domingo, 21 de julho de 2013

Olho humano vs câmara fotográfica


Descobri na internet* (como é costume) um texto que dizia o seguinte: «Se houvesse uma comparação entre uma câmara fotográfica e a visão humana, quantos megapixels nossa visão teria? Ela teria 341.5 megapixels.» Este número, de acordo com o texto, é bastante superior ao das câmaras fotográficas actuais.  

Mas para chegar a este resultado é preciso fazer umas pequenas contas. E o texto continua: «Manuel Menezes de Oliveira Neto, doutor em Ciência da Computação e professor da UFRGS, explica que, através de movimentos rápidos, o olho faz uma varredura da cena de modo contínuo e envia essas informações ao cérebro, que as combina e compõe as imagens. Para cada grau do campo de visão, o olho faz 77 “ciclos”. Oliveira diz que, segundo a metodologia de um estudo publicado no Journal of Comparative Neurology, são necessários dois pixels para definir um ciclo, totalizando – na complicada matemática da visão – 154 pixels para cada grau do campo de visão.

Assim, por exemplo, se considerarmos a imagem percebida por alguém que observa uma cena com um campo visual de 120 graus tanto na horizontal quanto na vertical, teríamos: 120 x 154 x 120 x 154 = 341.5 megapixels.» Mas o problema é que nós só vemos uma faixa central estreita da imagem com nitidez (enquanto que uma máquina dá imagem nítida em toda a imagem. Houve quem apontasse isto e usasse nos cálculos um valor de 8 graus, o que dava um valor de apenas 1,5 megapixels. Até está bom (para biologia), mesmo assim. Mas ao fim de milhões de anos de selecção natural a filtrar as mutações genéticas mais úteis aos indivíduos, isto não é surpreendente.

Ainda que o resultado fosse algo como 341.5 megapixels isso nada nos diz quanto á questão sobre a evolução do olho, portanto não serviria de nada a nenhum movimento religioso anti-evolução espalhar isso por aí. Seria apenas mais uma curiosidade sobre o corpo humano. E não seria de todo surpreendente, pelo que eu sei sobre a eficácia do processo evolutivo, especialmente da selecção natural, que é até usada no design de certos equipamentos (Richard Dawkins, “O relojoeiro cego”) e na qual foram inspirados os algoritmos genéticos, utilizados em problemas de optimização.


* Nota: o original é este:
Qual a resolução em megapixels do olho humano? (http://super.abril.com.br/blogs/oraculo/qual-a-resolucao-em-megapixels-do-olho-humano/), mas o Mats copiou o texto e o título na íntegra, sem sequer verificar se estava tudo certo (aqui: Qual a resolução em megapixels do olho humano?)

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