domingo, 14 de julho de 2013

Evolução: Domesticação de Raposas Prateadas


Lembram-se do livro de Richard Dawkins, “The Greatest Show on Earth: The Evidence for Evolution”? Um dos assuntos abordados foi a selecção das raposas prateadas (Vulpes vulpes) mais mansas numa experiência que decorreu na Rússia durante 40 gerações (1), levada a cabo por Dmitry Belyaev, o que resultou, além das alterações no comportamento, em alterações morfológicas que fizeram as raposas parecerem-se com cães (orelhas descaídas, caudas reviradas, entre outras). Penso que isto encaixa naquilo que se designa normalmente por evolução convergente (em relação aos cães). Aparentemente, os cientistas não seleccionaram para os traços morfológicos, tendo estes surgido devido a efeitos pleiotrópicos, pois hormonas envolvidas no comportamento estão também envolvidas nas vias de desenvolvimento embrionário, pelo que seleccionar para um comportamento diferente pode alterar as vias de desenvolvimento associadas ás mesmas hormonas (1, 2).
Após 10 gerações de selecção, 17,8% das raposas tinham comportamentos semelhantes a cães (“elite domesticada”), após 20, 35% das raposas tinham esse tipo de comportamento, após 30 gerações, as raposas com comportamento de cão constituíam 49% da descendência e em 2004 já ia em 70%. É de notar que a selecção foi elevada a um extremo (1).
A base genética das mudanças comportamentais é provavelmente aditiva, uma vez que crias do cruzamento entre indivíduos da linhagem experimental resultante de selecção artificial (mansas como cães) e indivíduos de uma linhagem que não resultou de selecção artificial tinham comportamento intermédio (3).
Esta experiência é boa para ilustrar o que a selecção natural pode fazer a uma população. A selecção (artificial e natural) aumenta a frequência de uma dada característica seleccionada ou gene seleccionado, por vezes até esta estar presente em 100% dos indivíduos de uma população. É de notar que um gene nem sempre corresponde a apenas uma característica e vice-versa.

Referências:

1. “An Experiment on Fox Domestication and Debatable Issues of Evolution of the Dog”, L. N. Trut, Russian Journal of Genetics, Vol. 40, No. 6, 2004, pp. 644–655. Translated from Genetika, Vol. 40, No. 6, 2004, pp. 794–807 (disponível em: http://cbsu.tc.cornell.edu/ccgr/behaviour/04_Recent_Publications/Trut_genetika04.pdf)
2. “Early Canid Domestication: The Farm-Fox Experiment”, Lyudmila N. Trut (disponível em: http://155.97.32.9/~bbenham/2510%20Spring%2009/Behavior%20Genetics/Farm-Fox%20Experiment.pdf)
3. “Selection for tameness has changed brain gene expression in silver foxes”, Julia Lindberg et al, Current Biology, Volume 15, Issue 22, R915-R916, 22 November 2005 (disponível em: http://www.cell.com/current-biology/retrieve/pii/S0960982205013278)

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