sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A espiritualidade de um ateu

O sentimento de admiração, de humildade perante um universo tão vasto, que tem muito por conhecer, de onde surgiu a vida naquela pequena porção que não é constituída por matéria e energia negra, e de unidade com esse Universo é algo que se pode identificar como espiritualidade (num sentido não religioso). Também para isso, deus não é necessário (e acreditar nele também não), nem para fazer meditação (que pode ter realmente efeitos positivos na mente humana (1)).



(Este vídeo também é interessante: Sam Harris - Atheist Spirituality - http://www.youtube.com/watch?v=Q_1l90CovBk)


Ref.:

1. “Killing the Buddha” (Killing The Buddha, Sam Harris, Shambhala Sun, March 2006 – disponível em: http://www.samharris.org/site/full_text/killing-the-buddha/ )

8 comentários:

  1. Deve-se distinguir o espírito subjectivo que conduz ao espiritualismo e ao idealismo do espírito objectivo que traduz a consciência social do ser humano e das suas faculdades.
    Para Aristóteles o espírito foi sempre a capacidade superior de pensar.
    Para Hegel o espírito era a capacidade de auto-conhecimento.
    O espírito é sempre um produto da matéria. Antes do conhecimento a matéria já existia.
    O conceito de espírito também se emprega na terminologia prática do quotidiano quando se refere ao espírito da época, por exemplo, como um conceito de abrangência social.

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    1. «Deve-se distinguir o espírito subjectivo que conduz ao espiritualismo e ao idealismo do espírito objectivo que traduz a consciência social do ser humano e das suas faculdades.»

      Quando falei em espiritualidade, quis ir de encontro ao segundo, daí ter referido que era num sentido não religioso. No entanto penso que o primeiro tipo de espírito que mencionou é apenas o espírito objectivo, mas imortal (para quem acredita nisso, claro).
      Para mim pensamento, emoção e sentimentos são emergentes de reacções físico-químicas do sistema nervoso. Mas isso não os desvaloriza de modo algum.

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    2. No entanto um ateu pode acreditar em espíritos (no sentido subjectivo) ou deixar essa questão totalmente em aberto (também para isso não é preciso deus nem acreditar nele).

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  2. Para a ciência não há espírito objectivo imortal. Para a ciência nada há de imortal nem sequer o adjectivo é usado, isto é, não faz parte da terminologia cientifica.
    Os sentimentos são sempre sinónimo de emoções mas com o pensamento é diferente.
    O pensamento é exclusivo do cérebro , enquanto produto da matéria organizada de forma superior e quase que exclusiva da espécie humana.
    Nos animais inferiores existe uma relação imediata entre o ser e a necessidade.
    No homem tal relação com a Natureza é “pensada”, isto é, é mediatizada, daí o sentimento de infelicidade porque alguém se apropriou desses meios e os usa contra a nossa liberdade.
    Tudo acaba de facto por ocorrer num ambiente de relações físico-químicas mas não de forma mecânica como se julgava no século XIX já que o estímulo exterior é determinante no carácter dos indivíduos. A mesma causa pode produzir consequências diferentes, conforme o objectivo ou os anseios de cada um em que cada um é um caso notável da relação social em que vive mergulhado em si próprio mas também na relação com os outros.
    Quando ao Homem se retira a sua liberdade surge invariavelmente o sentimento de frustração projectando-se num ser ideal que gostaria de ser, poderoso, rico, forte, e é nesse ambiente que se geram as religiões, todas as religiões e todas as espiritualidades..

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    1. «Para a ciência não há espírito objectivo imortal. Para a ciência nada há de imortal nem sequer o adjectivo é usado, isto é, não faz parte da terminologia cientifica.» Concordo. Quem acredita ou pelo menos gosta de falar sobre isso (espiritualismo, etc) é que parece fazer uma miscelânea em que a noção de espírito objectivo (capacidades superiores do ser humano) é algo imortal.

      «Tudo acaba de facto por ocorrer num ambiente de relações físico-químicas mas não de forma mecânica como se julgava no século XIX já que o estímulo exterior é determinante no carácter dos indivíduos.» Exacto.

      P.S. - só uma dúvida: no primeiro comentário quando se referiu ao espírito subjectivo estava a referir-se à noção de espírito presente no espiritualismo, certo? (Algo deste tipo: "a existência de uma alma imortal no homem, isto é, de um princípio substancial distinto da matéria e do corpo". Foi isso que eu entendi, devido à referência ao espiritualismo. Mas agora surgiu a dúvida de que pudesse estar a referir-se a um dos momentos dialéticos do espírito, de acordo com Hegel.

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  3. Quando me referi ao espírito objectivo quis dizer isso mesmo: O espírito objectivo traduz a consciência social do ser humano e das suas faculdades.
    Não queria referir-me à noção de espírito presente no espiritualismo.
    Não existe uma alma imortal no homem e nada é distinto ou independente da matéria
    A matéria é uma categoria filosófica e as categorias são conceitos fundamentais que permitem ao homem chegar a conhecer profundamente o mundo que o rodeia.
    O espiritualismo é uma teoria idealista. Para alguns a matéria é a forma como Deus se manifesta e para outros é uma ilusão da consciência humana e para eles a alma existe independentemente do corpo e pretendem destruir a ciência pela fé cega na providência divina.
    Para os idealista existir é ser percebido. Julgam que estamos condicionados pelas sensações, como é o caso de Berkeley e atribuem uma origem sobrenatural a todas as espécies de animais e de plantas mas a ciência moderna prova a total inconsistência do criacionismo. Darwin é a melhor resposta.

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    1. «Quando me referi ao espírito objectivo quis dizer isso mesmo: O espírito objectivo traduz a consciência social do ser humano e das suas faculdades.» Ok, obrigada pelo esclarecimento. Devo fazer notar que no meu primeiro comentário, quando fiz estas afirmações: «Quando falei em espiritualidade, quis ir de encontro ao segundo, daí ter referido que era num sentido não religioso. No entanto penso que o primeiro tipo de espírito que mencionou é apenas o espírito objectivo, mas imortal (para quem acredita nisso, claro).», tinha entendido que a sua noção de espírito subjectivo ia de encontro à noção de espírito do espiritualismo. Quando falei em espiritualidade (no texto) quis ir de encontro, então, ás capacidades que o ser humano tem de pensar sobre o que os rodeia e sobre a sua própria existência e de ter certos sentimentos (que os animais não têm). E para isso deus não é necessário. Não elaborei muito porque a filosofia não é propriamente a minha área (como já deve ter reparado), embora eu a considere importante.

      «(...) atribuem uma origem sobrenatural a todas as espécies de animais e de plantas mas a ciência moderna prova a total inconsistência do criacionismo. Darwin é a melhor resposta.» Concordo. E isso é o tema principal deste meu blog.

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  4. Só a Filosofia consegue combater a teologia que perdura e cresce no meio da fome e da miséria. Os melhores mestres das ciência, nomeadamente físico-químicas, não são preparados para esse combate e são facilmente destruídos como é o caso de Darwin a quem continuam a chamar o homem macaco. Esse sábios magníficos comovem-me sempre por serem vítimas da sociedade e das experiências a que se submetem. Madame Curie foi vítima do Rádio. Só Em 1906 Moisson recebe o prémio Nobel da Química por isolar o flúor depois de durante séculos o flúor ter sido o causador da morte de vários cientistas na sua manipulação.
    Ainda hoje ouvi um anúncio na Rádio Nascença a divulgar algo relacionada com o Concílio de Trento.
    Com o Concílio de Trento?
    Se a Igreja Católica tivesse vergonha nem sequer invocava esse triste acontecimento histórico que nos condenou a humanidade ao pecado original.
    Antero de Quental na "Causa da Decadência dos Povos Peninsulares" desenvolve bem a trama desse crime.
    Esse Concílio veio agravar a perseguição aos sábios que eram condenado nos tribunais da Inquisição. Pedro Nunes, o nosso último matemático, morreu e com ele toda a família até à terceira geração, foram todos presos e condenados à morte.
    Gil Vicente morreu na fogueira da Inquisição e tantos outros.
    Em Portugal deixou de haver homens sábios porque eram todos condenados à fogueira da Inquisição, razão pela qual perdura entre nós tanta crendice considerando Deus todo poderoso criador do céu e da terra.
    Essa é a razão de haver tanta crendice entre nós porque o inconsciente colectivo perdura como um instinto animal durante séculos e só pelo Conhecimento se consegue libertar as pessoas do criacionismo.

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