quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Complexidade Especificada: Epic Fail


O meu primo tem 14 anos e o que ele mais gosta de ver no youtube são os epic fails de todo o mundo. Eu por outro lado, o que mais gosto de observar nos argumentos criacionistas são todos os seus… epic fails! Seguindo o epic fail da complexidade irredutível, os criacionistas apoiados na hipótese do design inteligente inventaram o argumento da complexidade especificada. Na realidade não é necessário ser cientista nem estudante de ciências (que é o meu caso) para compreender que é mais um epic fail criacionista.

William Dembski (filósofo e matemático) é um dos principais proponentes do design inteligente. Este promoveu a hipótese do D.I. nas suas obras. Em ‘The Design Inference’ este afirma que existem 3 tipos de fenómenos essenciais na natureza: regular, aleatório e projectado. Este cenário não corresponde á realidade. Deixando de lado o projectado, não existem apenas as 2 outras opções. Caos e teoria da complexidade têm demonstrado a existência de fenómenos de auto-organização (Kauffman, S.A. (1993) The origins of order. Oxford University Press, New York; Shanks, N. and Joplin, K.H. (1999) Redundant complexity: a critical analysis of intelligent design in biochemistry. Philosophy of Science 66:268-282), situações em que a ordem espontânea emerge de interacções complexas entre partes de 1 sistema – certos fenómenos meteorológicos como furacões não são regulares (não dependem de leis), mas são resultados de fenómenos de auto-organização. Tanto um furacão como a galáxia M51 são exemplos da emergência natural da complexidade através deste tipo de fenómenos. Então, a natureza é capaz de auto-organização e de gerar complexidade. .

Dembski propôs o argumento da complexidade especificada a favor da hipótese do design inteligente. Com a sua obra ‘No Free Lunch’ pretendia demonstrar, aplicando os teoremas NFL, a inabilidade dos algoritmos evolutivos em seleccionar ou gerar configurações de grande complexidade especificada, pelo que seria necessário uma intervenção inteligente. Na realidade, segundo Mark Perakh na obra ‘Unintelligent Design’, não se pode refutar a teoria da evolução que se enquadra no âmbito da ciência experimental através da matemática ignorando todas as evidências experimentais e empíricas.


Quando o autor calcula a probabilidade de ‘busca’ de uma proteína específica este não pode aplicar essa fórmula de cálculo, pois a evolução não é uma ‘busca’ direccionada, é um processo cego com várias buscas, pelo que a probabilidade seria aumentada em muitas ordens. Portanto, os cálculos de Dembski são irrelevantes para a Teoria da Evolução. O trabalho de Dembski tem recebido críticas relativas ao facto destes cálculos serem despropositados relativamente ao processo ‘evolução’, inclusivamente por um dos colaboradores na elaboração dos teoremas NFL, como é o caso de David Wolpert. Se este trabalho fosse submetido a revisão de pares nunca passaria, não por incorrecções matemáticas, mas pela irrelevância das propostas para a Teoria da Evolução. 


Já foi demonstrado que a natureza pode originar complexidade, mas será que pode produzir códigos (informação especificada)? A resposta é: sim, pode. O exemplo mais óbvio de um código é o código genético. Um código é uma correspondência específica entre elementos. Existe afinidade directa entre segmentos de RNA e certos aminoácidos (em péptidos). A zona de ligação corresponde aos codões específicos desse aminoácido – deste modo pode-se verificar a correspondência específica entre os elementos – um código que se forma espontaneamente na natureza.         

Algo que se pode afirmar complexo e específico pode ser gerado naturalmente através da adição de sequencias: tem-se uma pequena sequência codificante, á qual por processos de auto-organização natural (em certas condições a polimerização de nucleótidos é possível) podem ser adicionadas outras sequencias sucessivamente.

Deste modo pode obter-se complexidade (longas sequencias) especificada (codificantes).  Classificar como impossível a emergência natural da complexidade especificada é realmente incorrecto. Afirmar que é difícil de acontecer seria correcto, mas isso seria o que uma versão imparcial de Dembski faria.

 

O autor afirma não ser criacionista:

“Face a esta consideração do criacionismo, eu sou um criacionista? Não. Eu não considero o Génesis como um texto científico. Não tenho interesse teológico na idade da Terra ou o do universo. Considero os argumentos dos geólogos persuasivos quando eles argumentam que a terra é de 4,5 bilhões de anos de idade. Além do mais, eu acho os argumentos dos astrofísicos persuasivos quando eles argumentam em favor de um universo que é de aproximadamente 14 bilhões de anos. Eu acredito que eles acertaram. Mesmo assim, eu me recuso a ser dogmático aqui. Eu estou disposto a ouvir argumentos contrários. No entanto, até agora eu não encontrei nenhum dos argumentos para uma Terra jovem ou uma universo jovem convincente. A natureza, tanto quanto me interesessa, tem uma integridade que lhe permite ser compreendida sem o recurso a textos reveladores. Dito isto, acredito que a natureza aponta para além dela própria para uma realidade transcendente, e que essa realidade é, simultaneamente, refletida num idioma diferente, pelas Escrituras do Antigo e Novo Testamentos."

Na realidade, a associação com as escrituras bíblicas foi mesmo o toque final para que essa aparência despretensiosa entrasse em colapso – William Dembski não só é criacionista como é cristão (baptista) praticante, o que, face aos seus argumentos vazios e cálculos matemáticos descontextualizados propostos em defesa de uma ideia indefensável, não é de espantar.

A NASA pode conduzir as pesquisas que lhe aprover, os cientistas podem até vir a destrinçar a evolução do código genético a partir da afinidade directa, mas uma coisa é certa: o criacionismo vai sempre existir. A experiencia permite inferi-lo: uma vez que as ciências experimentais não conferiram credibilidade a esta doutrina religiosa (antes pelo contrário), tentaram sem sucesso a matemática. Contudo, apesar do epic fail do criacionismo, o Discovery Institute continua com a sua crise existencial sobre a ciência materialista, digna de uma criança de 8 anos a quem acabaram de dizer que o Pai Natal não existe. A única diferença é que quando se diz a uma criança que o Pai Natal ou o Coelhinho da Páscoa não existem a ‘birra’ normalmente não dura mais que um dia ou 2… neste caso a ‘birra’ já dura há mais de 150 anos.

http://www.talkreason.org/articles/newmath.cfm.

Sem comentários:

Enviar um comentário