Dando seguimento ao texto anterior, existem vários exemplos de microevolução e de macroevolução a nível específico. Exemplos de bactérias, animais e plantas que se diferenciam em espécies naturalmente é o que não falta. Neste blog já foram exemplificados vários casos. E quanto aos humanos (género Homo)? Obviamente não podemos observar a evolução interespecífica das espécies do género Homo a partir de outras do mesmo género e de um ancestral comum. No entanto, temos o registo fóssil - com algumas lacunas, cujo efeito é minimizado á luz das novas propostas evolutivas relativamente ao gradualismo e modifcações em larga escala. Num estudo entitulado "Evolution of hominin cranial ontogeny" - "Evolução da ontogenia craneana humana" - o que nos remete para aquele nome engraçado: 'Evo-Devo'. Este estudo, publicado em Janeiro de 2012 procurou encontrar um modelo explicativo da relação entre o bipedalismo, a evolução do tamanho do cérebro e a configuração craneana, baseado no desenvolvimento embriológico do crâneo humano - 3
mecanismos principais de reorganização evolutiva do desenvolvimento são propostas: desenvolvimento modificado pré-natal da base do crânio e da face reflete adaptação ao bipedismo;
altas taxas de crescimento neurocraniano durante início ontogenia pós-natal são essenciais para atingir cérebros de maiores dimensões; modificação específica no
taxon do desenvolvimento facial reflete adaptação na dieta uma
tendência geral em direção a neotenia (é o nome dado à propriedade, em animais, de retenção, na idade adulta, de características típicas da sua forma jovem) no género Homo.
Entre espécies há fortes indícios de evolução interespecífica dentro do género Homo. Mas e a evolução e transição entre géneros? Temos o exemplo do Australopitecus sediba, que é provavelmente uma forma intermediária entre o género Australopitecus e o género Homo.
O género
Homo teria surgido entre 2,5 milhões e 2 milhões de anos, a
partir de alguma espécie de
Australopithecus. Entre as características
distintivas do género
Homo estão alterações no maxilar e nos dentes,
locomoção obrigatoriamente bípede e um crânio mais volumoso (com capacidade
interna de
600 a
1.300 cm3 ou mais). A transição entre a linhagem de
Australopithecus que
deu origem ao género
Homo e, dentro deste, à espécie
H. sapiens pode
ser caracterizada pela evolução dessas características e por mudanças no
comportamento social e cultural.
Com base no exame
de restos fósseis dos esqueletos de dois indivíduos, um adulto e uma criança,
encontrados na África do Sul e com datação estimada entre 1,78 milhão e 1,95
milhão de anos, um grupo de pesquisadores descreveu e nomeou uma nova espécie
de antropoide, o Australopithecus sediba. Os autores do artigo,
publicado em abril na revista científica Science (v. 328, no 5.975,
p. 195), pode-se destacar o facto dos restos fósseis indicam que a A. sediba
tinha mais caracteres em comum com as primeiras linhagens do gênero Homo
do que qualquer outra espécie de Australopithecus.
A nova espécie seria, portanto, o ‘elo’ mais recente – ao menos entre as
espécies conhecidas – na transição entre os australopitecíneos e o género
Homo.
Assim,
A. sediba parece ser forte candidato a ocupar uma posição-chave
na árvore evolutiva dos antropoides, aplainando ainda mais o caminho que leva
dos
Australopithecus às primeiras linhagens do género
Homo.
Também na árvore filogenética do cavalo, género equus, (das mais completas até hoje) se podem observar indícios da evolução de um género para o outro - géneros com 3 dedos, progressivamente mais curtos e redução gradual em número (de género para género).
Leituras adicionais:
http://www.ib.usp.br/evosite/lines/IAtransitional2.shtml;
A partir do género, não temos dados paleontológicos conclusivos. Temos formas com características intermédias (Tiktalik rosae; Archaeopterix litographica, entre outros), que indiciam que terá existido um ancestral comum entre estes, aves e répteis; temos dados comparativos da bioquímica e da genética entre proteínas, sequencias de DNA específicas e genomas inteiros, que apontam para ancestralidade comum (e consequentemente macro-evolução). Pode-se afirmar que a evolução natural é um facto cientifico até ao género. A partir daí, há indícios de que ocorre, mas não há sequencias fósseis, exemplos na natureza ou mesmo dados bioquimicos suficientes para reconstituir, com detalhes e certezas mínimos, uma história evolutiva, sendo 'apenas' parte de uma teoria (se bem que as palavras teoria e apenas em ciencia não deveriam aparecer relacionadas. Assim, pode-se dizer que a evolução é uma verdade cientifica. Por todos estes motivos, afirmar em linguagem corrente que a evolução (de um modo geral) é um facto não está muito longe da verdade.
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