quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Evolução natural do Flagelo bacteriano


CARACTERÌSTICAS DO FLAGELO BACTERIANO E INFERENCIA DA EVOLUÇÂO NATURAL:

As unidades funcionais do flagelo bacteriano são constituídas por módulos.

O filamento flagelar da S. typhimurium é formado por incorporação repetitiva de muitas subunidades de uma só proteína (FliC ou FljB), sendo que o mesmo se aplica a outras estruturas da secreção tipo III (flagelares e não flagelares), incluindo estruturas côncavas e em anel.

As proteínas flagelares formam espontaneamente filamentos em solução na ausência do resto da estrutura – são capazes de se montarem naturalmente. Semelhantemente, um componente da agulha na salmonela (PrgH) pode auto-polimerizar-se numa estrutura tetramerica (um possível intermediário evolutivo). PrgH e outro componente da agulha, PrgK, pode, na ausência de outros componentes tipo III, oligomerizar numa estrutura em anel idêntica em forma e tamanho á base do complexo – as estruturas bioquimicas são capazes de se auto-organizarem naturalmente e os genes capazes de regular essa organização. Um tipo de organização que confira vantagem é seleccionado e o fundo genético ou epigenético associado pode ser perpetuado.


O motor proteico é constituído pelo sator e pelo rotor. O sator é constituído por múltiplas cópias de 2 proteínas (Mat A e B) que se mantêm numa estrutura associada á membrana interna ancorada a um peptidoglicano. O rotor consiste em múltiplas cópias da FliG, que em conjunto com mais 2 proteínas formam o anel em C. Estas proteínas têm homólogos fora do flagelo. É sugerida a ancestralidade comum entre a FliG (proteína do complexo rotatório) e a proteína MgtE de Y. Pestis (bomba iónica transmembranar), pela semelhança sequencial e no ‘fold’. Possivelmente estas proteínas derivam de uma proteína estrutural de membrana mais simples. A evolução a partir de um ancestral funcional e o facto de existirem sistemas com semelhanças relativas ao flagelo, mas cujas estruturas não se encontram todas presentes e ainda assim desempenham outra função descarta o conceito de complexidade irredutível, pois segundo o Dr. Michael Behe uma estrutura irredutivelmente complexa não pode por definição ter sido originada a partir de um ancestral funcional passível de ser seleccionado naturalmente.

Em certos sistemas existe mais do que um flagelo e as análises sequenciais forneceram evidências de ancestralidade comum. O mesmo se aplica a proteínas flagelares e á família de proteínas associadas ao gancho, bem como a uma série de proteínas da base do gancho e do filamento.

Para o flagelo evoluir, modificações no genoma seriam necessárias. Algumas delas podem ser detectadas observando a estrutura das próprias proteínas e da sua organização. As comparações sequenciais evidenciam que as proteínas anteriormente referidas teriam sido originadas por duplicações -  as proteínas são cópias umas das outras com algumas modificações.  Sucessivas duplicações e evolução divergente explica o aparecimento da sub-estrutura axial e de componentes não axiais, tais como o domínio SpoA partilhado por FliM e FliN. Os processos de duplicação ocorrem naturalmente, bem como mutações e conjuntos de mutações vantajosos.

Processos de auto-organização como os que originam sistemas complexos a partir de elementos simples (como a formação de furacões) são constantemente observados na natureza. A evolução natural é a explicação que está de acordo com os dados obtidos por observação. Eu diria que o flagelo bacteriano é uma dor de cabeça para os criacionistas, pois um dos seus argumentos preferidos – a complexidade irredutível, fica neste caso posto de parte. As alegações de Michael Behe de que as evidências de ancestralidade comum não são contrarias á ideia de design inteligente não estão erradas. No entanto, se a complexidade irredutível não é aplicável para indiciar o design inteligente, os criacionistas estão a ficar sem argumentos.   


Referencias:

Bacterial Flagella and Type III Secretion: Case Studies in the Evolution of Complexity, Pallen, M.J. (Bir mingham); Gophna, U . (Tel-Aviv) - Volff J-N (ed): Gene and Protein Evolution. Genome Dyn. Basel, Karger, 2007, vol 3, pp 30–47

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