O meu primo tem 14 anos e o que ele mais gosta de ver no
youtube são os epic fails de todo o mundo. Eu por outro lado, o que mais gosto
de observar nos argumentos criacionistas são todos os seus… epic fails!
Seguindo o epic fail da complexidade irredutível, os criacionistas apoiados na
hipótese do design inteligente inventaram o argumento da complexidade
especificada. Na realidade não é necessário ser cientista nem estudante de
ciências (que é o meu caso) para compreender que é mais um epic fail
criacionista.
William
Dembski (filósofo e matemático) é um dos principais proponentes do design
inteligente. Este promoveu a hipótese do D.I. nas suas obras. Em ‘The Design
Inference’ este afirma que existem 3 tipos de fenómenos essenciais na natureza:
regular, aleatório e projectado. Este cenário não corresponde á realidade.
Deixando de lado o projectado, não existem apenas as 2 outras opções. Caos e
teoria da complexidade têm demonstrado a existência de fenómenos de auto-organização
(Kauffman, S.A. (1993) The origins of order. Oxford
University Press, New York; Shanks, N. and Joplin, K.H. (1999) Redundant
complexity: a critical analysis of intelligent design in biochemistry. Philosophy of Science 66:268-282),
situações em que a ordem espontânea emerge de interacções complexas entre
partes de 1 sistema – certos fenómenos meteorológicos como furacões não são
regulares (não dependem de leis), mas são resultados de fenómenos de
auto-organização. Tanto um furacão como a galáxia M51 são exemplos da
emergência natural da complexidade através deste tipo de fenómenos. Então, a
natureza é capaz de auto-organização e de gerar complexidade. .
Dembski propôs o argumento da complexidade especificada a favor da hipótese do design inteligente. Com a sua obra ‘No Free Lunch’ pretendia demonstrar, aplicando os teoremas NFL, a inabilidade dos algoritmos evolutivos em seleccionar ou gerar configurações de grande complexidade especificada, pelo que seria necessário uma intervenção inteligente. Na realidade, segundo Mark Perakh na obra ‘Unintelligent Design’, não se pode refutar a teoria da evolução que se enquadra no âmbito da ciência experimental através da matemática ignorando todas as evidências experimentais e empíricas.
Quando o autor calcula a probabilidade de ‘busca’
de uma proteína específica este não pode aplicar essa fórmula de cálculo, pois
a evolução não é uma ‘busca’ direccionada, é um processo cego com várias
buscas, pelo que a probabilidade seria aumentada em muitas ordens. Portanto, os
cálculos de Dembski são irrelevantes para a Teoria da Evolução. O trabalho de
Dembski tem recebido críticas relativas ao facto destes cálculos serem
despropositados relativamente ao processo ‘evolução’, inclusivamente por um dos
colaboradores na elaboração dos teoremas NFL, como é o caso de David Wolpert.
Se este trabalho fosse submetido a revisão de pares nunca passaria, não por
incorrecções matemáticas, mas pela irrelevância das propostas para a Teoria da
Evolução.
Já foi demonstrado que a natureza pode originar
complexidade, mas será que pode produzir códigos (informação especificada)? A
resposta é: sim, pode. O exemplo mais óbvio de um código é o código genético.
Um código é uma correspondência específica entre elementos. Existe afinidade
directa entre segmentos de RNA e certos aminoácidos (em péptidos). A zona de
ligação corresponde aos codões específicos desse aminoácido – deste modo pode-se
verificar a correspondência específica entre os elementos – um código que se
forma espontaneamente na natureza.
Algo que se pode afirmar complexo e específico pode ser
gerado naturalmente através da adição de sequencias: tem-se uma pequena
sequência codificante, á qual por processos de auto-organização natural (em
certas condições a polimerização de nucleótidos é possível) podem ser
adicionadas outras sequencias sucessivamente.
Deste modo pode obter-se complexidade (longas sequencias)
especificada (codificantes). Classificar
como impossível a emergência natural da complexidade especificada é realmente
incorrecto. Afirmar que é difícil de acontecer seria correcto, mas isso seria o
que uma versão imparcial de Dembski faria.
O autor afirma não ser criacionista:
“Face a esta consideração do criacionismo, eu sou um
criacionista? Não. Eu não considero o Génesis como um texto científico. Não
tenho interesse teológico na idade da Terra ou o do universo. Considero os
argumentos dos geólogos persuasivos quando eles argumentam que a terra é de 4,5
bilhões de anos de idade. Além do mais, eu acho os argumentos dos astrofísicos
persuasivos quando eles argumentam em favor de um universo que é de
aproximadamente 14 bilhões de anos. Eu acredito que eles acertaram. Mesmo
assim, eu me recuso a ser dogmático aqui. Eu estou disposto a ouvir argumentos
contrários. No entanto, até agora eu não encontrei nenhum dos argumentos para
uma Terra jovem ou uma universo jovem convincente. A natureza, tanto quanto me
interesessa, tem uma integridade que lhe permite ser compreendida sem o recurso
a textos reveladores. Dito isto, acredito que a natureza aponta para além dela
própria para uma realidade transcendente, e que essa realidade é,
simultaneamente, refletida num idioma diferente, pelas Escrituras do Antigo e
Novo Testamentos."
Na realidade, a associação com as escrituras bíblicas foi
mesmo o toque final para que essa aparência despretensiosa entrasse em colapso
– William Dembski não só é criacionista como é cristão (baptista) praticante, o
que, face aos seus argumentos vazios e cálculos matemáticos descontextualizados
propostos em defesa de uma ideia indefensável, não é de espantar.
A NASA pode conduzir as pesquisas que lhe aprover, os
cientistas podem até vir a destrinçar a evolução do código genético a partir da
afinidade directa, mas uma coisa é certa: o criacionismo vai sempre existir. A
experiencia permite inferi-lo: uma vez que as ciências experimentais não
conferiram credibilidade a esta doutrina religiosa (antes pelo contrário),
tentaram sem sucesso a matemática. Contudo, apesar do epic fail do criacionismo,
o Discovery Institute continua com a sua crise existencial sobre a ciência
materialista, digna de uma criança de 8 anos a quem acabaram de dizer que o Pai
Natal não existe. A única diferença é que quando se diz a uma criança que o Pai
Natal ou o Coelhinho da Páscoa não existem a ‘birra’ normalmente não dura mais
que um dia ou 2… neste caso a ‘birra’ já dura há mais de 150 anos.
http://www.talkreason.org/articles/newmath.cfm.
http://www.talkreason.org/articles/newmath.cfm.
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