segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Definição de Selecção Natural e Darwinismo Contemporâneo

 
 
 



 
A sobrevivência e reprodução diferencial de organismos com características genéticas que lhes permitem utilizar melhor os recursos do meio ambiente”

Atentando neste conceito clássico de Selecção Natural, reparamos que se refere ao desempenho diferencial provocado pelas características genéticas, isto é, pelo genótipo. Os académicos ‘ultradarwinistas’ remetem para segundo planos as modificações na expressão genética (epigenética), a qual influencia profundamente o fenótipo – sendo que algumas características podem mesmo ser herdadas através dos gâmetas. Tudo isto depende do fundo genético (genótipo) e dos factores externos a que os organismo estão expostos. A síntese estendida vem dar ênfase a estes factores, bem como ás relações cooperativas, por isso afirmar que a evolução é guiada apenas por mutações e deriva genética filtradas pela selecção natural demonstra falta de compreensão relativamente ao Darwinismo contemporâneo.    


sábado, 18 de agosto de 2012

A Evolução é uma verdade científica? II

Dando seguimento ao texto anterior, existem vários exemplos de microevolução e de macroevolução a nível específico. Exemplos de bactérias, animais e plantas que se diferenciam em espécies naturalmente é o que não falta. Neste blog já foram exemplificados vários casos. E quanto aos humanos (género Homo)? Obviamente não podemos observar a evolução interespecífica das espécies do género Homo a partir de outras do mesmo género e de um ancestral comum. No entanto,  temos o registo fóssil - com algumas lacunas, cujo efeito é minimizado á luz das novas propostas evolutivas relativamente ao gradualismo e modifcações em larga escala. Num estudo entitulado "Evolution of hominin cranial ontogeny" - "Evolução da ontogenia craneana humana" - o que nos remete para aquele nome engraçado: 'Evo-Devo'. Este estudo, publicado em Janeiro de 2012 procurou encontrar um modelo explicativo da relação entre o bipedalismo, a evolução do tamanho do cérebro e a configuração craneana, baseado no desenvolvimento embriológico do crâneo humano - 3 mecanismos principais de reorganização evolutiva do desenvolvimento são propostas: desenvolvimento modificado  pré-natal da base do crânio e da face reflete adaptação ao bipedismo; altas taxas de crescimento neurocraniano durante início ontogenia pós-natal são essenciais para atingir cérebros de maiores dimensões;  modificação específica no taxon do desenvolvimento facial reflete adaptação na dieta uma tendência geral em direção a neotenia (é o nome dado à propriedade, em animais, de retenção, na idade adulta, de características típicas da sua forma jovem) no género Homo.
Entre espécies há fortes indícios de evolução interespecífica dentro do género Homo. Mas e a evolução e transição entre géneros? Temos o exemplo do Australopitecus sediba, que é provavelmente uma forma intermediária entre o género Australopitecus e o género Homo.

O género Homo teria surgido entre 2,5 milhões e 2 milhões de anos, a partir de alguma espécie de Australopithecus. Entre as características distintivas do género Homo estão alterações no maxilar e nos dentes, locomoção obrigatoriamente bípede e um crânio mais volumoso (com capacidade interna de 600 a 1.300 cm3 ou mais). A transição entre a linhagem de Australopithecus que deu origem ao género Homo e, dentro deste, à espécie H. sapiens pode ser caracterizada pela evolução dessas características e por mudanças no comportamento social e cultural.

Com base no exame de restos fósseis dos esqueletos de dois indivíduos, um adulto e uma criança, encontrados na África do Sul e com datação estimada entre 1,78 milhão e 1,95 milhão de anos, um grupo de pesquisa­dores descreveu e nomeou uma nova espécie de antropoide, o Australopithecus sediba. Os autores do artigo, publicado em abril na revista científica Science (v. 328, no 5.975, p. 195), pode-se destacar o facto dos restos fósseis indicam que a A. sediba tinha mais caracteres em comum com as primeiras linhagens do gênero Homo do que qualquer outra espécie de Australopithecus.

A nova espécie seria, portan­to, o ‘elo’ mais recente – ao me­nos entre as espécies conhecidas – na transição entre os australo­pitecíneos e o género Homo. Assim, A. sediba parece ser forte candidato a ocupar uma posi­ção-chave na árvore evolutiva dos antropoides, aplainando ainda mais o caminho que leva dos Australopithecus às primeiras linhagens do género Homo.

Também na árvore filogenética do cavalo, género equus, (das mais completas até hoje) se podem observar indícios da evolução de um género para o outro - géneros com 3 dedos, progressivamente mais curtos e redução gradual em número (de género para género).
Leituras adicionais:
http://www.ib.usp.br/evosite/lines/IAtransitional2.shtml;

A partir do género, não temos dados paleontológicos conclusivos. Temos formas com características intermédias (Tiktalik rosae; Archaeopterix litographica, entre outros), que indiciam que terá existido um ancestral comum entre estes, aves e répteis; temos dados comparativos da bioquímica e da genética entre proteínas, sequencias de DNA específicas e genomas inteiros, que apontam para ancestralidade comum (e consequentemente macro-evolução). Pode-se afirmar que a evolução natural é um facto cientifico até ao género.  A partir daí, há indícios de que ocorre, mas não há sequencias fósseis, exemplos na natureza ou mesmo dados bioquimicos suficientes para reconstituir, com detalhes e certezas mínimos, uma história evolutiva, sendo 'apenas' parte de uma teoria (se bem que as palavras teoria e apenas em ciencia não deveriam aparecer relacionadas. Assim, pode-se dizer que a evolução é uma verdade cientifica. Por todos estes motivos, afirmar em linguagem corrente que a evolução (de um modo geral) é um facto não está muito longe da verdade.  





A Evolução é uma Verdade Cientifica?


A microevolução refere-se mudanças entre individuos da mesma especie ao longo de gerações. A macroevolução refere-se a mudanças que originam diferentes classificações (em termos de espécie, género família,...). Em espécies com reprodução sexuada, o impedimento (natural) dos cruzamentos é um factor preponderante na diferenciação entre 2 espécies (pode ser por exemplo a desova em periodos de tempo diferentes, que se traduz em alterações genéticas). 
A microevolução é um facto que até a maioria dos criacionistas aceita.

Os modelo de Fisher, Wright e Haldane mostrou que os processos de selecção, mutação, deriva e migração (afastamento, isolamento) são suficientes para gerar microevolução.  

Que temos um ancestral comum com os chimpanzés, isso é bastante bem indiciado, e que repteis, aves, mamíferos e peixes têm um ancestral comum também, no entanto, daí até observarmos todo o processo desde o ancestral comum até 2012 ainda falta bastante, pois ver processos como esse á escala da vida é obviamente impossível. No entanto, estudos sobre a evolução bacteriana em laboratório já forma realizados, tendo-se concluido que estas de facto evoluiam, tendo porém as suas limitações, pois são seres simples comparados com os animais e reproduzem-se assexuadamente. Mas o processo de especiação por diferença de ciclo de desova é actualmente observado em populações de salmões (animais complexos e sexuados) que estão a atingir a diferenciação entre espécies. A microevolução ocorre, a especiação ocorre e há alguns indícios fósseis que apontam para uma transição entre géneros, inclusivamente a nível da evolução humana. Sabemos também que a selecção natural é um fenómeno que ocorre na natureza. Por isso (e por muitas outras razões) a evolução não é uma verdade absoluta, mas sim uma verdade cientifica - que, em linguagem corrente, não ficará muito longe da realidade se for expressa pela palavra facto.

Referências:

 





EVOLUTION OF TEMPORAL ISOLATION IN THE WILD: GENETIC DIVERGENCE IN TIMING OF MIGRATION AND BREEDING BY INTRODUCED
CHINOOK SALMON POPULATION

HOMAS P. QUINN,1,2 MARTIN J. UNWIN, et al -
Evolution, 54(4), 2000, pp. 1372–1385

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Resposta de P.Z. Myers a um Proponente do Design Inteligente

A seguinte citação é uma resposta online ás alegações de Geoffrey Simmons de que a complexidade irredutivel está presente em vários sistemas complexos e que por isso, estes não podem ter evoluido, sendo melhor explicada a sua origem através de design inteligente. Isso é claramente falso, pois já foi demonstrado que sistemas muito complexos podem evoluir a partir de percursores mais simples e, como diz na resposta, este argumento é insuficiente para demonstrar a acção de um designer - a complexidade pode ser gerada por mecanismos evolutivos: isso foi indiciado em vários casos, no entanto em nenhum caso que ocorra naturalmente foi indiciado que um ser vivo inteligente tenha criado outro ser vivo ou qualquer estrutura complexa presente num ser vivo. Aqui fica a resposta de Myers:
    
"I’ve read his (Geoffrey Simon's) books, and as usual, he resorts to the litany of complexity to make his case. He doesn’t stop to consider how all that complexity arose, just its existence is all he uses to claim justification for his claim of Intelligent Design creationism. That doesn’t fly, Dr Simmons. We have mechanisms that generate such complexity and refine noise into functionality that do not require intelligent intervention. Sure, single-celled zygotes develop into organisms with many trillions of cells. We can study that and find lovely developmental mechanisms behind it; we can watch mitoses occur; we can find the molecular interactions that lead to differentiation. Telling me that there are lots of cells there does not support your apparent contention that they all poofed into existence with the assistance of a meddling cosmic superbeing, either phylogenetically or ontogenetically."

Para ver a totalidade da resposta, deve-se aceder aqui:  http://scienceblogs.com/pharyngula/2008/02/07/can-your-respect-for-geoffrey/ 



 

As (Supostas) Mentiras Evolucionistas

É comum navegar na internet e encontrar título como "As mentiras evolucionistas". Ou "A imaginação dos evolucionistas". O pior é que a maioria das vezes as palavras 'imaginação' e 'mentiras' têm uma utilização incorrecta.

É mentira que partilhamos 98% do genoma com os chimpanzés? A resposta é não. Na realidade o valor de correspondencia entre ambas as porções codificantes do genoma variam na literatura entre 96 e 98%. No entanto, de acordo com os dados das regiões não codificantes, ao todo a semelhança é de cerca de 75%. Isto não constitui qualquer problema para a Teoria da Evolução - há vários outros indícios de ancestralidade comum e este valor não representa qualquer objecção em si pois apenas pode significar que divergimos mais do que pensávamos dos chimpanzés.

É mentira que as regiões não codificantes do DNA podem apresentar provas da teoria da evolução e que há porções sem função conhecida? Mais uma vez a resposta é não. Nem todas as porções desses 98% não codificantes têm função (pelo menos que se conheça). No entanto, as sequencias destes 98% têm sobretudo funções de regulação (por exemplo, locais de ligação de factores de transcrição). Muitas dessas sequencias modificaram-se pouco ao longo do tempo, havendo semelhanças entre várias espécies, o que fornece mais uma evidencia de ancestralidade comum. Isto não quer dizer que algumas das sequencias não codificantes cuja função é desconhecida (ou mesmo outras) não possam ter tido anteriormente outras funções (codificantes) e que não tenh evoluído, até porque o nível de divergecia entre nós e chimpanzés neste campo é acentuado - pode estar proximo do que seria o ancestral comum, mas divergir bastante do nosso, enquanto que o nosso se pode comparar mais ao do ancestral comum do que ao deste - é o mesmo que acontece com medidas imprecisas (imprecisão diferente de inexactidão).

Quando um evolucionista faz uma conjectura (que por vezes até pode vir a revelar-se errada), trata-se na opinião dos criacionistas de imaginação, mas o que é que estes apelidam então de conjectura? talvez a conclusão sem fundamentos de que deus existe seja o melhor exemplo de conjectura para os criacionistas, não se tratando de forma alguma de imaginação.

   
 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Fracasso da complexidade irredutível (Design Inteligente) II: The Wedge Document


Dando seguimento ao ultimo post, o que alguns cientistas alegam sobre o design inteligente é que a elaboração desta mesma hipótese teve motivações religiosas e não cientificas, pelo que não pode ser considerada imparcial. O problema é demonstrar que a mesma teve essa origem. Mesmo tendo ganho o caso Dover, no qual perante o tribunal esta foi considerada como tendo origem religiosa na defesa de pressupostos religiosos, na comunidade cientifica ainda persiste uma divergencia de opiniões - não apenas entre proponentes do D.I. e proponentes da Evolução. Não se pode 'provar' perante toda uma comunidade cientifica que assim é, mas cada um pode observar as evidencias existentes (aqui apresentadas) e e refletir sobre as mesmas. A teoria de que o Design Inteligente é uma espécie de 'cavalo de troia' (certamente muitos de nós já tivemos um computador infactado por um 'trojan') do criacionismo não é assim tão recente, tendo sido apresentada na obra 'Creationism's Trojan Horse' de Barbara Forrest e Paul R. Gross (2004). No entanto, continua sem existir um consenso, como anteriormente demonstrado, sobretudo pelo facto de não existir aparentemente uma obrigatoriedade de que o designer seja qualquer deus (Dawkins, 2007). No entanto, existe um pequeno 'espinho cravado na meia' dos proponentes do Design Inteligente: The Wedge Document. 
Estes documento foi redigido após a publicação da obra 'A Caixa Preta de Darwin' por M. J. Behe, que foi influenciada pela primeira obra de Michael Denton, agnóstico, sobre as supostas lacunas da teoria da evolução (obra esta que continha inúmeros erros cientificos óbvios e que mais tarde foi retratada pelo próprio autor) - 'Evolução: uma teoria em crise'.   No entanto, o documento afirma claramente que esta ideia desenvolveu-se a partir das críticas à teoria da evolução de Charles Darwin em 1991 por Phillip ]ohnson's. 
The Wedge Document é um documento intitulado de 'The Wedge Strategy - Center for the Renewal of Science & Culture', que foi posto a circular na internet em 2000.  O Discovery Institute (entidade responsável pela redação do documento) não desmentiu a autenticidade do conteúdo do documento que foi publicado online. O título é algo sugestivo. O termo 'estratégia', combinado com a expressão 'renovação da ciencia e da cultura é por si só bastante atreito a interpretações de que este se trata de um plano estratégico para efectuar mudanças significativas nos campos da ciencia e da cultura (através da ideia do D. I.). Pode-se mesmo conjecturar que ainda antes da publicação da primeira obra de M. Behe um plano semelhante a este estava traçado, portanto que a ideia do Design Iteligente foi algo premeditado: partiram do pressuposto em busca de provas e não formaram o pressuposto a partir das provas disponíveis. Apenas a partir do título podemos conjecturar que o design inteligente não seguiu o percurso normal de formulação de uma hipótese cientifica. No entanto, pelo título não podemos ligá-lo a motivações religiosas para essa premeditação. Mas continuando a ler o documento, encontramos uma introdução que começa do seguinte modo:  
"The proposition that human beings are created in the image of God is one of the bedrock principles on which Western civilization was built. Its influence can be detected in most, if not all, of the West's greatest achievements, including representative democracy, human rights, free enterprise, and progress in the arts and sciences.
Yet a little over a century ago, this cardinal idea came under wholesale attack by intellectuals drawing on the discoveries of modern science. Debunking the traditional conceptions of both God and man, thinkers such as Charles Darwin, Karl Marx, and Sigmund Freud portrayed humans not as moral and spiritual beings, but as animals or machines who inhabited a universe ruled by purely impersonal forces and whose behavior and very thoughts were dictated by the unbending forces of biology, chemistry, and environment. This materialistic conception of reality eventually infected virtually every area of our culture, from politics and economics to literature and art." - Afirma que a proposição de que os seres humanos são criados á imagem de deus é um dos fundamentos da sociedade ocidental, mas que esta ideia tem sido posta em causa por pensadores como charles Darwin, Karl Marx e Sigmund Freud, que retrataram os seres humanos como máquinas animais que habitam o universo regulado apenas por forças impessoais e não como seres morais e espirituais, infectando todas as áreas culturais. mas há mais: "Discovery Institute's Center for the Renewal of Science and Culture seeks nothing less than the overthrow of materialism and its cultural legacies. Bringing together leading scholars from the natural sciences and those from the humanities and social sciences, the Center explores how new developments in biology, physics and cognitive science raise serious doubts about scientific materialism and have re-opened the case for a broadly theistic understanding of nature". - O objectido é nada menos que derrubar o materialismo e os seus legados culturais, juntando  académicos de várias áreas de modo a reabrir a visão teísta da natureza. Contratar académicos para refazer a visão teísta da natureza? Parece que o pressuposto de uma interferencia divina estava bastante presente antes da fase da pesquisa.
 É esta uma das razões razão por que se pode afirmar que o surgimento da hipótese do Design Inteligente não teve motivações cientificas e sim religiosas. no entanto até agora pode-se depreender apenas subjectivamente de que se trata da hipótese do D.I. No entanto, este termo é mencionado várias vezes ao longo de uma porção do documento denominada 'Five year strategic plan summary' (plano estratégio a 5 anos), mais uma vez, bastabte sugestivo. Um plano mais 'resumido' (anteriormente, no próprio documento) das intenções foi o seguinte:




 
Phase I. Scientific Research, Writing & Publication
  • Individual Research Fellowship Program
  • Paleontology Research program (Dr. Paul Chien et al.)
  • Molecular Biology Research Program (Dr. Douglas Axe et al.)
Phase II. Publicity & Opinion-making
  • Book Publicity
  • Opinion-Maker Conferences
  • Apologetics Seminars
  • Teacher Training Program
  • Op-ed Fellow
  • PBS (or other TV) Co-production
  • Publicity Materials / Publications
Phase III. Cultural Confrontation & Renewal
  • Academic and Scientific Challenge Conferences
  • Potential Legal Action for Teacher Training
  • Research Fellowship Program: shift to social sciences and humanities

  O mais estranho é que o Dr. Paul Kwan Chien não é formado em paleontologia, ma sim em biologia (geral) e química.

Na porção do documento mencionada anteriormente, encontra-se a expressão: "Design theory promises to reverse the stifling dominance of the materialist worldview, and to replace it with a science consonant with Christian and theistic convictions""A teoria do Design promete reverter a dominancia da visão do mundo materialista e substitui-la por uma ciencia consonante com convicções cristãs e teístas". Aqui estão os factos... cada um deve tirar as suas próprias conclusões.

A minha conclusão é: o Design Inteligente é um 'cavalo de troia' e mais ainda que isso, um cavalo de troia da Igreja Católica -  a mais rica epoderosa religião cristã.

O conteudo do documento pode ser visto aqui: http://www.public.asu.edu/~jmlynch/idt/wedge.html


Evolução vs Design inteligente II: Evolução Natural de Estruturas Complexas

Na realidade, o que é o design inteligente? o que é que explica e o que é que não explica? A hipótese do Design Inteligente é a proposta baseada no argumento da complexidade irredutivel  de que certos sistemas são demasiado, irredutivelmente complexos para terem evoluido, isto é surgido naturalmente, tendo sido necessária a acção de um designer inteligente.
A Teoria da Evolução inclui alguns modelos explicativos do surgimento de certas estruturas referidas na 'Caixa Preta de Darwin'. Uma resposta a certas alegações específicas do autor relativamente a determinadas estruturas.

Como é que a hipótese do D. I. é definida pela National Academy of Science? Aqui está:

“(Os proponentes do D.I.) sustentam que o universo físico e os seres vivos mostram evidências de "design inteligente". Eles argumentam que certas estruturas biológicas são tão complexos que não poderiam ter evoluído por processos de mutação e seleção natural sem direção, uma condição que eles chamam de "complexidade irredutível". Repetindo argumentos teológicos que antecedem a teoria da evolução, eles argumentam que organismos biológicos devem ser concebidos da mesma forma que uma ratoeira ou um relógio - que, para que o dispositivo funcione corretamente, todos os seus componentes devem estar disponíveis simultaneamente. Se um componente está em falta ou alterado, o dispositivo não funciona corretamente. Porque mesmo esses "simples" estruturas biológicas como o flagelo de uma bactéria são tão complexas, que os defensores do design inteligente argumentam que a probabilidade de todos os seus componentes a serem produzidos e disponíveis simultaneamente através de processos aleatórios de mutação é infinitamente pequena. O aparecimento de estruturas biológicas mais complexas (tais como o olho do vertebrado) ou funções (tais como o sistema imunitário) é impossível por meio de processos naturais, de acordo com este ponto de vista, e assim, deve ser atribuído a um design transcendente inteligente.

Isto é o que afirma a hipótese do D.I.

Porque é que o argumento da complexidade irredutivel - o unico argumento a favor do Design Inteligente de entidades biológicas - é descartado por uma maioria da comunidade cientifica?

Aqui está uma resposta simplesmente resumida - também da National Academy of  Science:

“Os biólogos examinaram cada um dos sistemas moleculares que (Michael Behe) alegou serem os produtos de design e mostraram que estes poderiam ter surgido através de processos naturais. Por exemplo, no caso de o flagelo bacteriano, não existe uma estrutura única e uniforme, que é encontrado em todas as bactérias flagelares. Existem muitos tipos de flagelos, nalgumas espécies mais simples do que outros, e muitas das bactérias não possuem flagelos. Deste modo, outros componentes de membranas de células bacterianas são provavelmente os precursores das proteínas encontradas em vários flagelos. Além disso, algumas bactérias injetam toxinas noutras células através de proteínas que são secretadas pela bactéria e que são muito semelhantes na sua estrutura molecular ás proteínas em partes de flagelos (o caso de Y. Pestis). Esta semelhança indica uma origem evolutiva comum, em que as alterações na estrutura e na organização das proteínas secretoras podem servir como base para as proteínas flagelares. Assim, as proteínas flagelares não são irredutivelmente complexas.
Os biólogos evolucionistas também demonstraram como complexos mecanismos bioquímicos, tais como a coagulação do sangue ou o sistema imunitário dos mamíferos, podem ter evoluído a partir de sistemas mais simples, de precursores mais simples. No caso da coagulação do sangue, alguns dos componentes do sistema de mamíferos estão presentes em organismos anteriores, como demonstrado pelo organismos vivos de hoje (tais como peixes, répteis, pássaros e) que descendem de precursores destes mamíferos  (exemplo da descoberta do precursor do fibrinogénio (menos complexo, com funções menos complexas, mas claramente relacionado em ‘ancestralidade’ com este).
Os genes Hox são um excelente exemplo de evolução encontrar novos usos para os sistemas existentes. Os biólogos moleculares descobriram que um mecanismo particularmente importante através do qual os sistemas biológicos adquirem funções adicionais é a duplicação de genes. Segmentos de ADN são frequentemente duplicado quando as células se dividem, de modo que uma célula tem cópias múltiplas de um ou mais genes. Se estas várias cópias são transmitidas à descendência, uma cópia de um gene pode ter a função original numa célula, enquanto a outra cópia é capaz de acumular mudanças que acabam por resultar em uma nova função.
Os mecanismos bioquímicos responsáveis ​​por muitos processos celulares mostram clara evidência de duplicações históricas de regiões do DNA (actualmente sabe-se que regiões de controlo de expressão estão também envolvidos no aparecimento de estruturas complexas).
Além das suas falhas científicas (não existe nenhuma estrutura irredutivelmente complexa), estes argumentos criacionistas são falaciosos, pois são baseados numa falsa dicotomia (ou analogia). Mesmo se os seus argumentos negativos contra a evolução estivessem correctos, estes não apoiam reivindicações dos proponentes. Poderiam existir repostas alternativas. (Falácia do argumento da ignorância).


Grueninger D, Treiber N, et al (2008) realizaram um estudo -  'Designed protein-protein association' (Science, 2008), que demonstrou que o facto em que a obra ' O limite da evolução' se centra - que os locais de ligação proteína-proteína muito provavelmente foram desenhados, pois a possibilidade de terem surgido  naturalmente era muito reduzida - não é um facto: os autores do estudo conseguiram produzir esses locais de ligação em alguns casos com apenas uma mutação.

Neste artigo, também publicado na revista Science:
Carroll, Sean (2007-07-08). "Evolution: God as Genetic Engineer". Science 316 (5830): 1427–8. DOI:10.1126/science.1145104. http://www.sciencemag.org/cgi/content/full/316/5830/1427. Retrieved 2007-09-19, ficou também demonstrado que os locais de ligação proteína-proteína não podem ser designados de irredutivelmente complexos.

Não existe tal coisa como complexidade irredutivel nos organismos vivos.

Muitas das críticas e revisões da 2ª obra de Behe afirmaram que o livro não trazia nada de novo desde 'A caixa Preta de Darwin' digno de menção.

Os modelos evolutivos podem por vezes estar incompletos, no entanto, as evidencias mais uma vez estão a favor da evolução natural. Se o modelo evolutivo é incompleto, o modelo do D. I. é um 'vazio', pois este nada explica - não explica a origem e natureza do designer, não elabora modelos explicativos de como as estruturas em causa teriam sido concebidas e não apresenta evidencias de que o processo de projecção e cpncepção tenha ocorrido, mas sim um argumento ao mesmo tempo falso e falacioso denominado complexidade irredutivel.

Na melhor das hipóteses, o design inteligente é uma hipótese cientifica que surgiu na década de 1990 e que actualmente não é mais credível do que o lamarkismo ou a geração espontanea aristotélica (Dawkins, 2007). No entanto, muitos cientistas consideram que , nas palavras exactas de J. Coyne ao referir-se ao D. I., "Pode haver religião sem criacionismo, mas não pode haver criacionismo sem religião", ou seja, os motivos que levaram á elaboração de tal hipótese, para certos cientistas foram religiosos (Coyne, 2009).


Referencias:

Grueninger D, Treiber N, et al (2008). Designed protein-protein association. Science 319 (5860) 206–209

Carroll, Sean (2007-07-08). "Evolution: God as Genetic Engineer". Science 316 (5830): 1427–8.


M. J. Behe - 'Darwin's Black Box' (1996), Free Press (New York) 


Science, Evolution, and Creationism, National Academy of Sciences and Institute of Medicine. 2008 National Academy of Sciences (Disponível em: http://www.nationalacademies.org/evolution/IntelligentDesign.html)


Dawkins, Richard (July 1, 2007). "Inferior Design". New York Times.





quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Evolução vs Criação IV: Conceito de Homologia

Homologia é a semelhança detalhada da organização funcionalmente desnecessária, ou seja a semelhança é desnecessária. Existem vários níveis de homologia, além do morfológico: o genético, o embriológico e o bioquímico.O que pode ser homólogo num desses níveis não é obrigatoriamente homólogo noutro. A semelhança funcional é denominada homoplasia ou analogia. No caso da homologia, como a da proteína citocromo c de humanos e chimpanzés (que ironia! - a propósito das conclusões erradas de Michael Denton) não há nenhuma razão a priori porque cada organismo deve ter as mesmas sequências ou semelhantes, excepto devido á ancestralidade comum.

Para que duas estruturas morfológicas tenham uma confirmação de que são homólogas existem diferentes critérios e o mais antigo é o anatómico: verifica se as estruturas compartilham uma mesma posição, relativa às demais estruturas tais como nervos, vasos sanguíneos e ossos e as relações de funcionalidade. Biólogos mais antigos só dispunham do critério anatómico. É aí que entra a biologia do desenvolvimento na detecção de estruturas homólogas, seja através da embriologia, seja através da genética molecular.
Não é obrigatório saber os detalhes da ligação entre homologias e bioquímica, porque embora o mesmo DNA produza morfologia e a funções similares, o inverso não é verdadeiro. Análogamente, não há nenhuma razão suspeitar que os programas de computador similares estão escritos com código similar, baseado unicamente na função do programa.

Com os avanços dos estudos em genética molecular podemos ver mais claramente o que é homologia e o que não é. E é onde se torna necessário distinguir a homologia molecular (chamada ortologia) da homologia morfológica. Duas sequências de DNA podem ser ortólogas e isso sugere ancestralidade comum, mas isso não garante existência de estruturas homólogas. Quando há duas estruturas morfológicas homólogas (definidas pelo critério anatómico) e há sequências homólogas grandes de DNA que as codificam, elas são confiáveis como mecanismo de confirmação de homologias. Elas são menos confiáveis para sequências pequenas e estruturas mais simples. Entretanto, não existe uma correlação necessária entre homologia e ortologia. Durante a evolução, genes podem adquirir novos papéis em novas estruturas e até mudar de locus - casos onde a homologias estruturais foram preservadas por longo período de tempo, enquanto as homologias das sequências de DNA foram destruídas e vice versa. Isso ocorre porque há uma grande quantidade de DNA que nunca é transcrita, ou a sua transcrição não produz efeito no fenótipo. Em segundo lugar, existem genes reguladores que modificam mecanismos de desenvolvimento inteiros que produzem efeitos morfológicos dramáticos, o que também faz com que não exista uma correlação necessária entre ortologia molecular e homologias morfológicas. Em terceiro lugar, a mudança morfológica raramente envolve a evolução de proteínas e enzimas inteiramente novas, mas consiste de mudanças na organização espacial de tipos celulares que está em desenvolvimento, no tempo durante o qual o tecido e os tipos celulares e tecidos se diferenciam ou na forma geométrica dos órgãos.

De acordo com S. B. Carrol: “…there is adequate basis to conclude that the evolution of anatomy occurs primarily through changes in regulatory sequences.” – a duplicação (de genes não regulatórios) tem o seu papel na explicação da evolução a nível da genética molecular, sendo no entanto insuficiente para explicar a evolução anatómica, daí recorre-se ao estudo da evolução de sequencias reguladoras."

 De facto a teoria da evolução 'evoluiu' mesmo muito - apesar dos criacionistas continuarem a fundamentar os seus argumentos na refutação de pressupostos que não correspondem ao pensamento evolucionista contemporâneo.

Referencias:

Spieth, Philip T. (Associate Professor of Genetics, Universityof California, Berkeley) - Zygon, vol.22, no. 2 (June 1987) (Review: "Evolution — A Theory in Crisis").


Evolution – The Extended Synthesis, edited by Massimo Pigliucci & Gerd B. Muller, MIT Press (2010) (Parte I).


Citation: Carroll SB (2005) Evolution at Two Levels: On Genes and Form. PLoS Biol 3(7): e245.

'Evo-Devo' - Biologia Evolutiva do Desenvolvimento


A biologia do desenvolvimento permite gerar hipóteses sobre o crescimento evolutivo anatómico, por exemplo, do cérebro com base no seu crescimento embrionário. Como é possível identificar experimentalmente os genes envolvidos neste último fenómeno, supõe-se que os mesmos genes estivessem envolvidos naquele também.

Supõe-se que os mesmos genes (reguladores) estejam envolvidos no crescimento evolutivo e embrionário do cérebro. Estando a falar de regulação, é de salientar a importancia dos estudos epigenéticos, de modificações fenotípicas (Síntese Evolutiva Estendida).

O córtex cerebral, por exemplo, cresce bastante em superfície se compararmos diferentes espécies, mas praticamente não muda de espessura. O mesmo ocorre durante o desenvolvimento do embrião de cada espécie. Isso significa que o fator preponderante nesse crescimento deve ser a adição de novas colunas de neurônios que compõem o córtex.

Como essas colunas são geradas pela proliferação de neurônios em zonas germinativas especiais, na opinião de muitos investigadores é que animais com cérebros maiores surgiram de mutações que aumentavam o número de ciclos proliferativos das células precursoras, gerando mais colunas e portanto expandindo a superfície do córtex.

Alguns genes responsáveis poelo controlo do crescimento cerebral foram encontrados: CDK5RAP2, ASPM... Boa parte deles constitui uma família de genes associados a uma condição genética patológica em seres humanos: a microcefalia primária recessiva. Os individuos portadores dessa doença têm cérebros menores que os padrões normais (cerca de 30% menores), e apresentam sintomas neurológicos e psiquiátricos diversos. O que acontece é que os genes em questão sofrem mutações nesses pacientes, e o resultado é um crescimento insuficiente do cérebro durante a embriogénese.

Existe uma forte correlação negativa no lobo frontal de homens com variantes do gene CDK5RAP2. A correlação negativa significa que, quando as variantes do gene estavam presentes, o tamanho do cérebro, especialmente da região frontal, era menor. (Rimol e colaboradores, 2010).



Um estudo intitulado ‘Adaptive Evolution of Four Microcephaly Genes and the Evolution of Brain Size in Anthropoid Primates’, demonstra a ligação:



“(…)Analisámos a evolução molecular de quatro genes associados com microcefalia (ASPM, CDK5RAP2, CENPJ, MCPH1) em 21 espécies, representando todos os subtipos principais de primatas antropóides. Contrariamente à opinião prevalecente, a selecção positiva, não estava limitada a ou era intensificada ao longo da linhagem que leva aos humanos. Na verdade, mostramos que todos os quatro loci estavam sujeitos a seleção positiva em toda a filogenia antropóide primata. (…)

Apresentamos provas da implicação do CDK5RAP2 e ASPM na evolução do tamanho do cérebro dos primatas antropoides, um resultado que é consistente com um efeito dos dois loci na neurogénese através de orientação do fuso mitótico.
Apesar de mostrar que CENPJ MCPH1 têm sido objecto de selecção positiva, não encontramos evidências para vincular esses loci á evolução do tamanho do cérebro. Este estudo demonstra a importância da inclusão da influência fenotípica na filogenia (…)”



Referências:



‘Adaptive Evolution of Four Microcephaly Genes and the Evolution of Brain Size in Anthropoid Primates’, Stephen H. Montgomery, Isabella Capellini, Chris Venditti, Robert A. Barton, and

Nicholas I. Mundy - Mol. Biol. Evol. 28(1):625–638. 2011



Evolution – The Extended Synthesis, edited by Massimo Pigliucci & Gerd B. Muller, MIT Press (2010) (Parte I).

Uma Introdução á Síntese Evolutiva Estendida


“Não é necessário uma mudança radical na teoria, mas a prática da biologia evolutiva estendeu-se além dos conceitos clássicos” – daí o termo ‘Estendida’.



A obra ‘Evolução – uma Síntese estendida’ apresenta apenas um 1º olhar sobre a síntese estendida e não a síntese estendida, que está longe de ser completada. 



ELEMENTOS DA SÍNTESE MODERNA (SM)



*Genética de populações:



- Fisher (1918): Traços mendelianos são afectados por vários genes, produzindo 1 distribuição típica dos caracteres quantitativos (1)

- Dobzahnsky (1937): Um dos primeiros geneticistas a trabalhar com genética de populações, concluiu que existe mais variação em traços quantitativos do que se supunha – esta variação era – e é, o impulso/ a base para a selecção natural.



*O termo Síntese Moderna (m. q. Teoria Sintética da Evolução): foi introduzido por J. Huxley em 1942.



Novas contribuições foram ainda além destes dados empíricos, tal como por exemplo, o significado de espécie e especiação.



* Uma breve descrição da Teoria Sintética da Evolução:



“Todas as populações têm variabilidade genética sem ser adaptativamente dirigida, havendo a acção de mutações e recombinação. As populações evoluem através de alterações na frequência genética, de deriva genética, fluência genética e, sobretudo, selecção natural. Variantes adaptativas trazem ligeiras alterações fenotípicas, pelo que o processo é gradual. A diversificação dá-se através da especiação – evolução gradual do isolamento reprodutivo. Estes processos continuados no tempo dão origem ás designações taxonómicas.”



CONTESTAÇÃO DO DOGMA CENTRAL DA BIOLOGIA MOLECULAR



As descobertas de Watson e Crick de que o fluxo era unidireccional (DNA – RNA-proteina) tem sido contestado, visto que em alguns casos particulares se constatou o inverso (transcrição reversa em retrovirus), replicação directa de RNA em alguns vírus, na qual se destaca a acção da RNA Polimerase RNA-dependente (também presente em eucariotas) e transcrição directa DNA – proteína em laboratório. Tudo isto apoia a hipótese da evolução a partir de um primeiro replicador semelhante á molécula de RNA. (2).



PONTOS A SEREM REVISTOS



* Gradualismo: mudanças não graduais são propriedades de sistemas complexos.



* Evolução genómica, plasticidade fenotípica (3) e desenvolvimento epigenético (herança não genética) (4).



*  Externalismo (ênfase da selecção natural na SM): deve-se ter em conta os processo generativos (‘evo-devo’) e que propriedades orgânicas (intrínsecas) promovem determinadas modificações em detrimento de outras. Deve-se rever o peso explicativo da selecção natural relativamente ás propriedades próprias de fenótipos em evolução     



* Centrismo genético: deve-se considerar uma evolução menos centrada nos genes, multicausal (ex: ambiente, desenvolvimento, herança não genética – fixação progressiva de traços fenotípicos inicialmente mobilizados através de respostas plásticas de desenvolvimento adaptativo a mudanças nas condições ambientais. No entanto, a importância da herança genética está longe de ser posta de parte, apenas procura-se uma visão mais vasta e não tão unitária (geneticamente) da evolução.



NOTAS:



1) Caracteres quantitativos: são influenciados por vários genes e referem-se a quantidades.


2) Já foi produzida em laboratório uma molécula auto-replicadora semelhante ao RNA (http://allthatmattersmaddy32.blogspot.com/2012/08/origem-do-universo-e-da-vida-reflexoes.html)



3) Variação fenotípica é um pré-requisito fundamental para evolução por selecção natural. É o organismo como um todo que contribui para as gerações seguintes, ou seja, a selecção natural afecta a estrutura genética indirectamente através da contribuição dos fenótipos (fenótipo = factores ambientais + genótipo)

4) Desenvolvimento epigenético: modificações ao longo da divisão celular, mas que não advêm de alterações no DNA, importantes na diferenciação celular e relacionados com a regulação genética. O mecanismo mais conhecido é a metilação do DNA. Metil é um pequeno grupo químico que se liga em determinadas áreas da cadeia do DNA. Elas servem como uma espécie de chave que activa e desactiva os genes. Ao ligar e desligar os genes, esse grupo tem um profundo impacto sobre a forma e a função das células e organismos, sem alterar o DNA correspondente. Se o padrão normal destes é alterado - por um agente químico, por exemplo, ao qual o organismo tenha sido exposto - o novo padrão pode ser passado para as gerações futuras.



Referências:

Evolution – The Extended Synthesis, edited by Massimo Pigliucci & Gerd B. Muller, MIT Press (2010) (Parte I).

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Darwinismo Clássico vs Darwinismo Contemporâneo



A EVOLUÇÃO DA TEORIA DA EVOLUÇÂO:


No estudo intitulado ‘Darwinian Evolution Can Follow Only Very Few Mutational Paths to Fitter Proteins’, os autores concluíram que certos conjuntos de mutações eram seleccionadas pelo seu grande efeito conjunto fenotípico, este resultado é necessariamente uma consequência do facto de que algumas das mutações não aumentam a resistência a cefotaxima em todas as origens alélicas, o que corrobora uma visão contemporânea da Teoria Sintética da Evolução e não uma visão clássica.



Aqui fica uma visão geral do conteúdo do artigo publicado na revista ‘Science’ em Abril de 2006.


Cinco mutações pontuais num alelo β-lactamase conjuntamente provocam resistência bacteriana a um antibiótico clinicamente importante por um factor de ~ 100.000. Em princípio, a evolução para esta alta resistência pode seguir qualquer uma dos 120 trajetórias mutacionais. No entanto, demonstramos que 102 trajetórias são inacessíveis para a seleção darwinista e que muitas das trajetórias restantes têm probabilidades desprezíveis de realização, porque quatro desses cinco mutações só aumentam a resistência às drogas em algumas combinações. Uma pleiotropia (nome dado aos múltiplos efeitos de um gene - acontece quando um único gene controla diversas características do fenótipo que muitas vezes não estão relacionadas) biofísica Invasiva dentro da β-lactamase parece ser responsável, e porque essa pleiotropia parece ser uma propriedade geral de mutações missense, concluímos que a evolução de muitas proteínas é limitada. Isto implica que a fita de vida de uma proteína pode ser em grande parte reprodutível e mesmo previsível.


A resistência a β-lactâmicos (por exemplo, penicilina) é mediada pela β-lactamase, que os inactiva hidroliticamente. A resistência bacteriana a novos β-lactâmicos surge primeiro por mutações pontuais no gene β-lactamase (2, 3).


Porque pode, em princípio, ocorrer em qualquer ordem, existem 5! = 120 trajetórias mutacionais. No entanto, a seleção natural para a elevada resistência a cefotaxima não pode considerar todas as trajetórias de forma equivalente. Aqui, vamos determinar a prevalência com que estas mutações só aumentam condicionalmente a resistência às drogas, uma forma de interacção previamente designada epistasia (a ação de um gene é modificada por um ou diversos genes que se associam independentemente) sinal. A epistasia sinal é necessária e suficiente para uma ou mais trajetórias serem seletivamente inacessíveis.





Embora estas cinco mutações tenham sido escolhidas pelo seu grande efeito conjunto fenotípico, este resultado é necessariamente uma consequência do facto de que algumas das mutações não aumentam a resistência a cefotaxima em todas as origens alélicas.





O modelo mais simples assume que todas as mutações disponíveis benéficas se fixam com igual probabilidade. Uma imagem biologicamente mais realista assume que a probabilidade relativa de fixação de mutações benéficas é positivamente correlacionada com a magnitude do efeito.



Michael Behe, parece insistir nas falhas da perspectiva darwinista no seu estudo ‘Simulating evolution by gene duplication of protein features that require multiple amino acid residues’. No entanto, os resultados foram, de um modo geral os seguintes:



“The process we envision for the production of a multiresidue (MR) feature is illustrated in Figure 1, where a duplicate gene coding for a protein is represented as an array of squares that stand for nucleotide positions. A gene coding for a duplicate, redundant protein would contain many nucleotides. The majority of nonneutral point mutations to the gene will yield a null allele (again, by which we mean a gene coding for a nonfunctional protein) because most mutations that alter the amino acid sequence of a protein effectively eliminate function. However, if several point mutations accumulate at specific nucleotide positions in the gene coding for the protein before a null mutation occurs elsewhere in the gene, then several amino acid residues will have been altered and the new selectable MR feature will have been successfully built in the protein.”
 Na realidade, o que observamos no nosso genoma é que houve genes que perderam a sua função.
 
É conhecido que após a duplicação um gene pode passar por uma fase de desfuncionalização (em que pode ser silenciado) e refuncionalização. Estes processos podem ocorrer naturalmente, tanto as duplicações, como mutações potencialmente benéficas (ou conjuntos de mutações) - um estudo de 2012 sobre mutações benéficas no vírus H1N1, que é um fenómeno monitorzado que ocorre á escala da vida humana (tal como o fenómeno da resistencia aos antibióticos), relata o aparecimento de novas variantes do vírus a partir de mutações que conferem resistencia a anti-virais. Verificou-se também uma acumulação de mutações que em conjunto potenciam multi-resistência



É claro que isto remete para o facto de a evolução natural não estar em vias de ser descartada devido a esse estudo, nem o facto da duplicação contribuir para a evolução.    


Muitos anos antes destes estudos já do pensamento darwinista clássico, ainda ligado á síntese moderna (ou teoria sintética da evolução) emergiam algumas questões que foram salientadas por proponentes da evolução.



 
Em "Darwinismo: A refutação de um mito" (1987), Soren Lovtrup estabelece 2 pontos importantes para a controvérsia gerada pela visão evolutiva clássica: 1) o mecanismo proposto por Darwin foi rejeitado por seus contemporâneos e, posteriormente, rejuvenescido pela síntese pós-mendeliana, e 2) a teoria da micromutação adoptada por Darwin e pela biologia moderna é falível. Lovtrup pretendia mostrar que a teoria da macromutação está mais de acordo com os dados. (É de notar que Lovtrup não é anti-evolucionista)





Coloca-se ainda o problema do gradualismo. Citando a Dra. Lynn Margulis: "Não tenho encontrado nenhuma evidência de que transformações (evolutivas) possam ocorrer através de mudanças graduais." Esta citação não afirma que não há provas da ocorrência da evolução, mas sim que em algumas situações, os processos evolutivos podem não ser graduais.   




Em 1972, Stephen Jay Gould e o paleontólogo Niles Eldredge, do Museu Americano de História Natural, em Nova York, Estados Unidos, propuseram a hipótese do “equilíbrio pontuado” para resolver esse problema. 



Pesquisas recentes mostram que, em alguns casos, as espécies podem evoluir ainda mais rápido do que Gould e Eldredge imaginaram. Um estudo divulgado em Outubro do ano 2000 apresentou evidências de que uma espécie de salmão chegou quase ao isolamento reprodutivo em cerca de 60 anos. No entanto: “O gradualismo e o equilíbrio pontuado são casos extremos. A evolução acontece normalmente no meio do caminho entre os dois”, diz João Morgante, Professor Titular da USP.  


Tal como o gradualismo, a ideia de que os processos evolutivos naturais aumentam/produzem informação genética, melhorando deste modo o desempenho dos indivíduos também caiu em desuso entre os proponentes da evolução, devido ao facto de ter já sido constatado que por vezes reduções genómicas e informacionais têm vantagens evolutivas – por exemplo, em bactérias (http://allthatmattersmaddy32.blogspot.pt/2012/07/dissecando-as-evidencias-do-darwinismo-v.html), no ser humano, tendo sido uma questão abordada aquando da elaboração da Síntese Estendida da Evolução na reunião popularmente designada por ‘Altenberg 16’, que contou inclusivamente com a presença da Dra. Lynn Margulis





Voltando á controvérsia de que a evolução natural não é um facto testável: isso não é verdade.


A pesquisa realizada por Richard Lenski, da Michigan State University, com a Escherichia coli, em 1988 demonstra-o. Este separou 12 culturas idênticas dessa espécie e cultivou-as por mais de 11 anos, o que representou cerca de 24 000 gerações (em termos humanos, esse número equivaleria a cerca de 500 000 anos). Durante todo esse tempo, enfrentaram um ambiente com baixa quantidade de glicose, uma substância da qual se alimentam. Ao princípio, as populações evoluíram de forma semelhante e todas aumentaram quase duas vezes o tamanho do seu corpo. No entanto, após os primeiros milhares de gerações observou-se que o material genético dos grupos tinha sofrido alterações significativas relativamente ao dos seus precursores.


As diferenças comprovaram-se quando algumas bactérias foram transferidas para um ambiente diferente, em que o alimento era outro tipo de açúcar, a maltose: algumas populações conseguiram se desenvolver normalmente, enquanto outras apresentaram dificuldades.



 
O facto ‘evolução natural’ foi testado. Os mecanismos através dos quais ele ocorre necessitam (ou pelo menos necessitavam até há pouco tempo) de ser clarificados. Daí a reunião ‘Altenberg 16’.





Referencias:


 


Soren Lovtrup – ‘Darwinism: the refutation of a myth’, Springer, 1st edition (June 25, 1987)




Daniel M Weinreich, Nigel F. Delaney et al – ‘Darwinian Evolution can Follow Only Very Few Mutational Paths fo Fitter Proteins’,Science, Vol 312, Nº5770,2006,p.111-114


 


‘Superinteresante’ (Agosto 2001) – ‘O que há de errado com Darwin?’, por Rafael Kenski


 


M. J. Behe e David W. Snoke - ‘Simulating evolution by gene duplication of protein


features that require multiple amino acid residues’, Protein Science (2004), 13:2651–2664, vol. 13




Jerry A. Coyne - Why Evolution is true?, Oxford University Press, 1ª Edição: 2009, Oxford










PLoS One. 2012;7(8):e37095. Epub 2012 Aug 24 - I223R Mutation in Influenza A(H1N1)pdm09 Neuraminidase Confers Reduced Susceptibility to Oseltamivir and Zanamivir and Enhanced Resistance with H275Y, Legoff J, Rousset D, Abou-Jaoudé G, Scemla A, Ribaud P, Mercier-Delarue S, Caro V, Enouf V, Simon F, Molina JM, van der Werf S.







domingo, 12 de agosto de 2012

Evolução vs Criação: qual dos 2 está certo?


EVOLUÇÃO, e como um criacionista a entende:

Há algumas centenas de anos atrás, no interior de uma floresta, uma macaca entra em trabalho de parto.


Namorado Macaco: Vais conseguir, querida.

Com um gutural grito de macaco, ela dá a luz.

Doutor Macaco:
É uma nova espécie!


Namorado Macaco: Vamos chamar-lhe humano!

Um velho peixe aparece e dá uma palmada nas costas do macaco.

Peixe Velho:
Estou muito orgulhoso, filho.


Namorado Macaco: Obrigado, pai.


Anos depois, o garoto humano é encurralado por monstros provenientes de mutações aleatórias

Garoto Humano: Merda, é hora da evolução!

O garoto então desenvolve o poder de atirar lasers pelos olhos, e também um par de asas, escapando assim, do perigo.


CRIACIONISMO, e como ele deve ser entendido:

Um senhor barbudo, com longos cabelos grisalhos e um roupão branco aparece do nada.

Deus: Sininho, acende as luzes!!!

Depois da sininho espalhar o seu pó, o Glorioso puxa uma velha varinha mágica e agita-a.

Deus: Expecto existentia!

As pessoas e o resto das coisas são criadas.

Adão: Espera aí, o que são essas coisas?

Adão mostra ossos gigantes ao Glorioso Benfica - Ups! eu queria dizer ao Glorioso Deus.

Deus: Ah, isso? Há milhões de anos atrás, uma raça de animais grotescamente gigantes, e parecidos com dragões, vagavam pela Terra. Todos morreram devido a uma extinção em massa causada por um meteoro. Na verdade, isso pode acontecer contigo também.

Adão: A sério?!

Deus:
Mentira, tava só a gozar. Coloquei esses ossos na brincadeira só. Agora começa a escrever a Bíblia. Já estamos em 4000 a.C., não temos tempo a perder.

Adão: O que significa ‘a.C.’?

Deus: Ah, vais descobrir eventualmente



EVOLUÇÂO vs CRIAÇÂO: os 2 lados da família



Joãozinho pergunta ao seu pai:


-Pai, de onde é que nós viemos?


Ele, com toda a pureza e simplicidade de quem se dirige a uma criança, responde:


-Há muito tempo existiam grandes grupos de macacos. Ao longo das eras, enquanto iam tendo filhos, eles foram evoluindo. Perdendo os pêlos, ficando mais espertos… até se tornarem seres humanos.


Parcialmente satisfeito e procurando uma segunda opinião, o garoto repete a pergunta  à sua mãe


-Mãe, de onde é que nós viemos?


E ela didaticamente responde:


-Há muito tempo Deus criou só Adão e Eva. Eles foram tendo filhos, e os filhos deles foram tendo filhos, e os filhos deles foram tendo filhos, até existir muita gente, como hoje em dia!


E o garoto, confuso:


-Mas mãe, o pai disse que as pessoas vieram dos macacos!


-Ah, é que eu falei da minha parte da família, ele falou da dele

Conclusão:

Joãozinho = incestuosos + macacos