Dois investigadores, Ratcliff e Travisano, cultivaram fungo unicelular (levedura) Saccharomyces cerevisiae num meio de cultura rico em nutrientes, em tubos de ensaio, permitindo que as células lá crescessem por um dia, para centrifugarem os tubos estratificando o seu conteúdo pela densidade. Assim, quando a mistura se acomodava, grupos de células precipitavam-se no fundo dos tubos de forma mais rápida do que células individuais, por serem mais pesados, sendo então, esses agregados, removidos e, transferidos para novos tubos com novo meio de cultura, onde cresciam novamente. Este procedimento foi repetido por dezenas de ciclos. Entre as principais observações, descritas no artigo da revista científica PNAS, estão:
A
evolução rápida de genótipos de agregação que exibem uma história de vida
multicelular particular, por sua vez, caracterizada pela reprodução, através da
liberação de propágulos multicelulares, além de uma fase juvenil, envolvendo um
crescimento determinado, isto é, até atingir dimensões críticas.
Ao
analisarem esses agregados de células, os investigadores puderam constatar que
não se tratavam apenas de grupos de células, mas eram de fato células aparentadas
que permaneceram agrupadas após a divisão celular. Em teoria, a formação desses
agregados poderia dar-se tanto por agregação de células diferentes, como por
não separação de 'células filhas. A nova forma de vida para a qual estes
agregados evoluíram tornou-se ela própria passiva de selecção, mostrando também
uma mudança no nível de selecção natural em que os alvos passam das células
individuais para os agregados multicelulares.
Em
resposta à selecção para a sedimentação ainda mais rápida, o fenótipo de floco
das leveduras modificou-se aumentando a duração da fase juvenil, que precede a
produção de propágulos multicelulares, mantendo-se mais pesados por mais tempo.
A própria divisão do trabalho é um exemplo dessa mudança do nível da selecção
já que resultou numa maioria de células permanecendo viáveis e reproduzindo-se,
enquanto, uma minoria de células tornaram-se apoptóticas. Os agregados de
leveduras produziam um maior número de propágulos a partir de um determinado
número de células. Este tipo de diferenciação, segundo os pesquisadores, é a funcionalmente
análoga a distinção entre germe e soma, na qual certas células se especializam
na reprodução, os gametas, e outras em funções não-reprodutiva, isto é, todo o
resto.
Ratcliff
comunicou ao jornal Science Daily:
"Um agregado por si só não
é multicelular. Mas quando as células em um agregado cooperam, fazendo
sacrifícios para o bem comum, e se adaptar às mudanças, isso é uma transição
evolutiva para a multicelularidade."
“Para que organismos
multicelulares se formem, algumas células precisam de sacrificar a sua
capacidade de se reproduzirem, uma acção
que favorece o todo, mas não o indivíduo”
Como é
explicado no artigo do Science Daily:
"Por exemplo, todas as células no corpo humano são
essencialmente um sistema de apoio que permite que espermatozóides e óvulos
passem DNA à próxima geração. Assim, a multicelularidade é por natureza
extremamente cooperativa. Alguns dos melhores competidores na natureza são
aqueles que se envolvem em cooperação”
Travisano afirmou:
"O cancro foi recentemente
descrito como um fóssil da origem da multicelularidade, que pode ser
investigado directamente com o sistema de leveduras.”
Na natureza são observadas
colónias, como as algas Volvox, - um género
de algas verdes coloniais que pertencem à divisão Chlorophyta. É uma colónia
esférica em que existem mais de 500
a 50 mil células biflageladas que, unindo-se por
filamentos citoplasmáticos e bainhas gelatinosas, constituem uma esfera oca. Os
flagelos das células da camada externa imprimem à colónia um movimento
coordenado em volta do seu eixo. As células maiores da colónia têm função
reprodutora.
É claro que o que foi reproduzido por estes investigadores
está ainda longe de atingir este nível de organização, sendo ilustrativo de um
estádio mais primitivo do desenvolvimento da multicelularidade.
Referencias::
Referencias::
Ratcliff, William C., Denison ,
R. Ford, Borrello, Mark and Travisano, Michael Experimental evolution of multicellularity. Proceedings of the National
Academy of Sciences,
January 17, 2012 DOI: 10.1073/pnas.1115323109
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