segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Mais evidências moleculares da evolução

O apoio para a ancestralidade comum devido a estudos de sequências moleculares passa pelos genes que estão presentes em todos os organismos vivos actualmente e depende da semelhança desses num contexto específico: redundância funcional proteica.
Há certos genes que todos os organismos vivos têm, porque desempenham as funções mais básicas de vida, estes genes são chamados de genes ubíquos ou omnipresentes. Os genes ubíquos não são correlacionados com fenótipos específicos de uma espécie: não têm nenhuma relação com as funções específicas de diferentes espécies. Por exemplo, não importa se é uma bactéria, um ser humano, um peixe, uma baleia, um golfinho, um tentilhão, um cogumelo, uma minhoca ou uma estrela do mar - esses genes estão lá, e todos eles desempenham a mesma função biológica básica. As sequências moleculares de genes ubíquos são funcionalmente redundantes: Qualquer proteína ubíqua tem um número extremamente grande de diferentes formas funcionalmente equivalentes (ou seja, sequências de proteínas que podem executar a mesma função bioquímica).
Obviamente, não há nenhuma razão á priori para que cada organismo tenha que ter a mesma sequência ou sequências semelhantes. Nenhuma sequência específica é funcionalmente necessária em qualquer organismo - tudo o que é necessário é um de um grande número de formas funcionalmente equivalentes de um determinado gene ou proteína ubíqua.
Hereditariedade correlaciona sequências, mesmo na ausência de necessidade funcional: existe um, e somente um, mecanismo observado que faz com que dois organismos diferentes tenham proteínas ubíquas com sequências semelhantes (além da improbabilidade extrema de puro acaso, é claro). Esse mecanismo é a hereditariedade.
Estudos com genes funcionais têm-se centrado em genes de proteínas (ou RNAs) que são comuns (ou seja, estão presentes em todos os organismos). Isto é feito para assegurar que as comparações são independentes do fenótipo específico.
Por exemplo, o O citocromo c é uma proteína essencial e encontrada em todos os organismos, incluindo bactérias e eucariontes. As mitocôndrias de células contêm o citocromo c, onde este transporta electrões num processo metabólico fundamental: a fosforilação oxidativa.
Utilizando para um estudo um gene ubíquo como o do citocromo c, não há razão para supor que dois organismos diferentes devem ter a mesma sequência proteica ou sequências proteicas parecidas, a menos que os dois organismos sejam geneticamente relacionados. Isto é devido, em parte, à redundância funcional das sequências de proteínas e das estruturas. Aqui, a "redundância funcional" indica que muitas sequências de proteínas diferentes formam a mesma estrutura geral e desempenham o mesmo papel biológico. O Citocromo c é uma proteína redundante em termos funcionais, pois muitas sequências diferentes podem desempenhar a mesma função. A maioria dos aminoácidos no citocromo c é muito variável, sendo difícil destruir a sua função modificando os resíduos (1). O citocromo c até um exemplo normalmente utilizado no ensino da biologia evolutiva, mais propriamente da filogenética.
É claro que eu não estaria a ter este trabalho todo se não se confirmasse que existem de facto semelhanças indicativas de relação de ancestralidade. Um exemplo são os humanos e os chimpanzés, outro são os humanos e os morcegos (que, como exemplo, têm muito mais semelhanças entre eles do que entre morcegos e colibris.
Mais uma coisa gira sobre o citocromo c: uma outra proteína, a plastocianina, evoluiu convergentemente para desempenhar a mesma função do citocromo c 6. Tratam-se de duas pequenas proteínas solúveis que contém cobre e um grupo heme, respectivamente, que estão localizadas no lúmen dos tilacóides e fazem a transferência de electrões do citocromo b 6-f para o fotossistema I em muitos dos organismos fotossintéticos. Em cianobactérias, as duas metaloproteínas de facto desempenham um papel respiratório extra como doadores de elétrons para a enzima citocromo c oxidase. Não há nenhuma relação filogenética nem estrutural entre estes, embora partilhem um certo número de parâmetros físico-químicos e semelhanças estruturais que lhes permitem substituir-se mutuamente dependendo da disponibilidade do cobre. Este é um excelente exemplo de evolução convergente, a nível molecular, o qual é interpretado como uma consequência da adaptação microbiana às condições ambientais, segundo a disponibilidade de ferro e cobre. Um estudo sobre o assunto foi publicado em 2011 (Bioenergetic Processes of Cyanobacteria) (2).
Por falar em evolução convergente e homologia, é de notar que os biólogos já em 1970 se preocupavam em arranjar métodos para distinguir homoplasia de homologia verdadeira por métodos estatísticos, ao contrário do que muitos podem pensar, como ilustrado no estudo intitulado “Distinguishing homologous from analogous  proteins” (Systematic Zoology) (3). Devo também lembrar que não se pode usar ortólogos para construir árvores filogenéticas referentes a espécies.


Refs.:


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