domingo, 7 de outubro de 2012

Informação Especificada & DNA: Epic Fail Criacionista


Noutro dia deparei-me com um texto num blog, escrito por um professor universitário e investigador, que expressa claramente o que eu tenho pretendido expressar, mas sem sucesso, relativamente ás alegações de Dembski e Meyer de que de facto existe uma mensagem (inteligentemente concebida) no DNA. Aqui está:


Um gene, uma pequena parte de uma molécula de ADN, interage com outras moléculas desencadeando reacções químicas que, eventualmente, fazem com que os olhos sejam azuis. Se o gene fosse diferente os olhos seriam castanhos. Um grão de areia é atraído pela Terra, colide com outros grãos de areia e passa por um buraco da peneira. Se o grão fosse maior teria ficado na peneira.

Dizer que o gene tem a função de dar cor azul aos olhos é como dizer que o grão de areia tem a função de passar pela peneira. É errado.


Quando se diz que há um código genético, que um gene tem uma função e que as asas servem para voar estamos a usar um truque cognitivo para perceber alguns aspectos sem considerar detalhes. Mas os criacionistas levam o truque à letra e deduzem que há mesmo uma mensagem escrita no ADN.


(Daniel) Dennet chama design stance a esta atitude de ver algo como concebido para um propósito mesmo que não o seja.”


Os textos deste blog são atractivos por vezes devido ao seu tom humorístico, como empregue neste excerto:


Os criacionistas não afirmam isto, mas deduz-se dos seus argumentos. A probabilidade de uma mosca, por acaso, ficar com as asas certas no sitio certo é muito reduzida. A probabilidade de isso acontecer a biliões de moscas ao mesmo tempo é virtualmente nula. Por isso, segundo a lógica criacionista, tem que haver um Criador com muita paciência e tempo livre a colar cada par de asinhas.


(Quando dei por mim estava a rir-me sozinha…)


Este texto está disponível em:




Noutro texto o autor afirma:


“Por mim, continuo a insistir que é errado ver o ADN como uma linguagem, ou programas de computador, ou planos de montagem, ou qualquer coisa que sugira inteligência. O ADN é uma molécula que reage com outras moléculas. Tem tanto de inteligente como a água ou o ovo cozido.”


Para Dembski existe algo de sobrenatural na origem das nossas moléculas. É ridículo.


«A complexidade especificada aparece sempre na forma de informação especificada». É a afirmação de William Dembski. A especificidade faz sentido ocorrer em sistemas que dependem das propriedades químicas da matéria – Um codão é específico de um aminoácido (sendo as 2 primeiras bases mais específicas do que a ultima) e já era assim antes da existência de maquinaria celular sofisticada, através de afinidade directa – se é prático chamar a isso um código, óptimo.

  

Um gene modera a formação de proteínas e os genes que têm vantagem para o organismo através da sua interacção com outros genes e através do ‘comportamento’ das proteínas são naturalmente seleccionados – isto é a acção das ‘leis’ da química, cujos resultados são filtrados pela selecção natural. Informação especificada é apenas uma designação que atribuímos à propriedade de moderação do DNA sobre as outras moléculas.


Na sua obra ‘No Free Lunch’, Dembski efectuou alguns cálculos relativos ás probabilidades da ocorrência natural de determinada proteína.


Os cálculos de Dembski foram efectuados através de um algoritmo de busca, o qual não se aplica á Teoria da evolução, pois todo o processo evolutivo é ‘cego’ e multidireccional, não constituindo uma ‘busca’ por um determinado elemento.

Além disso, Dembski desprezou a acção da selecção natural (componente não aleatória).    


Estes cálculos em nada ‘prejudicaram’ a Teoria da Evolução nem qualquer teoria sobre a origem da vida.


Com a arrogância típica de um criacionista, Dembski afirmou ser capaz de derrubar matematicamente a Teoria da Evolução.

Na realidade, segundo Mark Perakh na obra ‘Unintelligent Design’ não se pode refutar a teoria da evolução que se enquadra no âmbito da ciência experimental através da matemática ignorando todas as evidências experimentais e empíricas.


Quando o autor calcula a probabilidade de ‘busca’de uma proteína específica este não pode aplicar essa fórmula de cálculo, pois a evolução não é uma ‘busca’ direccionada, é um processo cego com várias buscas, pelo que a probabilidade seria aumentada em muitas ordens. Portanto, os cálculos de Dembski são irrelevantes para a Teoria da Evolução. O trabalho de Dembski tem recebido críticas relativas ao facto destes cálculos serem despropositados relativamente ao processo ‘evolução’, inclusivamente por um dos colaboradores na elaboração dos teoremas NFL, como é o caso de David Wolpert. Se este trabalho fosse submetido a revisão de pares nunca passaria, não por incorrecções matemáticas, mas pela irrelevância das propostas para a Teoria da Evolução.


Dembski afirma não ser criacionista:

“Face a esta consideração do criacionismo, eu sou um criacionista? Não. Eu não considero o Génesis como um texto científico. Não tenho interesse teológico na idade da Terra ou o do universo. Considero os argumentos dos geólogos persuasivos quando eles argumentam que a terra é de 4,5 bilhões de anos de idade. Além do mais, eu acho os argumentos dos astrofísicos persuasivos quando eles argumentam em favor de um universo que é de aproximadamente 14 biliões de anos. Eu acredito que eles acertaram. Mesmo assim, eu me recuso a ser dogmático aqui. Eu estou disposto a ouvir argumentos contrários. No entanto, até agora eu não encontrei nenhum dos argumentos para uma Terra jovem ou uma universo jovem convincente. A natureza, tanto quanto me interesessa, tem uma integridade que lhe permite ser compreendida sem o recurso a textos reveladores. Dito isto, acredito que a natureza aponta para além dela própria para uma realidade transcendente, e que essa realidade é, simultaneamente, refletida num idioma diferente, pelas Escrituras do Antigo e Novo Testamentos."



Na realidade, a associação com as escrituras bíblicas foi mesmo o toque final para que essa aparência despretensiosa entrasse em colapso – William Dembski não só é criacionista como é cristão (baptista) praticante, o que, face aos seus argumentos vazios e cálculos matemáticos descontextualizados propostos em defesa de uma ideia indefensável, não é de espantar.

Esta situação é digna dos ‘epic fails’ que o meu primo de 14 anos tanto gosta de ver no youtube. 

Mas os argumentos criacionistas não mudam: sempre a mesma treta dos códigos e da informação que já foi refutada. São moléculas a reagir com moléculas...

 

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