terça-feira, 23 de julho de 2013
A Evolução do Besouro Bombardeiro (Brachynus crepitans)
O Besouro Bombardeiro (Brachynus crepitans) evoluiu um eficaz mecanismo de defesa contra predadores que consiste resumidamente no seguinte: químicos misturam-se para causar uma explosão (na realidade várias) e são expelidos por dois tubos localizados na parte posterior do corpo. O líquido é disparado a temperaturas que podem atingir os 100º Celsius para afastar a maior parte dos predadores.
Vários autores têm vindo a desvendar a sequência evolutiva até ao mecanismo actual desde 1970:
1) Insectos produzem quinonos para proteger a sua pele. Quinonos tornam-nos desagradáveis para predadores, então os insectos evoluem para produzirem mais e mais deles como defesa química, incluindo hidroquinonos.
2) Os predadores desenvolvem resistência aos quinonos, o que faz os besouros adquirirem ainda mais quinonos, num círculo vicioso - co-evolução.
3) Os insectos evoluem depressões para armazenamento e músculos para ejectá-los na superfície quando são ameaçados. A depressão torna-se um reservatório com glândulas secretoras fornecendo hidroquinono. Essa configuração existe em muitos besouros, incluindo parentes do besouro bombardeiro (Forsyth 1977).
4) Peróxido de hidrogénio é misturado com os hidroquinonos. Catalases e peroxidases aparecem junto com a saída do reservatório, assegurando que mais quinonos apareçam no produto expelido.
5) Mais catalases e peroxidases são produzidas, gerando oxigénio e produzindo uma pequena descarga, como no besouro bombardeiro Metrius contractus (Eisner et al. 2000).
6) À medida que a passagem de saída se torna uma sólida passagem, ainda mais catalases e peroxidades são produzidas, gradualmente até os besouros bombardeiros chegarem ao estado actual.
É um sistema de defesa muito complexo que, mais uma vez, evoluiu por vias adaptativas.
Refs.:
Dettner, Konrad, 1987. Chemosystematics and evolution of beetle chemical defenses. Annual Review of Entomology 32: 17-48.
Eisner, Thomas, 1970. Chemical defense against predation in arthropods. In Sondheimer, E. & J. B. Simeone, Chemical Ecology, Academic Press, NY, pp. 157-217.
Holldobler, Bert & Edward O. Wilson, 1990. The Ants, Bleknap Press, MA.
Kanehisa, Katsuo & Masanori Murase, 1977. Comparative study of the pygidial defense systems of carabid beetles. Appl. Ent. Zool., 12(3): 225-235.
Eisner, Thomas, D.J. Aneshansley, M. Eisner, A.B. Attygalle, D.W. Alsop, J. Meinwald, 2000. Spray mechanism of the most primitive bombardier beetle (Metrius contractus). Journal of Experimental Biology 203: 1265-1275.
(Resumo: http://jeb.biologists.org/cgi/content/abstract/203/8/1265; artigo completo: http://jeb.biologists.org/cgi/reprint/203/8/1265.pdf)
(Via “TalkOrigins” - http://www.talkorigins.org/faqs/bombardier.html#Forsyth1970)
Nota: No blog do Mats (“Darwinismo”), este continua a espalhar que o besouro bombardeiro não pode ter evoluído. Isso é mentira, como um comentador apontou, apontando as várias etapas (que eu verifiquei no “TalkOrogins” para este texto). Parece que os criacionistas ainda estão mais atrasados do que pensei ao princípio quando li o texto e o comentário: são 43 anos de atraso científico.
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