a teoria da evolução porque desde pequena que me foi ensinado em casa que os seres humanos descendem de ancestrais parecidos com macacos, que a terra é muito antiga, que os primeiros seres vivos eram simples e que ainda não se sabia ao certo como começou a vida na terra. No entanto tive contacto com a religião e com a história do génesis na catequese, apesar dos meus pais serem agnósticos (no sentido de “não se pode saber”), prática que abandonei muito cedo – aos 8 anos, talvez. Acreditava num espírito que sobrevivia á morte (acho que não aguentava pensar que a minha avó, o meu gato e o meu cão tinham morrido definitivamente), acreditava em Maria e Jesus (e sabia que havia equivalentes noutras religiões) no sentido de “amar e perdoar o próximo”, mas não me lembro de dar importância a assuntos como a ressurreição física e a existência ou inexistência de deus até aos 11 anos, quando me apercebi que todos os meus amigos, não só acreditavam nele, como também falavam com ele, ou seja, rezavam. Isto pareceu-me muito estranho, porque eles não tinham maneira de saber se deus os ouvia. E todos os dias eu ia para a escola, voltava para casa, saía de casa, etc, tudo isto sem uma única manifestação divina na minha vida. Foi quando eu pensei porque é que as pessoas acreditavam numa coisa que nunca viam e que nunca fazia nada e pensei que isso era bastante parecido com uma coisa que não existia.

Mais tarde, já com 12 anos e no 7º ano de escolaridade apercebi-me dos conceitos de evidência, fonte histórica e “conhecimento vs fé”(o meu professor de história era arqueólogo) e foi então que cimentei a ideia de que uma coisa que nunca se manifesta, não deixa evidências e que é aceite apenas por fé provavelmente não existe. Aos poucos fui-me apercebendo de que muitos acreditavam no relato do génesis e que era por isso que acreditavam em deus, o que desencadeou a necessidade de procurar uma explicação científica para as origens. E então começou o meu interesse pela origem e evolução da vida, embora o que primeiro me chamou a atenção foi a teoria de Lamarck (e não a de Darwin) e a explicação para a origem da vida, incluindo a experiência de Miller – e felizmente tive um professor de biologia e geologia que me deu uma dicas para a pesquisa. O meu interesse na teoria proposta originalmente por Darwin surgiu quando assisti a um debate sobre o tema na escola.
Cheguei a ter alguns problemas na escola com os professores (e a minha família também) devido ao facto de não ter aulas de religião e moral e com os colegas porque dizia que não era católica e achava estranho que amigos meus e colegas rezassem. Os professores insistiam muito para que eu tivesse aulas de religião e moral e chegaram mesmo a tentar convencer-me de era obrigatório.

Resumindo: acho que posso dizer que nunca acreditei em deus, mas sim que este era uma vaga ideia e que até o Pai Natal foi mais importante para mim enquanto criança do que deus; simplesmente, até determinada idade nunca dei importância ao assunto da existência (ou inexistência) de deus e quando finalmente dei, apercebi-me de que deus não existia. Sem evidências não se pode aceitar uma hipótese como verdadeira e do mesmo modo que não existem evidências de que há duendes invisíveis no quintal, também não existem evidências de que deus exista. É simples.

Por muito tempo pensei que o termo ideal para mim seria agnóstica, mas penso que estava errada. Para ser ateia não é necessário ter certezas, mas sim não acreditar. Sempre fui ateia desde que tinha idade para decidir, apenas nunca do tipo que acredita que deus não existe (em vez de não acreditar que existe). Mas a minha história é basicamente o contrário da de Richard Dawkins, pois este tornou-se ateu devido ao seu interesse pelas explicações sobre as origens, enquanto que eu me tornei mais interessada no assunto por ser ateia, embora sempre tivesse gostado de ciências.


P.S.: Ainda bem que nunca tive religião e moral – uma vez entrei por engano na sala e a professora estava a dizer que a terra era jovem e a dar o exemplo de um mamute preservado para o ilustrar (holy shit…).

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

"Darwinismo" - The best of: Argumentos criacionistas

Um dos argumentos standard dos criacionistas é o típico “cientista X”. Encontrei noutro dia um texto no blog criacionista “Darwinismo” (1) que utilizava o argumento do cientista X, neste caso do cientista Jerry Coyne (e outros, como Richard Dawkins e Kenneth Miller). É verdade. Era um híbrido entre “cientista X” e “citação com distorção de contexto e significado”. Normalmente o cientista X no contexto das citações de teóricos da evolução descontextualizadas serve para lançar dúvidas sobre o consenso científico relativamente á Teoria da Evolução ou então para tentar corroborar alguma parte irrelevante de um argumento criacionista, sendo esta mesma normalmente irrelevante. A alternativa a esta costuma ser indicar que o cientista X acredita em deus ou é criacionista, conforme o tópico abordado. E agora pasmem: desta vez o “Cientista X + Citação” foi utilizado para apoiar directamente a criação sobrenatural. A referência á aparência de design (por vários cientistas foi interpretada pelo criacionista como prova de que os ateus concordam que existe design no mundo natural, como o título (Ateus e criacionistas concordam: existe design no mundo natural) indica, dando apoio á ideia de uma criação inteligente sobrenatural - por outras palavras, de que um velho barbudo criou a bicharada toda em 6 dias. Uau. É claro que o criacionista se esqueceu que há uma diferença entre objectos projectados e “objectos” que apenas aparentam ser projectados, diferença várias vezes clarificada pelos cientistas em questão e razão pela qual Richard Dawkins cunhou o termo “designoid objects” (2) ao explicar esta diferença a crianças num programa educativo (que ironia!). E é também uma das razões que levou Jerry Coyne a escrever “Why Evolution is true” (também mencionado no texto).
Mas os criacionistas são peritos em desonestidade, portanto para eles isto não é um problema.  

 

Referências:
 



2. The Royal Institution Lectures For Children - “Growing Up in The Universe”, Dawkins, Richard (1991) (http://www.youtube.com/watch?v=ebIbuZ6kgsE);


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Informação, especificidade e confusão criacionista (reeditado)


Normalmente tenho-me referido á especificidade no contexto dos argumentos criacionistas como sendo a especificidade que vai influenciar os cálculos probabilísticos, portanto ao nível da informação medida - ex.: pode ser qualquer carta (p=1) ou apenas o ás de copas (baixa a probabilidade). Mas os criacionistas proponentes do D.I. não se referem á especificidade apenas nestes termos. Referem-se á especificidade como significado ou função (das proteínas e do DNA). O problema disto é que continuamos na mesma como a lesma e os criacionistas (Stephen C. Meyer e William Dembski incluídos) continuam a dizer que as moléculas têm significados e funções. Eu já tenho repetido que as moléculas não têm função (estão lá e reagem com outras moléculas) e não têm significado como este texto (mais uma vez, estão lá e reagem). Não há textos, não há letrinhas, não há símbolos. Os criacionistas sempre afirmam que os cientistas sérios fazem espantalhos dos seus argumentos ao discuti-los e que afirmar que se trata apenas de um argumento probabilístico é falso. Mas os termos significado e função não se aplicam desse modo. Podemos utilizar estes termos para comunicar melhor e facilitar a aprendizagem, nada mais. Mas tal como interpretam a Bíblia á letra (ou grande parte dela) também interpretam as nossas metáforas e truques de aprendizagem á letra. Alguns criacionistas menos informados (e menos inteligentes?) chegam mesmo a dizer que uma representação do DNA com as letras A, C, T e G é uma excelente representação e que nenhuma outra é necessária para a compreensão da sua composição e estrutura - basta ver os comentários do Jónatas Machado ("perspectiva") no blog Que treta.

 

Conclusão: O argumento de Dembski é um argumento probabilístico, visto que para ele complexidade é improbabilidade e a especificidade apenas baixa a probabilidade.

 

P.S.: O Jónatas machado continua com a treta do código como prova de que o deus dele criou tudo em 6 ou 7 dias.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Duplicação Genética: a “criação” de novos genes


Foi recentemente descrito um novo modelo / mecanismo pelo qual os genes duplicados podem reter a pressão selectiva para não sucumbir a mutações prejudiciais. Chamam-lhe o modelo de inovação-amplificação divergência (IAD).
Um gene inicialmente tem uma função única (A). Em seguida, algumas alterações genéticas torna também têm uma função nova, b, o que em primeiro lugar não é de importância muito grande. Então alguma alteração ambiental favorece as variantes genéticas com menos função b (o estágio de inovação). Isto é então seguido por uma duplicação do gene, de tal modo que existe mais do que uma cópia que realiza A e b (fase de amplificação). Nesta fase há selecção para mais b, e com algumas alterações genéticas vai aparecer um gene que é melhor numa nova função, B. Neste ponto, a selecção para os genes que fazem ambos, A e B é relaxada, porque o novo gene realiza a nova função. O gene original, perde a função de b, e ficamos com dois genes distintos.

Os insvestigadores, então, estudaram um gene preexistente na Salmonella enterica que tem níveis baixos de duas actividades distintas que lhes permite crescer sem os aminoácido a histidina e triptofano, respectivamente.

Referências:

Näsvall J, Sun L, Roth JR, and Andersson DI (2012). Real-time evolution of new genes by innovation, amplification, and divergence. Science (New York, N.Y.), 338 (6105), 384-7 PMID:
23087246 (http://www.sciencemag.org/content/338/6105/384.abstract)


domingo, 9 de dezembro de 2012

Evolução de estruturas complexas: ATP Sintase (adenda)


A F-ATP Sintase catalisa a formação de ATP usando um gradiente de protões, enquanto que a V-ATPase gera um gradiente de protões utilizando ATP, no entanto, existem semelhanças a nível funcional e de mecanismo.

Relativamente a estudos que demonstram que a ATP Sintase tem um ancestral comum com outros tipos de proteínas, encontrei um bastante satisfatório, intitulado "The evolution of A-, F-, and V-type ATP synthases and ATPases: reversals in function and changes in the H+/ATP coupling ratio", que aborda a origem comum da ATPase e da ATP Sintase a que me referi no texto anterior sobre a evolução desta estrutura, explicando que uma ATP Sintase pode ter tido origem numa  ATPAse ancestral. Na realidade, pelo menos 2 conversões de uma molécula para a outra teriam ocorrido. Este estudo evidencia também o papel da duplicação e fusão de genes no processo evolutivo  desta molécula e descreve passos intermediários.

Referências:

The evolution of A-, F-, and V-type ATP synthases and ATPases: reversals in function and changes in the H+/ATP coupling ratio, Richard L. Cross, Volker Müller (http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0014579304010841)



sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A Hipocrisia Cristã

"Assuntos Internos" da Biologia Evolutiva

Existem controvérsias no que respeita á teoria da evolução. Certamente quem lê isto se pergunta se finalmente estarei a dar razão aos criacionistas no que toca ao facto da aceitação da teoria na comunidade científica.

As discussões continuam no âmbito da biologia evolutiva e isso de facto não é novidade. Os seguintes tópicos são os mais controversos e mais relevantes: neutralismo versus selecionismo na evolução molecular; adaptacionismo; cladismo (relativamente á classificação de seres vivos); selecção de grupo; equilibrio pontuado; extinções em massa; selecção sexual (ex.: selecção sexual ou outro tipo de selecção?) - ou seja, todos estes assuntos são "internos" e nem todas as hipóteses aparentemente contrárias se falseiam para todos os casos, sendo que uma das explicações se adequa melhor do que outra a certos casos e vice-versa.

Um bom exemplo é a discussão que aborda o adaptacionismo e a questão selecionismo vs neutralismo.

A selecção natural é um processo que pode levar à substituição de um gene por um outro de uma maneira previsível. Mas há também um processo evolutivo "aleatório" chamado deriva genética. A deriva genética leva a alteraçõesimprevisíveis nas frequências de genes que não fazem muita diferença para a adaptação de seus portadores, e pode causar evolução, alterando a composição genética das populações. Muitas características do DNA podem ter evoluído por deriva genética. Geneticistas discordam sobre a importância da seleçãovs deriva para explicar as características dos organismos e do seu DNA. Todos os cientistasconcordam que a deriva genética não pode explicar a evolução adaptativa. Mas nem toda a evolução é adaptativa. (Dawkins, R., 2005 (1))

Estes assuntos nada têm a ver com a aceitação da teoria na comunidade científica nem com o criacionismo do design inteligente. Não, eu não dou razão aos criacionistas (é impossível dar).

(1)  http://www.guardian.co.uk/science/2005/sep/01/schools.research

Notícias Evolutivas II


Adaptação de genomas:

Um objectivo importante na biologia evolutiva é entender as origens e destinos de mutações adaptativas. A selecção natural pode agir para aumentar a frequência de mutações novas benéficas, ou daquelas presentes na população (variação genética). Estas mutações benéficas podem finalmente alcançar a fixação numa população, ou podem parar de aumentar em frequência uma vez que um determinado estado fenotípico foi alcançado.

Até à data, apenas algumas experiências sobre evolução para as quais os dados de todo o genoma estão disponíveis foram realizadas. Uma revisão descreve os resultados das populações estudadas em laboratório com e sem recombinação sexual. Em sistemas assexuadas, os resultados até à data sugerem que a fixação, completa destas mutações nem sempre é observada. Em sistemas sexuais, nos exemplos (reconhecidamente poucos) tem-se que a fixação completa também nem sempre é observada.


Comentário: A ciência vai-se desenvolvendo num processo incremental (como a própria evolução biológica). Compreender o equilíbrio dinâmico da genética de populações é algo a que os cientistas se dedicam desde que passaram a ver a evolução como um fenómeno populacional.


Origem da cooperação entre as moléculas da vida:

De acordo com um estudo recente, em virtude das propriedades únicas do fulereno, uma grande molécula de carbono ultra-robusta foi o primeiro progenitor da vida. Seria um modelo biológico estável em que as pequenas moléculas espontaneamente se organizaram e, em seguida, por montagem adicional, formaram um manto de superfície de moléculas de maior dimensão. As moléculas seriam capazes de responder a pressões selectivas. Por exemplo, as linhas com camadas de nucleótidos e de péptidos são concebidos como precursores primordiais do ribossoma. Além disso, a evolução paralela independente e interdependente seria mais rápido do que o desenvolvimento sequencial, não havendo precedência de DNA ou RNA, e explica-se a evolução da integração das duas subunidades com diferentes estruturas e funções em ribossomas e da natureza dos codãos. Este conceito sugere também um veículo potencial para a terapêutica, biotecnologia e da engenharia genética (psst! Criacionistas, quem disse que os estudos sobre evolução eram inúteis?)


Comentário: Algumas descobertas já podiam ser previstas (de uma forma hipotética) pelos cientistas Um bom exemplo disso é a hipótese de Lamarck sobre a herança de características adquiridas e as hipóteses formuladas por Charles Darwin e outros sobre a origem química da vida - «life could have sprung from a "warm little pond" rich in “nutrients”», a qual se assemelha (de grosso modo) ás hipóteses actuais sobre a origem da vida – Qualquer meio (ou mesmo, como Darwin afirmava, “uma pequena poça” - http://news.nationalgeographic.com/news/2012/02/120213-first-life-land-mud-darwin-evolution-animals-science/) rico em compostos químicos capazes de originar vida. É claro que várias hipóteses têm sido propostas e ainda hoje não existe ainda um consenso sobre qual a que melhor se adequa ás observações, quer em termos da localização espacial, quer em termos de quais teriam sido as primeiras moléculas (ou conjuntos de moléculas). Mas é notável que na sua época (marcada pelo fundamentalismo religioso generalizado) Darwin tenha formulado uma hipótese centrada nas interacções entre os materiais existentes na natureza e não em deuses, fadas, duendes ou quaisquer outros seres derivados da imaginação de camponeses da idade do bronze ou da idade média.