quarta-feira, 31 de julho de 2013

Sobre reparação do DNA, mutações e evolução

O artigo de William DeJong e Hans Degens, “The Evolutionary Dynamics of Digital and Nucleotide Codes: A Mutation Protection Perspective” (1) (o qual os criacionistas adoram citar) faz uma grande confusão ao sugerir que os mecanismos de protecção contra as mutações presentes nas células constituem um problema para a teoria da evolução, parecendo querer dizer que o que este mecanismo permite em termos evolutivos é muito restritivo, tendo que ser desligado ou ficar disfuncional, mas que por outro lado a evolução deste traria vantagem. É que isso não é bem assim. Na vida real em certas ocasiões os danos no DNA não são reparados (com o mecanismo a funcionar normalmente), o que leva ao aparecimento de muitas mutações neutras (ou pelo menos próximas disso), que são uma maioria, poucas vantajosas e algumas prejudiciais. E assim, podemos determinar a taxa de mutações, por exemplo contando as mutações que ocorreram entre gerações. Estas mutações são uma mais valia para a evolução, que parece funcionar muito bem (reparem nas experiências de Richard Lenski). Portanto, se eu tivesse que classificar este artigo numa escala de 0 a 10 eu atribuía-lhe um 2. Está muito desligado da realidade biológica.  

Quanto à evolução do mecanismo, os cientistas sabem como ocorreu. P. J. O’Brien teve um artigo seu publicado em 2006 (Chemical Reviews) intitulado "Catalytic promiscuity and the divergent evolution of DNA repair enzymes", onde trata desse assunto e é citado num artigo de revisão sobre a evolução, através da promiscuidade enzimática, de funções que podem ser melhoradas (através de mutações) e vantajosas (referência 11) (2). É basicamente isto: as enzimas vão de especialista a generalista e de generalista a outro especialista.

Nota: Chamo a atenção para o facto do artigo de William DeJong e Hans Degens não apoiar o design inteligente.


Refs:




P.S.: O Sérgio (Mats) disse uns quantos disparates num texto no blog dele sobre este assunto, que tem como fonte um site criacionista: O mecanismo de reparação do ADN está de acordo com a teoria da evolução?(http://darwinismo.wordpress.com/2013/07/30/o-mecanismo-de-reparacao-do-adn-esta-de-acordo-com-a-teoria-da-evolucao/). Cada vez que o Mats escreve um texto demonstra a sua ignorância em assuntos de biologia e, neste caso particular, de biologia molecular.

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