O blog a partir de agora vai funcionar neste endereço: http://allthatmattersmaddy32b.blogspot.pt/ (a única diferença no endereço é um "b" após o título (que é o mesmo).
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
O blog vai continuar... mas noutro blog.
O "Corvo" fez uma sugestão: mudar o modelo do blog para que as letras fiquem em preto com fundo branco. Mas se eu mudar o modelo, este tem que ser aplicado ao blog todo e isso implicaria ter que alterar a formatação de vários textos, pelo que não é possível. No entanto tive uma ideia: passar a escrever noutro blog (com outro modelo), mas dando continuação a este.
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
Etologia
A etologia é o ramo da zoologia que se ocupa do estudo do
comportamento animal em condições naturais de um modo geral e em especial do
estudo deste á luz da teoria da evolução e o pai da etologia foi Charles
Darwin.
Para terem um exemplo do que é estudado em etologia, podem
ler o gene egoísta de Richard Dawkins. Dawkins dá vários exemplos de
comportamentos vantajosos quando animais vivem em grupo, tal como acontece nos
humanos. Um dos que eu mais gostei foi o que abordava a questão de fazermos
favores uns aos outros á luz das vantagens evolutivas que isso pode trazer: é
que esses favores podem sempre ser recompensados no futuro.
Estou a falar neste assunto porque vai haver um congresso de
etologia em Lisboa no Centro Champalimaud nos dias 24 e 25 de Outubro. Eu já
me inscrevi (preciso para os créditos de opção) e quem quiser ir ainda se pode inscrever aqui: www.spe2013congresso.com (depois
escrevo qualquer coisa sobre o assunto).
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Tretas dos cristãos (parte II)
Vejamos qual é o melhor argumento que os cristãos têm para a
ressurreição e como ele é destruído facilmente.
O William Lane Craig acha que a melhor explicação para uma série
de factos, como o túmulo encontrado vazio, as “aparições” de Jesus e as
dimensões do movimento cristão na época é que alguém ressuscitou, tendo estado
morto durante os 2 ou 3 dias anteriores (e se foi crucificado estava bem morto).
Fantástico. E depois os cristãos admiram-se de serem gozados (eu acho que até
os judeus gozam com eles). Acho que o Craig andou a ver muitos filmes de
mortos-vivos. Também gosto de filmes de mortos-vivos, mas tenho a noção de que essas
coisas não são reais.
Alguém roubar um corpo, pessoas terem problemas
psiquiátricos e a propaganda cristã dar resultado é menos razoável do que o
morto ressuscitar para o William Lane Craig. Eu acho que quem precisa de um
psiquiatra é o Craig. Urgentemente. Antes que seja tarde.
Reparem que todas as alternativas à ressurreição são mais
plausíveis do que esta hipótese porque acontecem regularmente ao longo da nossa
vida: alguém vandaliza um cemitério, alguém tem alucinações, alguém compra
alguma coisa só porque a propaganda ao produto deu resultado. É claro que há
ainda mais uma alternativa: isto é um conto em que se adaptaram mitos mais
antigos (o que também não é nada de invulgar).
domingo, 29 de setembro de 2013
A fuga desesperada do criacionista Francisco Tourinho
Quem acompanha este blog deve lembrar-se da confusão que um certo criacionista - o tal Francisco Tourinho fez relativamente ás características do genoma humano (ver Confusão sobre o genoma humano).
Eu tentei corrigi-lo sobre o assunto e mais tarde chegou à discussão um dos leitores deste blog (que assina "Corvo"). Acho que o criacionista não gostou muito da aula de genética que eu lhe dei ou talvez se tenha apercebido que tínhamos razão ou então não conseguiu responder à letra ao que lhe foi dito. Eu digo isto porque este fugiu a sete pés, acabando com o blog. Acho que teve vergonha. É pena eu não ter guardado a conversa toda para colocar aqui no blog. E pelo que tenho lido sobre discussões com criacionistas na internet, estes tendem a apagá-las quando é demasiado vergonhoso para eles.
sábado, 28 de setembro de 2013
Como debater evolução com um criacionista
O Dr. Michael Shermer fez um óptimo trabalho no debate em
2004 (Universidade da Califórnia – Irvine) com o criacionista da Terra jovem
Kent Hovind. Com humor negro, factos e uma certa dose de condescendência, este
conseguiu passar um bom bocado enquanto os criacionistas enfiavam os dedos nos
ouvidos.
O Dr. Shermer, por exemplo, apontou para o facto de a baleia
nadar com barbatanas semelhantes aos membros dos mamíferos e não ás dos peixes,
o que é consistente com a evolução e não com a noção de criacionismo
progressivo, ou mesmo qualquer outro tipo de criacionismo, a menos que deus
fizesse as baleias e os golfinhos assim para testar a fé dos humanos ao
enganá-los – o que significa que os criacionistas teriam que fugir com o
rabiosque á seringa e ficariam desacreditados, pois se uma hipótese precisa que
a defendam dos testes dessa maneira para não ser falseada é porque deve ser
desprezada, não servindo para nada. Na realidade esse facto acerca das
barbatanas das baleias e dos golfinhos apoia a hipótese evolutiva, pois faz
sentido que a evolução “trabalhasse” com aquilo que já lá está, isto é, com os
membros dos mamíferos ancestrais através das mutações que iriam modificá-lo,
mas não substitui-lo por uma barbatana de peixe.
O papel do criacionista Kent Hovind no debate foi insultar o
seu oponente e todos os cientistas que citava. É nisso que os criacionistas são
bons – nisso e em serem desonestos, mas não em ciência. E já agora: por uma
estrutura qualquer ter alguma função para os indivíduos da espécie em questão,
não significa que não possa servir de evidência para a evolução.
Acho que ambos os participantes estão de parabéns: um pela
melhor explicação e o outro pelos melhores insultos.
Aqui fica o vídeo:
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Lixo genético e deus no lixo
Lembro-me de ter esclarecido a diferença entre “Junk DNA”,
ou seja, DNA lixo e “Garbage DNA”. O primeiro é alguma coisa que não é
necessária, embora vá sendo guardada. Tal como o DNA lixo, deus também não é
necessário para explicar nada. O que tornou deus desnecessário foi uma
combinação explosiva de química, biologia e física: a teoria da evolução e a
percepção de que a vida pode muito bem ter surgido naturalmente em conjunto com
as teorias e descobertas recentes da física quântica, como a teoria das cordas
com as suas previsões e a descoberta de que o espaço vazio está cheio de
partículas virtuais. Isto não demonstra que deus não existe, pois há sempre a
possibilidade de ele nos enganar para pensarmos que o universo veio do nada e
que a teoria da evolução corresponde à realidade de modo a testar a fé dos humanos, visto as pessoas religiosas
poderem inventar tudo e mais alguma coisa para fugirem aos testes da ciência.
Isto simplesmente torna-o desnecessário como explicação para as nossas origens.
O problema para a hipótese de deus é que em ciência não
guardamos lixo, mesmo que este não cheire mal. Deitamos fora.
Uma possível resposta seria que deus é necessário como
explicação para a inspiração humana, para os relatos da ressurreição, a qual
teria ocorrido na realidade, etc. Mas a primeira sabemos que vem das reacções
químicas do nosso cérebro e a segunda muito provavelmente não ocorreu e foi
baseada noutros mitos mais antigos.
Além de tudo isto, já devia estar no lixo logo na primeira
fuga aos testes.
O lugar do lixo é no lixo. Obrigada.
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Duplicação de genes, transferência horizontal e evolução experimental
Em 2010, Michael Behe elaborou um artigo de revisão
entitulado «Experimental evolution, loss-of-function mutations, and “the first
rule of adaptive evolution”» (1) Acho que desta vez o Michael Behe fez um bom
trabalho e mereceu a publicação do artigo e as observações positivas de um dos
autores a quem este fez uma revisão do trabalho publicado. Jim Bull é autor de
uma data de estudos no campo da evolução experimental. Este escreveu um comentário
(*) sobre a revisão de Michael Behe, pois este tinha incluído material da sua
autoria. O Dr. Bull achou também que Behe se portou bem desta vez, mas
acrescenta que não seria de esperar a evolução de mais novidades do modo como
os estudos eram realizados. Por exemplo, sabemos que trocas de genes entre
várias espécies de bactérias são uma óptima maneira para o genoma adquirir
novos genes e funções (por exemplo, multi-resistência aos antibióticos), sendo
que um dos melhores meios para isso são os bacteriófagos (vírus que atacam
bactérias), no entanto não houve oportunidade para isso durante as experiências
que foram realizadas.
O Dr. Bull focou que um dos seus estudos no campo da
evolução experimental apoia a hipótese de que uma duplicação genética pode dar
origem a 2 genes diferentes devido a mutações, embora as condições que
favorecem a manutenção de duas cópias submetidas a divergência evolutiva sejam
delicadas. Um dos genes mantém normalmente a sua função original e o outro
transforma-se num novo gene.
É claro que o campo da evolução experimental e molecular
precisa de ser desenvolvido, e o artigo de revisão do Michael Behe veio alertar
para isso mesmo.
*Nota: Comentário disponível aqui: http://whyevolutionistrue.wordpress.com/2010/12/20/an-experimental-evolutionist-replies-to-behe/
Ref.:
1. «Experimental
evolution, loss-of-function mutations, and “the first rule of adaptive evolution”»,
M. J. Behe, The Quarterly Review of Biology, December 2010, Vol. 85, No. 4
(disponível aqui: http://www.lehigh.edu/~inbios/pdf/Behe/QRB_paper.pdf)
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Rótulos
Não gosto de rótulos,
sobretudo se estes nada significam por não fazerem sentido. E, para mim
pessoalmente, rotular uma criança é das piores coisas que podem ser feitas. E é
tão errado rotular uma criança de burra porque tirou negativa num trabalho como
rotular uma criança de cristã porque os pais ou alguém próximo – como uma
madrinha ou padrinho são cristãos e levam a criança á igreja. Não faz sentido. Eu acho que pode
ser até prejudicial para o desenvolvimento da identidade social da criança,
reflectindo-se no futuro. Enquanto pré-adolescente, por exemplo, a criança pode
sentir que não pode mudar de ideias (ex.: não pode entrar num templo budista
nem explorar o budismo ou qualquer outra religião, nem identificar-se com mais nenhuma) porque é um menino ou uma
menina cristã. Situações semelhantes e que podem ter consequências semelhantes é
rotular uma criança como adepta de um certo clube desportivo, ou de um certo
partido político só porque o pai é (e isto eu já observei várias vezes).
Muitas vezes nem já adolescentes as pessoas se conseguem
libertar desses rótulos que lhes colam quando são crianças. Isso aconteceu com
um colega meu quando eu ainda estava no secundário. Ele nem sabia no que
acreditar, mas não conseguia largar o rótulo de “católico”, por isso
acrescentou mais duas palavras ao rótulo e ficou “católico não praticante”.
Isso é horrível.
É por estas coisas que detesto quando leio coisas
destas: «A década de 1990, para uma criança brasileira, evangélica, de criação
pentecostal e pais cristãos era bem diferente dessa década de 2000-2011
retirando-se as variáveis anteriores.» (1) Uma criança (de 7, 8, 9 ou mesmo 10 anos) não percebe o suficiente para adoptar
uma religião conscientemente. Dizer que uma criança é cristã evangélica ou
católica ou muçulmana não faz sentido. Uma criança vai à igreja porque os
adultos (pai, mãe, madrinha ou outros) querem que elas vão. Muitas vezes as
crianças nem querem ir e vão na mesma. Por exemplo: a minha madrinha convenceu
a minha mãe a baptizar-me e a levar-me durante algum tempo (pouco) à catequese.
Será que eu com 7 e 8 anos adoptei a religião católica conscientemente? É claro
que não. Aliás, eu era mais convicta até na existência do Pai Natal (e nessa
altura já nem era muito) do que na existência de deus, ou pelo menos daquilo
que eu entendia por deus nessa altura (algo como um homem no céu que ouvia – ou
era suposto ouvir orações). Para ser franca, nem sequer pensava nisso
praticamente (como a maioria das crianças não pensa).
Ainda como exemplo: o meu primo de 10 anos vai á mesquita e
ao equivalente á catequese católica (mas para filhos de muçulmanos) porque o
pai é muçulmano (pelo menos em termos culturais, se não em termos de crenças) e
quer que ele vá – e não porque é um crente fervoroso em Alá e Maomé nem por ter
feito a escolha consciente de seguir aquela religião.
É feio rotular crianças. A sério.
Ref.:
William Lane Craig: Um tiro no pé
Querem ver um tiro certeiro no pé? Leiam o que aconteceu ao filósofo cristão William Lane Craig (1). Ao tentar desesperadamente salvar o argumento cosmológico de Kalam, o William Lane Craig dá um tiro no próprio pé (deve ter doído!), pois destrói o completamente o cenário que montou relativamente à necessidade da existência de uma causa sobrenatural (deus), pois a causa do universo, se de facto (como ele defende) existiu uma, pode ser uma causa natural do mesmo tipo que ele sugere que são as causas dos eventos quânticos que, pelo menos aparentemente, não têm causa - uma causa que não é pré-determinada, que aumenta a probabilidade do acontecimento e que pode muito bem ser uma causa natural, como em todos os casos que temos observado até hoje. É o próprio Craig que chama a atenção para isto na sua ânsia de salvar o estúpido argumento cosmológico.
Não me parece que existam evidências daquilo que o Craig sugere, mas de qualquer modo é um tiro no pé. E, de qualquer modo, a segunda premissa é falsa, pelos motivos anteriormente referidos (noutro texto sobre o argumento cosmológico).
Não me parece que existam evidências daquilo que o Craig sugere, mas de qualquer modo é um tiro no pé. E, de qualquer modo, a segunda premissa é falsa, pelos motivos anteriormente referidos (noutro texto sobre o argumento cosmológico).
domingo, 22 de setembro de 2013
Para os criacionistas não há limite de estupidez
Descobri mais um argumento criacionista muuuito estúpido. Tipicamente, o criacionista acredita que a evolução teve o objectivo de produzir algo como uma obra completa de Shakespeare e ignora completamente a selecção natural e o número de tentativas (simultâneas) ao construir um estúpido argumento de cariz probabilístico, que era exactamente isto: «(...) if evolution were true, then we are to believe a whole series of complex sequences managed to get everything right – repeatedly. To use a clichéd example: It would be like a monkey typing at random and coming out with the complete works of Shakespeare without any errors.» (1).
Ref.:
1. "EXPLAINING 'DARWIN'S DOUBT", Jerry Newcombe, 07/23/2013 (disponível aqui: http://www.wnd.com/2013/07/explaining-darwins-doubt/)
Ref.:
1. "EXPLAINING 'DARWIN'S DOUBT", Jerry Newcombe, 07/23/2013 (disponível aqui: http://www.wnd.com/2013/07/explaining-darwins-doubt/)
Nota: Para quem quiser rir-se um pouco, aqui fica um texto que fala desse estúpido argumento e de outras parvoíces do mesmo criacionista: "WND Offers Supremely Dumb Creationist Argument" (http://freethoughtblogs.com/dispatches/2013/07/26/wnd-offers-supremely-dumb-creatinist-argument/)
«Encyclopedia of American Loons» e mais um pouquinho de teoria da informação
Alguém decidiu escrever um blog que é uma autentica enciclopédia de lunáticos americanos (como o próprio título indica). Nesta lista estão muitos criacionistas, incluindo:
- Ann Gauger: foram muito brandos com ela.
- Douglas Axe: caracterizado como desonesto (é justo).
- Michael Behe: também caracterizado como desonesto e dissimulado (também é justo)
- William Dembski: completamente iludido e incapaz de admitir que cometeu erros. No texto aparecem hiperligações para críticas aos seus artigos e aos seus disparates. Um deles é escrito por um especialista na área das ciências informáticas, Mark C. Chu-Carroll, o qual foca que Dembski teve que retirar tudo o que tinha a ver com maluquices criacionistas de um artigo que publicou para este passar por revisão de pares e ser publicado (lá se vão as aspirações dos criacionistas de verem a sua fé aceite como teoria pela comunidade científica) e que o seu método (a abordagem logarítmica) para medir a informação num algoritmo evolutivo não tem qualquer significado (apenas nos dá o número de bits do programa). No texto, o autor expõe também a falta de compreensão de Dembski relativamente a um programa muito básico (Weasel) - um algoritmo evolutivo que o Dawkins fez há uma data de anos. Apenas discordo de uma coisa relativamente ao texto do «Encyclopedia of American Loons»: o William Dembski não é inteligente. De maneira nenhuma.
- Ann Gauger: foram muito brandos com ela.
- Douglas Axe: caracterizado como desonesto (é justo).
- Michael Behe: também caracterizado como desonesto e dissimulado (também é justo)
- William Dembski: completamente iludido e incapaz de admitir que cometeu erros. No texto aparecem hiperligações para críticas aos seus artigos e aos seus disparates. Um deles é escrito por um especialista na área das ciências informáticas, Mark C. Chu-Carroll, o qual foca que Dembski teve que retirar tudo o que tinha a ver com maluquices criacionistas de um artigo que publicou para este passar por revisão de pares e ser publicado (lá se vão as aspirações dos criacionistas de verem a sua fé aceite como teoria pela comunidade científica) e que o seu método (a abordagem logarítmica) para medir a informação num algoritmo evolutivo não tem qualquer significado (apenas nos dá o número de bits do programa). No texto, o autor expõe também a falta de compreensão de Dembski relativamente a um programa muito básico (Weasel) - um algoritmo evolutivo que o Dawkins fez há uma data de anos. Apenas discordo de uma coisa relativamente ao texto do «Encyclopedia of American Loons»: o William Dembski não é inteligente. De maneira nenhuma.
Nota: O endereço do «Encyclopedia of American Loons»: http://americanloons.blogspot.pt/
Redundância e evolução de sistemas irredutivelmente complexos
Encontrei um artigo (já velhinho) que fala da evolução de
sistemas irredutivelmente complexos através da redundância e perda de partes
funcionais (1). Um exemplo de redundância é a proteína p 53, proteína que pode
iniciar a apoptose, evitando assim o aparecimento de um cancro, a qual foi
“retirada” em ratinhos e isso não causou a ruptura do sistema que ela
integrava. Outro exemplo que pode ser mencionado é a própria cascata de
coagulação (que afinal de irredutivelmente complexa nada tem), que tem partes
que são redundantes – coagular lentamente não é o mesmo que não coagular. É
dessa maneira que um sistema complexo pode evoluir para se tornar
irredutivelmente complexo.
Duplicações de genes podem fazer com que apareçam novas
peças (que ao princípio podem ser redundantes) que depois são co-optadas para
desempenharem novas funções, como já foi referido anteriormente.
A complexidade redundante é uma característica dos processos
evolutivos que pode ajudar a explicar a evolução de vários sistemas complexos.
E é preciso ver que não há apenas uma via evolutiva possível, mas sim várias
possíveis capazes de explicar o surgimento de certos sistemas. A distinção de
qual é a correcta está nos pormenores que devem ser (e já estão a ser)
investigados. A capacidade dos processos naturais de explicarem o que
observamos torna desnecessária a invocação de qualquer divindade como explicação;
de qualquer modo “deus fez” não explica nada de nada.
É verdade que evolução molecular não é fácil para toda a
gente compreender, mas penso que facilitaria bastante se as pessoas deixassem a
religião de lado de vez em quando.
Ref.:
1. Behe, Biochemistry, and the Invisible Hand (2001), Niall Shanks and Karl
Joplin, Philo Vol. 4 No. 1 (disponível aqui: http://www.philoonline.org/library/shanks_4_1.htm)
Evolução vs “Deus Fez” – Prefiro a primeira hipótese
O filme “Evolution vs God” do Ray Comfort é das piores
coisas que qualquer criacionista fez até hoje. E estou a contar com toda a
javardice que os criacionistas do design inteligente têm feito, o que inclui o
famoso “Meyer’s hopeless monster” (R.I.P.).
Vejam por vocês mesmos:
E agora vejam a burrice do criacionista Ray Comfort exposta:
Só um criacionista para achar que não se pode descobrir o
que aconteceu no passado, analisando as evidências que temos no presente. Isso
é das coisas mais estúpidas que eu já ouvi – e eu já tenho ouvido muita
estupidez. Darwin escreveu (e isso é focado no segundo vídeo): «(…) no que
respeita a grupos muito distintos, tais como repteis e peixes, parece que,
sendo distinguidos actualmente por uma dúzia de caracteres, os antigos membros
dos mesmos dois grupos poder-se-iam
distinguir por um menor número de caracteres, de modo que os dois grupos (…)
teriam alguma proximidade nessa altura» - isto foi verificado através do
registo fóssil. As semelhanças (entre 2 grupos distintos de animais) vão sendo
cada vez maiores, à medida que “andamos para trás” no tempo. A hipótese
evolutiva de que eles estão relacionados, tendo divergido de um ancestral comum
mais uma vez é a que mais se enquadra nas evidências disponíveis - e é por isso
que esta continua a ser a preferida dos cientistas e das pessoas que são pelo
menos minimamente esclarecidas.
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Programa de filogenética
É um programa bastante básico que faz alinhamentos, pesquisa
de sequências nas bases de dados do pubmed e faz árvores filogenéticas. Já
experimentei e é muito fácil. Aqui fica um tutorial: http://www.esa.ipb.pt/medchem/filo.html.
Deve-se obter um resultado semelhante a este:
Nota: Foram utilizadas poucas sequências por era só
para praticar.
Confusão sobre a radiação do Câmbrico (ou Chacinando o “monstrinho” do Stephen C. Meyer)
O paleobiólogo Charles R. Marshall,
especialista naquilo a que vulgarmente chamam explosão do Câmbrico, chacinou o
“Darwin’s Doubt” do criacionista Stephen C. Meyer. A revisão (1) foi publicada na revista “science”. Esta focou que o argumento de meyer
era outra vez falacioso (o deus das lacunas do costume) e que a origem de novos
filos tinha a ver com a evolução
da regulação dos genes e não com a evolução de proteínas. Esses sistemas de regulação, que hoje são bastante complicados no que se refere a sofrer
modificações, há milhões de anos não eram
tão sofisticados, de acordo com os organismos nos quais se encontravam,
daí não serem tão complicados de modificar quando se deu a radiação adaptativa
no Câmbrico. o autor da revisão
refere-se (logo no título) ao
facto do Stephen C. meyer querer
a todo o custo que o tal designer tenha sido o responsável pela “explosão” do Câmbrico.
Refs.:
1. Marshall, C.R. 2013. When prior belief
trumps scholarship. Science 341:1344. DOI:
10.1126/science.1244515 (Via “Why Evolution is True”)
E agora podemos passar ao funeral do “Darwin’s Doubt”, mais
conhecido por Meyer’s Hopeless Monster:
1% de diferença e confusão sobre o genoma humano (outra vez)
O criacionista (Francisco Tourinho) que fez uma grande confusão sobre o genoma humano (ver aqui e aqui) leu o meu texto (já actualizado) sobre o ENCODE e deixou uma data de comentários a bater na mesma tecla - o engano dos 80% funcionais e de quase não existir lixo no DNA. É claro que eu fiz-lhe ver que estava exactamente a a bater na mesma tecla como se não tivesse percebido nada. E talvez ele tenha ficado elucidado quanto ás figuras que fez depois de ler as últimas palavras da minha resposta: «Fail. Epic.» Ou não.
Entretanto na caixa de comentários do blog dele, este indicou-me um texto de um blog "evolucionista" que focava que a diferença de 1% entre humanos e chimpanzés é relativa à sequência de DNA e não significa muito por si só em termos fenotípicos, se a considerarmos relativa a todo o DNA. Nada de novo para mim. Mais alguma coisa? Bem me parecia que não.
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
O Epic Fail do Projecto ENCODE
Uma actualização do meu texto sobre o projecto ENCODE: http://allthatmattersmaddy32.blogspot.com/2013/05/o-projecto-encode-e-definicao-de-funcao.html
(no fim do texto antigo, em letras maiores)
terça-feira, 17 de setembro de 2013
“Suck it Creationists!”
Usando as suas barbatanas para andar, em vez de nadar, ao
longo do fundo do oceano, o peixe com mãos cor-de-rosa é uma das nove espécies
recém-nomeadas e descritas numa recente revisão científica. Isto torna, na
minha opinião, a transição de peixes para tetrápodes ainda mais plausível, e
pode dar algumas pistas sobre o uso das primeiras patas pelos peixes.
Ref.:
Confusão sobre o genoma humano
Hoje vi isto.
Santa ignorância – só mesmo um criacionista para citar o artigo “Dissecting
Darwinism” e dizer que o humano e o rato têm 90% do genoma igual.
Essa percentagem supostamente está num artigo publicado na
Nature (1).
Esses 90% de semelhança entre o rato e o humano nada têm a
ver com semelhança sequencial do genoma, mas sim com a sintenia conservada,
isto é com a localização dos genes (ex.: gene A, gene B, gene C, etc). Tive
acesso ao artigo completo e não encontrei nada que dissesse que existe 90% de
semelhança, nem nada próximo disso (relativamente ao genoma) entre o rato e o
humano.
Um conselho para os criacionistas: Não falem daquilo que não
sabem/ não compreendem.
Relativamente ao artigo “Dissecting Darwinism”, este foi
mencionado há uns tempos num anexo de um texto que tratava da lista de artigos
que, na opinião de uns quantos criacionistas, apoiavam o design inteligente. É
péssimo.
É necessário referir que (ao contrário do que está nesse
artigo) as partes não codificantes são na sua maioria constituídas por lixo,
embora uma pequena parte seja funcional.
O artigo não é nada imparcial e recebeu críticas negativas
de vários cientistas, apontando que a afirmação de que existe apenas 75% de
semelhanças entre o genoma do chimpanzé e do humano não está de acordo com os
dados (2). Pude também verificar que a referência (33) não é nada de fiar
(Wells J. The Myth of Junk DNA. Seattle, WA: Discovery Institute Press; 2011.).
Um facto sobre a semelhança entre o genoma do humano e do
chimpanzé: em vez de serem 98% do genoma são 95% (é menos, mas não é muito
menos do que se pensava ao princípio).
Acrescentando que o que está no fim é quote mining, é tudo.
Refs.:
De volta ao Tiktaalik
O Tiktaalik (descoberto em 2004 no Canadá) é um fóssil de
transição (peixes-tetrápodes) e só existe uma espécie desse género: Tiktaalik
roseae. Embora possa não ser ancestral directo, demonstra que uma vez existiram
intermediários entre tipos muito diferentes de vertebrados. A mistura de
características de paixes e tetrápodes encontrada no Tiktaalik inclui as seguintes
características:
- brânquias dos peixes
- escamas de peixe
- barbatanas dos peixes
- ossos dos membros meio de tetrápodes e articulações,
incluindo a articulação do punho e radiantes e barbatanas, como nos peixes
- a região da orelha meia-tetrápode, meio-peixe
- costelas como nos tetrápodes
- pescoço móvel
- pulmões como nos tetrápodes
Pegadas de tetrápodes foram encontradas na Polónia e a
descoberta relatada na revista Nature em Janeiro de 2010. Estas foram
"seguramente datadas", tendo sido confirmado que são mais antigas que
Tiktaalik. Se este é um registo verdadeiro de tetrápode, Tiktaalik é uma
"relíquia que sobreviveu até tarde" em vez da forma de transição
original. Uma interpretação alternativa é que as pegadas foram feitas por peixes
que andavam.
Ainda que as pegadas sejam feitas por tetrápodes (o que não
pode ser tido como facto), o Tiktaalik continua a poder ser considerado um
fóssil de transição, sendo um animal com características intermediárias, que
demonstra que de facto houve uma transição. (1)
Os criacionistas têm andado pela internet a pregar mentiras
a respeito do status do Tiktaalik, tentando apoiar-se nessas tais pegadas, mas
a realidade é que este continua a ser uma evidência da evolução, enquanto
fóssil de transição, berrem eles o que berrarem, chorem eles o que chorarem. O
Mats é um desses criacionistas (2). Ele (e outros criacionistas) tem que aprender
de vez o que é um fóssil de transição, pois assim talvez deixe de fazer figuras
de urso – e eu já lho disse, só que ele optou por ignorar os meus conselhos e
críticas. Provavelmente sente-se rebaixado. Coitado do Mats. Além disso é
possível que tenha lido o que eu tenho escrito sobre ele aqui no blog e deve
estar mesmo furioso. E deve de facto sentir-se um tanto rebaixado. Eu percebo
que às vezes pode ser difícil aceitar a realidade sobre si mesmo, as suas
acções e atitudes e as ideias que defende, mas essas coisas precisam de ser
ultrapassadas… Bem daqui a pouco mudo a minha licenciatura em curso para
psicologia e abro um consultório. Talvez assim os criacionistas procurem os
meus conselhos e me façam rica – até porque para criacionistas cada consulta
seria mais cara, pela paciência redobrada que seria necessária.
O conceito de fóssil de transição é fácil, tanto que se
aprende no secundário e em qualquer site de divulgação científica dirigido ao
público leigo (como o do NCSE) ou até mesmo na Wikipédia. Não é assim tão
difícil estar informado sobre o assunto; só para os idiotas dos criacionistas é
que parece ser inatingível.
Refs.:
1. «Tiktaalik», Wikipédia (http://en.wikipedia.org/wiki/Tiktaalik)
2. Comentário do Mats no seu próprio blog: http://darwinismo.wordpress.com/2013/09/01/a-evolucao-dos-dinossauros-imagem/
Testando (quantitativamente) previsões evolutivas
HOMOLOGIA E CONVERGÊNCIA REVERSA
Em Agosto deste ano (2013) foi publicado na revista “ Plos
One” um estudo em que se testava mais uma previsão da teoria da evolução.
Na introdução lê-se o seguinte: «No caso da evolução, uma
forte previsão da "descendência com
modificação" é que, à medida que avançamos mais e mais para trás no tempo,
as sequências de uma determinada proteína devem tornar-se cada vez mais
semelhantes - chamamos isso convergência ancestral ou convergência reversa. A
previsão da teoria da evolução é que sequências de DNA ou proteínas que
realizam as mesmas funções básicas em diferentes organismos são geralmente
herdados de um ancestral comum - neste sentido, eles são verdadeiramente
proteínas homólogas (ou ortólogas). Temos de ser capazes de medir essa
convergência e testá-la quantitativamente. Na prática, embora a informação
venha principalmente a partir de sequências de DNA, podemos convertê-las em
sequências de proteínas para os testes. Como veremos mais tarde, de momento não
podemos ainda encontrar qualquer outra hipótese que conduz inevitavelmente á
mesma previsão sem um aumento explosivo no número de parâmetros.» Sobre o
método científico, os autores continuam: «É básico para a ciência que nunca
testámos todas as hipóteses possíveis e, consequentemente, nunca obtemos o
conhecimento supremo e absoluto sobre qualquer aspecto do universo. No entanto,
o método científico fornece a melhor forma de conhecimento que os seres humanos
podem atingir, e assegura que usamos aquilo que foi mais exaustivamente testado
(…)»
O que me parece é que isto é mais uma abordagem para testar
quantitativamente se certas proteínas são homólogas (no sentido de partilharem
um ancestral comum).
Mais ainda: «Como controlo, mostramos que as proteínas não
relacionadas não mostram convergência. ... Isso claramente não "prova"
que os modelos ainda desconhecidas são impossíveis, mas a teoria da evolução
leva a previsões extremamente fortes, e por isso a responsabilidade recai agora
sobre os outros para propor alternativas testáveis.» (1)
Agora quem não concorda vai ter que deitar mãos á obra e propor
algo de concreto, que faça previsões testáveis, tal como os cientistas já
propuseram: propuseram que podemos relacionar espécies em termos de
ancestralidade comum, recorrendo ao DNA (genes homólogos – mais propriamente
ortólogos). E de facto podemos. Existem proteínas verdadeiramente homólogas. E até
podemos testar isso quantitativamente. Quanto ao mecanismo proposto, que se tem
mostrado bastante bom para explicar as observações, esse só precisa que haja
replicação/reprodução e interacção dos organismos de uma população com o
ambiente e uns com os outros.
Os criacionistas do Discovery Institute já começaram a
queixar-se. E de que é que eles se queixam? Do tom desrespeitoso dos autores do
artigo (2). Um link para o artigo encontra-se nas referências, para que possam
ler e confirmar que isso é mania da perseguição do criacionista que fez tal
afirmação. Mas a verdade é que os criacionistas estão-se nas tintas para isso.
Como não conseguem criticar em termos técnicos o artigo, têm que inventar
alguma coisa para dizer. É o costume: mesmo quando não sabem o suficiente para
comentar, têm sempre que ter a última palavra. Isso é bom para quem está na
oposição, pois assim eles espalham-se á frente de toda a gente. Coitados.
Refs.:
- White WTJ, Zhong B, Penny D (2013) “Beyond Reasonable Doubt: Evolution from DNA Sequences.” PLoS ONE 8(8): e69924. doi:10.1371/journal.pone.0069924 (disponível aqui: http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0069924)
- “Science with a Sneer: A New
Model for Scientific Papers?” (via «The Sensuous Curmudgeon»)
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
E as "portas" respondem...
O mesmo criacionista que andou a encher de lixo a minha caixa de entrada da outra vez, desta vez resolveu encher a caixa de comentários de merda. Fica aqui um segundo comunicado (para os criacionistas): é favor não encher a caixa de comentários de merda. A merda que aparecer será varrida para onde diz "Spam". Obrigada.
Falar com um criacionista é falar com uma porta
Eu mandei um e-mail para os criacionistas deixarem de encher o meu e-mail de lixo (e deixei o mesmo recado na minha introdução do perfil do blogger). Não deu resultado. Um criacionista (tersiog@petrobras.com.br) voltou a encher mais um pouco da minha caixa de entrada com o lixo (desta vez insultuoso) proveniente da sua diarreia mental e verbal.
Sendo sincera nunca pensei que resultasse. É que falar com um criacionista é a mesma coisa que falar com uma porta.
Mantendo a diversidade
Alelos benéficos numa população podem nunca chegar a
fixar-se, mantendo-se a variabilidade genética (nenhum dos 2 alelos se fixa).
Além disso, as frequências alélicas são determinantes para que o alelo seja
“benéfico” ou “prejudicial”. Quem descobriu isto foi uma equipa de cientistas
portugueses que resolveram testar a teoria de Haldane, que tem sido utilizada
em genética de populações, usando uma população de C. elegans onde foi introduzido um novo alelo.
Descobriram que quando os invasores se saíam melhor do que
os outros, a introdução de mais indivíduos iria baixar a probabilidade de
extinção. Também confirmaram que a probabilidade de extinção é maior para
alelos prejudiciais do que para alelos benéficos, ainda que durante gerações se
pudessem manter indivíduos menos bem adaptados em frequências elevadas
(sobretudo em populações pequenas), ou seja Haldane estava certo no que se
refere á fase inicial de invasão.
Quando a equipa estudou a
probabilidade de fixação de um alelo benéfico (frequência = 100%), usando uma
população inicial com mais indivíduos com o novo alelo (frequência mais
elevada), os cientistas repararam na influência da frequência do alelo no seu
valor selectivo/ adaptativo.
O resultado desta dinâmica é que a diversidade pode ser
mantida por tempo indefinido, sem que nenhum dos 2 alelos se fixe na população.
A segunda parte do estudo sugere que para prever o destino
de novos alelos a longo prazo, devem ser desenvolvidos novos modelos teóricos,
embora aqueles que possuímos sejam óptimos para previsões a curto prazo
Nota (para os criacionistas): Isto não implica uma mudança
de paradigma, apenas uma expansão do conhecimento acerca do modo como as
populações evoluem. Esta nota vem a propósito deste disparate: http://darwinismo.wordpress.com/2013/08/15/9853/#comment-22029
Ref.:
“Fate of new genes cannot be predicted” (Disponível aqui:
Insectos robóticos e a evolução das aves
Ao testar uma barata robótica, os cientistas envolvidos
no projecto lançaram alguma luz sobre a evolução das asas e a origem do voo das
aves.
Devo lembrar que a teoria actualmente aceite afirma que as
aves são descendentes directas dos dinossauros e que as evidências fósseis são
imensas a favor desta, tais como as várias espécies de dinossauros com penas e
de pássaros ainda bastante parecidos com dinossauros.
Uma das questões que tem moído a cabeça dos biólogos é: Qual
seria a função inicial das asas, uma vez que, no início, o animal não iria
usá-las para voar, visto que não eram suficientes boas para isso?
Uma boa resposta pode ser a seguinte: ajudá-los a
manter o equilíbrio e a mexerem-se de uma maneira mais eficiente.
Esta é a conclusão de Kevin Peterson e Ron Fearing, da
Universidade de Berkeley (E.U.A.).
Estes cientistas estavam a estudar um pequeno robô com uma
mobilidade semelhante à de um insecto. o robô em questão, isto é, o Dynamic
Autonomous Sprawled Hexapod (DASH), foi inspirado numa barata.
Como o andar do robô deixava a desejar, eles resolver
instalar asas para ver se isso o tornava mais capaz.
Embora as asas tenham melhorado significativamente o desempenho do
DASH na corrida (passando de 0,68 metros por segundo (m/s) para 1,29 m/s) -
isso não seria suficiente para que ele levantasse voo.
Além de permitir que o voo planado, as asas permitem que o
robô suba em superfícies bem mais íngremes, passando de uma inclinação máxima
de 5,6 graus para 16,9 graus, condizente com o comportamento de um animal que
precise chegar muito alto para saltar, pelo que os cientistas pensam que isso é
um reforço para a hipótese de que o voo começou com animais que saltavam de
árvores e abriam suas proto-asas para planar.
O biólogo Robert Dudley, também de Berkeley, afirmou que a
barata robótica não é o melhor modelo para estudar o voo dos pássaros
porque esta tem seis pernas, e não duas, e as suas asas são de plástico
inteiriço, muito diferente de penas.
Por tudo isto, este experimento não é suficientemente
preciso. Mas este gostou da ideia do uso de robôs para estudar a evolução e
afirmou que o que esta experiência demonstrou foi a viabilidade de usar modelos
robóticos para testar a hipótese das origens do voo.
Então, agora devem ser construídos modelos mais semelhantes
aos dinossauros, cujos fósseis preservaram as primeiras penas.
Referências
- Experimental Dynamics of Wing Assisted Running for a Bipedal Ornithopter
Kevin C. Peterson, Ronald S. Fearing
IEEE Int. Conf. Intelligent Robots and Systems
Sept. 2011
(disponível aqui: https://robotics.eecs.berkeley.edu/~ronf/PAPERS/kpeterson-iros11.pdf)
- «Inseto robótico esclarece elo perdido entre dinossauros e
aves», Moisés de Freitas, 20/10/2011 – Inovação tecnológica (disponível aqui: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=inseto-robotico-elo-perdido-dinossauros-aves&id=010180111020)
Evolução guiada? Ou um deus imitador de partículas?
Alguns criacionistas acreditam que a evolução (aqui, apenas
significa mudança ao longo do tempo) dos seres vivos tem sido guiada por deus
(directamente), embora actuem também os mecanismos evolutivos conhecidos pela
ciência – isto é o que se pode designar por criacionismo progressivo. Um
exemplo de alguém que defende este ponto de vista é o filósofo cristão William
Lane Craig.
Um dos problemas com a posição acima referida é o facto do
termo “evolução” aqui empregue não ir de encontro àquilo que os cientistas
entendem como evolução. Outro problema (muito mais grave) é que, tanto quanto
sabemos, os mecanismos conhecidos a nível populacional e molecular são
suficientes para explicar o que observamos nos seres vivos e no registo fóssil.
Se os mecanismos naturais chegam para explicar as observações, deve-se escolher
a hipótese sem deus, pois este é desnecessário. Se a ideia é dizer que deus
imita os processos naturais, mas quer que acreditemos nele – ou então vamos
para o inferno, isso é uma contradição e essa posição não deve ser levada a
sério, também porque foge a qualquer tipo de teste a que possam querer submeter
a hipótese proposta. É a mesma coisa que dizer que é deus que faz com que
pareça que existem partículas virtuais, porque imita muito bem o efeito de
Casimir* (só para ilustrar o ridículo de tudo isto). Talvez seja um teste de fé
- estranho para quem deseja com muita, muita força que acreditem nele. Os seres
humanos têm que ter fé num deus imitador de partículas e não nas partículas em
si, ou então vai tudo para o inferno servir de ventoinha ao diabo. Agora
substituam partículas por mecanismos evolutivos (que são observados a ocorrer
actualmente) e, então, têm uma breve descrição daquilo em que muitos
criacionistas acreditam.
*Nota: Duas placas carregadas afectam fotões virtuais e
geraram uma força – ou uma atracção ou uma repulsão, dependendo do arranjo
específico das duas placas (The
Force of Empty Space, Physical Review Focus, December 3, 1998).
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
A espiritualidade de um ateu
O sentimento de admiração, de humildade perante um universo
tão vasto, que tem muito por conhecer, de onde surgiu a vida naquela pequena
porção que não é constituída por matéria e energia negra, e de unidade com esse
Universo é algo que se pode identificar como espiritualidade (num sentido não
religioso). Também para isso, deus não é necessário (e acreditar nele também não),
nem para fazer meditação (que pode ter realmente efeitos positivos na mente
humana (1)).
(Este vídeo também é interessante: Sam Harris - Atheist
Spirituality - http://www.youtube.com/watch?v=Q_1l90CovBk)
Ref.:
1. “Killing the Buddha” (Killing The Buddha, Sam Harris,
Shambhala Sun, March 2006 – disponível em: http://www.samharris.org/site/full_text/killing-the-buddha/
)
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Assinem isto (para quem é pro-ciência)
Assinem esta petição: http://act.engagementlab.org/sign/climate_parents_kentucky?referring_akid=.182201.uejDjM (eu já assinei)
terça-feira, 3 de setembro de 2013
Destruindo o argumento cosmológico
O argumento cosmológico é algo como isto:
Premissa 1. Tudo
o que começou a existir tem uma causa
Premissa 2. O Universo começou a existir
Conclusão: logo o Universo tem uma causa.
Premissa 2. O Universo começou a existir
Conclusão: logo o Universo tem uma causa.
Daqui os crentes
partem para a afirmação de que a causa é o seu deus particular (o deus
judaico-cristão normalmente), o que não pode ser inferido pelas premissas
acima, como referiu o Ludwig Krippahl na penúltima entrada do "Que
treta!" ("O
argumento cosmológico"). Nesse texto, o argumento usado por filósofos
(pregadores?) cristãos como William Lane Craig é corrido à vassourada para fora
de debate pelo autor do blog.
O Ludwig Krippahl
chama a atenção para o facto da física moderna demonstrar que há coisas
que começam a existir e que não têm causa, pelo que a primeira premissa é
falsa. E o pior (para os crentes, claro) é que a segunda premissa também é
falsa - é preciso que o Universo tenha tido um começo no sentido de haver um
instante antes do Universo surgir, depois o instante em que o Universo surge e
por aí fora, que é aquilo a que se refere a segunda premissa (só assim é que
podemos falar de causalidade porque a causa tem de preceder o seu efeito), mas
não houve um “antes do Universo" e nem houve um começo propriamente dito
(no tempo), segundo Hawking e Hartle.
Recomendo aos
leitores que sigam o link acima e acedam ao texto. Vale a pena ler.
Para terminar
quero dizer uma coisa: o vácuo quântico de onde podem surgir universos encaixa-se
perfeitamente nas teorias da física, empiricamente fundamentadas, pelo que
qualquer pessoa com o mínimo de discernimento devia fiar-se nessa hipótese e
não num deus que aparece num conto para crianças da Idade do Bronze, sobre o
qual se foram inventando mais umas quantas coisas.
Errata*: A causa pode não preceder o efeito, mas é de notar notar que nada está garantido, quanto ao argumento, a respeito do facto do universo ter tido uma causa, uma vez que o universo não começou a existir no sentido de que foi um evento no tempo e no espaço, mesmo se considerássemos que a primeira premissa é verdadeira, pois esta refere-se a observações relativas a ocorrências no espaço e no tempo, aqui no nosso universo.
Existem evidências de que o universo surgiu espontaneamente do nada, sem precisar de deus. (para mais, ler a parte II)
*Actualizado em 18/3/2014
Errata*: A causa pode não preceder o efeito, mas é de notar notar que nada está garantido, quanto ao argumento, a respeito do facto do universo ter tido uma causa, uma vez que o universo não começou a existir no sentido de que foi um evento no tempo e no espaço, mesmo se considerássemos que a primeira premissa é verdadeira, pois esta refere-se a observações relativas a ocorrências no espaço e no tempo, aqui no nosso universo.
Existem evidências de que o universo surgiu espontaneamente do nada, sem precisar de deus. (para mais, ler a parte II)
*Actualizado em 18/3/2014
domingo, 1 de setembro de 2013
Hitler era cristão?
Há evidências de que este era um ocultista e uma espécie de pagão disfarçado, o que não implica a descrença num deus pessoal (1, 2, 3) e provavelmente essa crença estaria presente, pelo menos numa certa fase da sua vida (quando escreveu "Mein Kampf") (1), não sendo muito diferente daquilo que os católicos acreditam actualmente. No entanto, ainda que Hitler não fosse cristão, isso realmente importa? Não. Se ele fingiu ser cristão por motivos políticos, isto é, para conseguir que o povo o seguisse, isso significa que a religião cristã sempre ajudou Hitler. Parafraseando: « Só consigo convencer pessoas a lançar bombas e matar pessoas se fingir ser cristãos como eles». Continua a não ser nada favorável ao cristianismo. Além das atrocidades terem sido cometidas maioritariamente por cristãos, o seu líder, teve que fingir ser cristão para conseguir que eles o ajudassem a concretizar actos atrozes que ficaram na história da humanidade - «Se és cristão, então deves estar certo.» Isto ilustra bem o pensamento religioso, baseado na autoridade. É como o velho argumento do "Cientista X" dos criacionistas e companhia, só que desta vez é o "Cristão X".
Aqui fica um vídeo cómico sobre o assunto, para descontrair um bocadinho (o sotaque alemão fingido é hilariante):
2. http://en.wikipedia.org/wiki/Nazism_and_occultism
3. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ocultismo
Aqui fica um vídeo cómico sobre o assunto, para descontrair um bocadinho (o sotaque alemão fingido é hilariante):
Refs.:
3. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ocultismo
A desonestidade dos criacionistas
O Mats no seu blog continua a censurar comentários sem
outros motivos que não o de fazer com que os criacionistas tenham a última
palavra. O que eles dizem é só disparates, portanto também não ganham muito com
isso perante leitores minimamente informados, pelo que pouco me importa esse
aspecto da questão. O que eu não suporto é a desonestidade dessa atitude e das suas afirmações. Um exemplo é a afirmação do Mats e de outros
criacionistas de que o blog dele (Darwinismo)
apresenta evidências da criação divina e desfavoráveis á teoria da evolução
(aqui, nos comentários), o que é uma mentira descarada. Tudo o que está no blog do Mats,
incluindo textos e comentários dos criacionistas, pode ser resumido assim: erros
científicos (muitos erros), quote mining, interpretações erradas de coisas que
os criacionistas leram aqui e ali, afirmações de fé na criação divina e no
cristianismo em geral, algumas descrições de certos sistemas/mecanismos complexos
acompanhadas da afirmação de que estas foram criadas – sem qualquer tipo
justificação para dizer tal coisa. E são estas as evidências do Mats. E depois
os criacionistas querem ser levados a sério e ficam muito escandalizados quando
os proíbem de ensinar às crianças os disparates que eles normalmente dizem e
quando gozam com eles publicamente. Se querem ser respeitados dêem-se ao
respeito - e não é com desonestidade que se consegue isso.
sábado, 31 de agosto de 2013
Mais sobre o novo “monstrinho”* do Stephen C. Meyer
O novo livro do Stephen C. Meyer (criacionista do design
inteligente) tem mais uma coisa que deve ser referida: a arte de “quote mine”
está presente na forma de uma colagem de frases de um artigo de um cientista
sobre o registo fóssil da radiação (“explosão”) do Câmbrico, tendo a última
frase da citação uma distância de 15 páginas das frases anteriores às
reticências. É impressionante.
Para mais detalhes consultem esta entrada do Panda’s Thumb: “Stephen
Meyer: workin’ in the quote mines” (disponível aqui: http://pandasthumb.org/archives/2013/08/stephen-meyer-w.html#more).
* O novo livro de propaganda criacionista do Stephen Meyer -
“Darwin’s Doubt”.
Homologia, homoplasia e evidências da evolução
A homologia é testada, não se pressupondo que as semelhanças
entre certas estruturas anatómicas, genes ou proteínas indicam por si só que estes
são homólogos (isto é, que estes partilham um ancestral comum). Uma abordagem interessante
para distinguir entre múltiplas origens e ancestralidade comum, é a apresentado
por Douglas Theobald num artigo intitulado “A formal test of the theory of
universal common ancestry” (1). Outra abordagem (2) é que, apesar de que talvez
o que Theobald pretendia fazer seja inalcançável, há várias linhas de evidência
que levam os cientistas a poder afirmar que a origem independente (o que
incluiu evolução convergente por selecção devido á função da proteína) é muito
menos provável do que a ancestralidade comum: várias vias estão disponíveis
para a evolução proteica, os casos registados de evolução convergente não incluem
sequências muito semelhantes, enzimas diferentes têm a mesma função.
Muitas vezes ao analisar dados moleculares (que são usados
na elaboração de hipóteses filogenéticas) descobrem-se casos de homoplasia anatómica
(morfológicas), como aconteceu com certas espécies de plantas da família Malvaceae
(malvas) (3). Mais ainda, um bom exemplo de homologia genética, mas não anatómica
é o do gene regulador Pax6, que existe em animais tão distintos como moscas do
género Drosophila e ratos, o qual funciona como um interruptor para diferentes
programas de desenvolvimento em diferentes tipos de organismos, sendo tido como
homólogo não só apenas pela sua semelhança bioquímica (sequencial), mas pela
sua distribuição taxonómica (4).
Em termos de desenvolvimento anatómico temos o exemplo dos
arcos branquiais, cuja distribuição taxonómica das vias de desenvolvimento através
destes é evidência para ancestralidade comum entre peixes e tetrápodes (4).
Há ainda que distinguir dois tipos de homologia molecular: um
par de genes pode incluir parálogos, que partilham um gene ancestral em comum
que se duplicou, ou ortólogos, cujo ancestral comum estava presente numa espécie
que deu origem a outras, suas descendentes, cada uma com a sua versão do mesmo
gene. Os últimos são usados para construir árvores filogenéticas de uma espécie
e os primeiros são usados para construir árvores de genes. E, como já foi
referido algures aqui no blog, em filogenética não se assume ancestralidade
comum.
As evidências da evolução não estão apenas nas semelhanças
observadas entre genes, proteínas e estruturas anatómicas, mas no padrão que
elas formam – Já foram dados vários exemplos anteriormente (ao longo dos textos
deste blog) e, de um modo geral, é o padrão de uma árvore genealógica.
Apesar de tudo o que eu já expliquei ser assim desde que se estudam estas coisas os criacionistas não conseguem acertar uma relativamente ao assunto, o que ficou bastante explicito no livro de Wells, "Icons of Evolution" (2000).
Nota: Uma extensa crítica ao livro de Wells, “Icons of
Evolution” (2000), elaborada pelo Dr. Alan D. Gishlick do NCSE (geólogo), pode
ser encontrada aqui: http://ncse.com/creationism/analysis/icons-evolution.
Referências:
1. “A
formal test of the theory of universal common ancestry”, Nature – Maio,
2010. Ver o artigo completo aqui.
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
NÃO sou criacionista
Relativamente a um pequeno texto que coloquei aqui no blog com o título "Sou criacionista", tenho que informar os leitores de que isso era uma ironia e que eu não sou de facto criacionista. Sou ateia. O texto foi removido.
P.S.: Isto vem a propósito da reacção de pessoas que me conhecem pessoalmente ao texto referido.
P.S.: Isto vem a propósito da reacção de pessoas que me conhecem pessoalmente ao texto referido.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
Evidências da evolução no corpo humano
A cauda é partilhada por
todos os mamíferos a certo ponto do desenvolvimento.
Os humanos também têm uma
cauda vestigial ou verdadeira, em contraste com a pseudo-cauda e ambas aparecem
por vezes nos recém-nascidos, o que, no primeiro caso, é designado por
atavismo. Mesmo os humanos adultos têm uma cauda (óssea) vestigial, que é o
cóccix – as vértebras terminais que por vezes nos dão dores de costas. Estes
factos reflectem a herança em comum, não só com os outros primatas, mas com os
outros mamíferos.
É importante distinguir a
cauda vestigial, ou seja, o atavismo nos recém-nascidos da pseudo-cauda que
também aparece nos bebés pelo exame clínico e patológico. Vários estudos
indicaram a natureza benigna da verdadeira cauda. A verdadeira cauda surge a
partir do remanescente mais distal da cauda embrionária, contém tecido adiposo,
conjuntivo, músculo e tecido nervoso, e é coberto por pele. As pseudo-caudas
representam uma variedade de lesões que têm uma semelhança superficial com as
caudas vestigiais ou caudas verdadeiras. A análise dos relatos de casos indica
que a espinha bífida é a anomalia mais frequente que convive com ambas as
caudas.
A cauda vestigial surge pela
retenção das estruturas encontradas normalmente no desenvolvimento fetal. A
embriogénese associada á cauda humana é observada pela primeira vez na quarta
semana de gestação.
Esta pode ter até 13 centímetros , pode
mover-se e contrair-se, e ocorre duas vezes mais em homens do que em mulheres. Uma
verdadeira cauda é facilmente removida cirurgicamente, sem efeitos residuais.
Raramente é familiar. Pseudo-caudas são lesões variadas que têm em comum uma
saliência na região lombossacral. A causa mais frequente de uma pseudo-cauda é
um prolongamento anormal das vértebras do cóccix ou, entre outras lesões, um
fina e alongado feto parasitário.
Aquilo a que normalmente
chamamos “pele de galinha”, ou seja, o reflexo pilomotor pode também ser
considerado um vestígio. Quando uma pessoa tem frio ou está assustada, pequenos
músculos na base de cada pêlo contraem, fazendo com que os pêlos do corpo
fiquem em pé. Em
animais com mais pêlo, isso é um reflexo útil: os pêlos erectos fazem uma
armadilha de ar para criar uma camada de isolamento, e eles também fazem o
animal parecer maior. No entanto isso no ser humano é inútil. Isto seria de
esperar se animais mais peludos (como os chimpanzés) tivessem sido ancestrais
do Homo Sapiens.
Todas estas evidências
apontam para uma coisa: evolução. Para quem não gosta: proponha ou cale-se.
Refs.:
Eva mitocôndrial
"Eva mitocôndrial" é o termo que é normalmente usado em divulgação científica (por ser fácil de memorizar) para designar a nossa ancestral comum matrilínear mais recente. Esta viveu em África há 99.000-148.000 anos.
Esta mulher não foi a primeira das mulheres modernas (em termos de anatomia) no planeta, mas sim apenas uma de milhares de mulheres suas contemporâneas, com uma linhagem materna contínua até aos dias de hoje. É, então, de notar que não existe qualquer relação entre esta mulher e a Eva bíblica.
Como existe uma "Eva mitocôndrial", existe um "Adão do cromossoma Y", ou seja, o ancestral comum mais recente dos humanos actuais por via patrilínear, designação que não se encontra fixada num só indivíduo. É de notar que não existem evidências de que este tenha vivido próximo da "Eva mitocôndrial", quanto mais se que tenham alguma vez acasalado. Além disso, as estimativas da época em que viveu, apesar de variarem, na sua maioria apontam para que seja muito antes da "Eva mitocôndrial". À semelhança desta, foi penas um dos muitos homens seus contemporâneos, com uma linhagem paterna contínua até aos dias de hoje. Mais uma vez: não há qualquer relação com o conto bíblico.
Muitas vezes as designações "Eva mitocôndrial" e "Adão do cromossoma Y" são utilizadas sem qualquer explicação ou contexto, podendo fazer com que as pessoas percebam que se tratam das mesmas pessoas de que fala o mito da criação judaico-cristão, o que, como já expliquei em cima está totalmente errado. Só pela cronologia estaria errado, além de não terem sido as primeiras pessoas, únicas no seu tempo. Não existem quaisquer evidências de que o Adão e Eva bíblicos tenham existido, apenas de que o "Adão e Eva" genéticos existiram há dezenas ou centenas de milhares de anos (e não há 6 a 10 mil anos).
Refs.:
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Mais evidências moleculares da evolução
O apoio para a ancestralidade comum devido a estudos de sequências moleculares passa pelos genes que estão
presentes em todos os organismos vivos actualmente e depende da semelhança
desses num contexto específico: redundância funcional proteica.
Há certos genes que todos os
organismos vivos têm, porque desempenham as funções mais básicas de vida, estes
genes são chamados de genes ubíquos ou omnipresentes. Os genes ubíquos não são
correlacionados com fenótipos específicos de uma espécie: não têm nenhuma
relação com as funções específicas de diferentes espécies. Por exemplo, não
importa se é uma bactéria, um ser humano, um peixe, uma baleia, um golfinho, um
tentilhão, um cogumelo, uma minhoca ou uma estrela do mar - esses genes estão
lá, e todos eles desempenham a mesma função biológica básica. As sequências
moleculares de genes ubíquos são funcionalmente redundantes: Qualquer proteína
ubíqua tem um número extremamente grande de diferentes formas funcionalmente
equivalentes (ou seja, sequências de proteínas que podem executar a mesma
função bioquímica).
Obviamente, não há nenhuma
razão á priori para que cada organismo tenha que ter a mesma sequência ou
sequências semelhantes. Nenhuma sequência específica é funcionalmente necessária
em qualquer organismo - tudo o que é necessário é um de um grande número de
formas funcionalmente equivalentes de um determinado gene ou proteína ubíqua.
Hereditariedade correlaciona
sequências, mesmo na ausência de necessidade funcional: existe um, e somente
um, mecanismo observado que faz com que dois organismos diferentes tenham
proteínas ubíquas com sequências semelhantes (além da improbabilidade extrema
de puro acaso, é claro). Esse mecanismo é a hereditariedade.
Estudos com genes funcionais
têm-se centrado em genes de proteínas (ou RNAs) que são comuns (ou seja, estão
presentes em todos os organismos). Isto é feito para assegurar que as
comparações são independentes do fenótipo específico.
Por exemplo, o O citocromo c
é uma proteína essencial e encontrada em todos os organismos, incluindo
bactérias e eucariontes. As mitocôndrias de células contêm o citocromo c, onde
este transporta electrões num processo metabólico fundamental: a fosforilação
oxidativa.
Utilizando para um estudo um
gene ubíquo como o do citocromo c, não há razão para supor que dois organismos
diferentes devem ter a mesma sequência proteica ou sequências proteicas
parecidas, a menos que os dois organismos sejam geneticamente relacionados.
Isto é devido, em parte, à redundância funcional das sequências de proteínas e
das estruturas. Aqui, a "redundância funcional" indica que muitas sequências
de proteínas diferentes formam a mesma estrutura geral e desempenham o mesmo
papel biológico. O Citocromo c é uma proteína redundante em termos funcionais,
pois muitas sequências diferentes podem desempenhar a mesma função. A maioria
dos aminoácidos no citocromo c é muito variável, sendo difícil destruir a sua
função modificando os resíduos (1). O citocromo c até um exemplo normalmente
utilizado no ensino da biologia evolutiva, mais propriamente da filogenética.
É claro que eu não estaria a
ter este trabalho todo se não se confirmasse que existem de facto semelhanças
indicativas de relação de ancestralidade. Um exemplo são os humanos e os chimpanzés,
outro são os humanos e os morcegos (que, como exemplo, têm muito mais
semelhanças entre eles do que entre morcegos e colibris.
Mais uma coisa gira sobre o
citocromo c: uma outra proteína, a plastocianina, evoluiu convergentemente para
desempenhar a mesma função do citocromo c 6. Tratam-se de duas pequenas
proteínas solúveis que contém cobre e um grupo heme, respectivamente, que estão
localizadas no lúmen dos tilacóides e fazem a transferência de electrões do
citocromo b 6-f para o fotossistema I em muitos dos organismos fotossintéticos.
Em cianobactérias, as duas metaloproteínas de facto desempenham um papel
respiratório extra como doadores de elétrons para a enzima citocromo c oxidase.
Não há nenhuma relação filogenética nem estrutural entre estes, embora partilhem
um certo número de parâmetros físico-químicos e semelhanças estruturais que
lhes permitem substituir-se mutuamente dependendo da disponibilidade do cobre. Este
é um excelente exemplo de evolução convergente, a nível molecular, o qual é interpretado
como uma consequência da adaptação microbiana às condições ambientais, segundo
a disponibilidade de ferro e cobre. Um estudo sobre o assunto foi publicado em
2011 (Bioenergetic
Processes of Cyanobacteria) (2).
Por falar em evolução
convergente e homologia, é de notar que os biólogos já em 1970 se preocupavam
em arranjar métodos para distinguir homoplasia de homologia verdadeira por
métodos estatísticos, ao contrário do que muitos podem pensar, como ilustrado
no estudo intitulado “Distinguishing homologous from analogous proteins” (Systematic Zoology) (3). Devo
também lembrar que não se pode usar ortólogos para construir árvores
filogenéticas referentes a espécies.
Refs.:
1.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2834231?dopt=Abstract
(via “Talkorigins”)
O que se pode observar
As evidências que apontam
para a evolução são observadas pelos cientistas tanto em laboratório como no
campo – por exemplo, o registo fóssil.
Quando sequenciamos uma
porção de DNA estamos a observar a realidade dessa sequência no laboratório,
quando comparamos duas sequências de DNA, estamos a mesma coisa, quando se
analisa um fóssil, o mesmo. Todas as evidências científicas são constituídas
por observações como estas. Podemos reconstruir a história evolutiva das aves,
mas não temos que ver a transição de dinossauros para aves com os nossos
próprios olhos. Temos os fósseis e o DNA e isso chega. Nem sequer somos
obrigados a ver eventos de especiação ou partes do processo em campo ou no
laboratório (embora isso já tenha acontecido), porque mais uma vez temos algo
como o DNA – os padrões genéticos das várias espécies de Plasmodium, por exemplo. Em ciência, seja em que área for, o método
base é sempre o mesmo: o método científico. Servimo-nos sempre das evidências -
daquilo que observamos, para ver qual das hipóteses se encontra mais em
concordância com estas. Por exemplo, podemos decidir se um E.T. concebeu uma
pedra com inteligência ou se esta é apenas o produto de processos naturais como
a sedimentação, compactação, erosão, entre outros, baseando-nos na recolha de
dados da rocha e testar as previsões de cada uma das hipóteses. No entanto, não
precisamos de assistir ao processo de formação da rocha para sabermos isso. É
claro que quando uma hipótese não se distingue das outras, essa não interessa:
por exemplo, uma hipótese que afirme que o E.T. criou a rocha como se ela
tivesse surgido naturalmente.
Os cientistas aceitam a
teoria da evolução, não por serem anti-religião, não porque simplesmente lhes
apeteceu chatear a Igreja de Inglaterra no tempo de Darwin, mas porque as
evidências apontam para essa hipótese e para nenhuma outra desde que Darwin e
Wallace começaram a trabalhar nessa questão. A teoria da evolução é o melhor
que temos até agora para explicar a diversidade de espécies que nos rodeia e a
existência da nossa própria espécie. Isto é ponto assente. É claro que isso
chateia muita gente, mas a ciência não existe para agradar a gregos nem a
troianos. Não gostar do que se descobre através do método científico, em nada
afecta a sua prosperidade. Desde que funcione – e sabemos que funciona (basta
comparar os resultados da medicina baseada na ciência com os da homeopatia, só
como exemplo) – vamos continuar assim.
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