Foi referido anteriormente
um exemplo em que a Teoria da evolução e a medicina se encontram: o exemplo dos
estudos sobre resistência á malária conferida pelo traço falciforme em populações
de zonas afectadas. A teoria da evolução é importante para perceber a dinâmica
da genética de populações também relativamente a doenças (por isso mesmo tenho
uma cadeira de genética que inclui genética de populações).
Mas as aplicações da teoria
da evolução á área da saúde não ficam por aqui. Tal como podemos calcular
árvores filogenéticas para, por exemplo, espécies diferentes de parasitas,
podemos também calculá-las para anticorpos, o que auxilia na compreensão da sua
maturação e podemos ainda inferir precursores. Por exemplo: os anticorpos
contra o HIV (de reacção cruzada) de vários pacientes foram analisados numa
perspectiva de procurar vias comuns de maturação, através do estudo da sua
“história evolutiva” (uma vez que a maturação dos anticorpos resulta de um
processo semelhante á evolução das espécies).
Ainda há por aí alguém que
questione a utilidade da teoria da evolução?
Referências:
“Focused
Evolution of HIV-1 Neutralizing Antibodies Revealed by Structures and Deep
Sequencing” - Science 333, 1593 (2011);
Xueling
Wu et al. (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3516815/)
Madalena,
ResponderEliminarSe a teoria da evolução "se encontram", como é possível que virtualmente toda a Medicina avance sem levar em conta a teoria da evolução?
Corrigindo, se a teoria da evolução e a Medicina se encontram . . .
ResponderEliminarEu sou estudante no ensino superior de análises clínicas e de saúde pública, fiz um trabalho de imunologia que me levou mais de uma tarde inteira sobre o assunto da importância da teoria da evolução no estudo da maturação dos anticorpos, o meu trabalho de genética molecular foi exactamente sobre a anemia falciforme, traço falciforme e a evolução das populações das zonas afectadas por malária. Há ainda quem defenda que o cancro pode ser visto como um processo evolutivo (uma das teorias a respeito do cancro que mais é tida em conta, que eu saiba). Penso que o texto diz tudo o resto que há para dizer sobre o assunto.
ResponderEliminarMadalena,
ResponderEliminarEu como criacionista nunca poderia trabalhar em Medicina sem acreditar que peixes evoluíram para pescadores, mamiferos terrestres para baleias, e répteis para pássaros? Lembre-se que todos os criacionistas aceitam a variação genética; nós rejeitamos sim a crença de que as mutações aleatórias têm o poder criativo que os ateus evolucionistas pensam que tem.
Portanto, diga-me que área da Medicina um criacionista não pode trabalhar.
Poder, até podia, mas para trabalhar por exemplo na área da parasitologia isso iria ser um bocado problemático porque ao fazer as árvores filogenéticas estaria a determinar relações entre espécies distintas (do mesmo modo, exactamente que se determinam as relações entre peixes e pescadores...). Mas se se esquecesse durante o horário de trabalho do criacionismo, talvez resultasse. De qualquer modo, não é isso que está em causa, mas sim a utilidade da teoria da evolução.
EliminarMadalena,
ResponderEliminarEu preciso de estabelecer "relações entre espécies distintas" para curar uma pessoa?
Não disse isso. Mas convém ter as espécies sistematizadas e a filogenia estruturada. E precisa de ter uma ideia do que uma vacina pode fazer relativamente a uma doença como a SIDA (o caso dos anticorpos). Os cuidados de saúde não se limitam a perscrições e cirurgias.
EliminarMais ainda: o cancro deve ser visto como uma doença genética e como um processo evolutivo. Temos que ter uma noção: podemos modificar as células cancerígenas com engenharia genética (quer temporariamente, quer definitivamente), mas temos que contar que elas se adaptem.
EliminarMadalena,
ResponderEliminarEu preciso saber de que espécie evoluiu um certo animal para poder curar uma pessoa?
Cancro é uma doença genética, mas eu preciso de acreditar que répteis evoluíram para pássaros para saber isso? Antes de Darwin, como é que se fazia Medicina?
Modificar células requer crença na teoria da evolução? Eu não consigo modificar uma célula sem primeiro acreditar que mamíferos terrestres evoluiram para baleias?
"Eu preciso saber de que espécie evoluiu um certo animal para poder curar uma pessoa?" por exemplo, convem ter a noção de que existem várias subspécies (ou espécies) e quais as suas semelhanças e diferenças para um diagnóstico diferencial.
Eliminar"Eu não consigo modificar uma célula sem primeiro acreditar que mamíferos terrestres evoluiram para baleias?" belo espantalho.
"por exemplo, convem ter a noção de que existem várias subspécies (ou espécies) e quais as suas semelhanças e diferenças para um diagnóstico diferencial. "
EliminarE eu preciso de acreditar que mamíferos evoluíram para baleias para saber que "existem várias subspécies" e que existem semelhanças entre algumas formas de vida?
""Eu não consigo modificar uma célula sem primeiro acreditar que mamíferos terrestres evoluiram para baleias?" belo espantalho. "
Qual espantalho? Tu é que dizes que temos que acreditar na teoria da evolução, e agora dizes que é um "epsnatalho"?
"Eu não consigo modificar uma célula sem primeiro acreditar que mamíferos terrestres evoluiram para baleias?" É um espantalho. Modificar células nada tem a ver com a TE, mas o facto delas se poderem adaptar, sim. Eu dei o exemplo da engenharia genética (só como exemplo), mas a situação mais conhecida é a adaptação a fármacos. Escusado dizer que o que eu disse está relacionado com a teoria da evolução, mas nada tem a ver com baleias e mamiferos.
EliminarVer:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1199589/pdf/1471-2407-5-78.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2967073/pdf/6605912a.pdf
"O cancro deve ser visto como uma doença genética e como um processo evolutivo."
ResponderEliminarUma afirmação dessas só dá razão a quem considera que as mutações genéticas apenas favorecem a degeneração do genoma. O problema nesse tipo de raciocínio é pensar que um organismo altamente evoluído e complexo se comporta da mesma forma que um ser unicelular, por exemplo.
Contudo, a falha central no atual modelo da TE é não conseguir integrar a ideia de "inteligência" como motor evolutivo. Aliás, de facto isso aplica-se à própria evolução do Cosmos e está diretamente ligado à noção de complexidade e entropia crescentes, ou ainda, a coexistência de "evolução" e "involução", numa espécie de regresso ao Zero ou Nada original.
"Uma afirmação dessas só dá razão a quem considera que as mutações genéticas apenas favorecem a degeneração do genoma." Não. Não está a ver as coisas pela perspectiva correcta, porque estou a mencionar isto relativamente ao facto das células cancerígenas que sofrerem mutações e se adaptarem, e não relativamente á evolução humana - isso nada tem a ver com ideias malucas que dizem que as mutações só podem ser prejudiciais.
ResponderEliminar«Contudo, a falha central no atual modelo da TE é não conseguir integrar a ideia de "inteligência" como motor evolutivo.» Se por inteligência quer dizer designer inteligente (ou deus), simplesmente não é necessário nem encaixa.